Os glicocorticoides são hormônios produzidos no córtex da suprarrenal e estão divididos em ação mineralocorticoide, glicocorticoide e mista, sendo o primeiro participante do equilíbrio osmorregulador e o segundo controlador do metabolismo de proteínas e lipídeos, podendo os dois ser de origem natural ou sintética.
Afecções dermatológicas (com o uso tópico), asma, doenças linfoproliferativas, crise addissoniana, inflamações oculares, HIV, doenças colagenosas, síndrome da angústia respiratória (pré- -parto), manutenção cardiovascular, imunossupressão intencional, artrite reumatoide, distúrbios neuromusculares (paralisia facial, polirradiculopatias), trauma raquimedular, doença de Crohn, entre outras
As complicações geradas pelo uso de corticoides podem ocorrer no uso prolongado e em doses imunossupressoras (mais frequentemente), assim como em doses altas e curtas, porém por repetidas vezes. Os efeitos sobre os vários sistemas (cardiovascular, ósseo, metabólico) dependem não apenas das doses, mas também das individualidades de cada paciente (idade, sexo, doenças concomitantes) e a concentração dos receptores e sua responsividade nos diversos tecidos-alvo. É importante analisar também o uso de outros medicamentos que interferem no citocromo P450, como cetoconazol e eritromicina (levando a um aumento de sua ação) e os anticonvulsivantes e rifampicina (que, ao contrário, diminuem sua ação). Antiácidos e inibidores de Bomba de prótons podem causar diminuição de sua absorção.
3.1.1. Efeitos sobre o metabolismo da glicose: sabidamente hiperglicemiantes através de aumento da gliconeogênese hepática e da resposta ao glucagon. 3.1.2. Efeitos sobre o metabolismo lipídico: estímulo à lipólise com liberação de ácidos graxos livres e glicerol. Porém há maior deposição de gordura corporal por aumento do apetite e pela hiperinsulinemia supracitada. Há também elevação de LDL, VLDL e triglicérides. Todos esses efeitos em conjunto aceleram o processo aterogênico e justificam a obesidade centrípeta típica da síndrome de Cushing. Isso é comprovado pela elevada mortalidade cardiovascular, cerca de quatro a seis vezes maior em pacientes com síndrome de Cushing endógena. Infelizmente, nesses casos, mesmo após 5 anos de remissão do hipercortisolismo, o risco permanece elevado por manutenção de algumas características aterogênica.
Aumento de potássio e retenção de sódio (efeitos mineralocorticoides da aldosternona), além dos efeitos na produção do peptídeo atrial natriurético e no fluxo glomerular renal por vasodilatação das arteríolas aferentes.
3.3.1. Alteração no metabolismo do cálcio: ocorre redução de sua absorção por diminuição das proteínas ligadoras, além de aumento de sua excreção urinária. A consequente hipocalcemia gerada estimula a secreção de PTH, levando ao hiperparatireoidismo secundário. 3.3.2. Remodelação óssea: os glicocorticoides estimulam a função dos osteoclastos, o que, associado ao hiperparatireoidismo secundário, leva à redução de formação óssea de cerca de 30% em cada turnover ósseo. Esses efeitos são mais evidentes em pacientes que fazem uso de doses de prednisona superiores a 7,5 mg/dia por três ou mais meses consecutivos. Dessa forma, a osteoporose pode atingir até 40% dos pacientes submetidos a tratamento com corticoide por longos períodos. Os grupos mais suscetíveis a perda de massa óssea são as crianças, adolescentes e mulheres em menopausa
Maior sensibilidade a substâncias vasoativas (como catecolaminas e angiotensina II) e redução de vasodilatadores como o óxido nítrico, resultando em aumento da pressão arterial, além de retenção de sódio e água por ação mineralocorticoide.
3.5.1. Tuberculose - POr seu efeito imunossupressor, as reações de hipersensibilidade tardia são prejudicadas, levando ao comprometimento da interpretação do teste tuberculínico (PPD).
A supressão ocorre por excesso de hormônios circulantes (prednisona acima de 5 mg/dia por cerca de 21 dias ou mais), levando a sinalização hipofisária-hipotalâmica como feedback negativo. Dessa forma, caso ocorra a suspensão abrupta, pode ocorrer insuficiência adrenal secundária com sintomas típicos, como náuseas, astenia, hipotensão, hipoglicemia e choque refratário a reposição de fluídos. A suspensão sempre deverá ser feita de forma gradual com redução de cerca de 10 a 20% da dose a cada 7 ou 14 dias.
É ocasionado pelo uso crônico de doses altas e excessivas e manifesta-se por: redistribuição lipídica (obesidade visceral), edema, distúrbios hidroeletrolíticos, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, imunossupressão indesejada, calciúria, osteoporose, osteopenia, raquitismo (em crianças), hiperparatireoidismo secundário, degradação de massa muscular, sintomas gastrointestinais, distúrbios do humor e psiquismo, inibição de fibroblastos e hipersensibilidade, além de que o uso ocular pode levar a glaucoma e/ou catarata.
Deve-se investigar o histórico pessoal e familiar de diabetes, hipertensão, hiperlipidemia, glaucoma, tuberculose e doenças que cursam com imunossupressão ou infecções sistêmicas. Deve-se realizar anamnese e exame físico para afastar infecções e avaliar pressão arterial e peso do paciente, glicemia de jejum, colesterol e triglicerídeos. Também é necessário realizar uma avaliação oftalmológica, PPD, raio-x de tórax, hemograma, eletrólitos e densitometria óssea. Essas avaliações devem sempre ser realizadas quando for almejada uma realização de tratamento prolongado, pois diminui possíveis atos e prejuízos que poderão ser evidenciados, sejam de origem das reações adversas ou iatrogênicas.
É recomendada avaliação oftalmológica antes do início do tratamento e posteriormente a cada 6 meses a fim de detectar precocemente glaucoma e catarata. Deve-se questionar o paciente se há poliúria, polidipsia, dor abdominal, febre, distúrbios do sono e efeitos psicológicos, além de avaliar curvas de crescimento em crianças a cada três meses, dosar eletrólitos, glicemia, colesterol, triglicerídeos e fazer pesquisa de sangue oculto nas fezes após um mês de tratamento e depois a cada três a seis meses. Densitometria óssea deve ser considerada em pacientes de alto risco no início do tratamento e, se necessário, repetir o exame a cada 12 meses.