Livros

Manual de Clínica Médica

Leia o Livro Completo
Índice
4.13

HIV/AIDS

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) passou a ser reconhecida no início da década de 1980 nos EUA, com a identificação de casos de infecção por Pneumocystis jiroveci e sarcoma de Kaposi, em homossexuais previamente hígidos. Posteriormente, começou a ser reconhecida entre usuários de drogas intravenosas e em pacientes submetidos à hemotransfusão. No Brasil, o primeiro caso identificado foi em 1980. Em 1984, obteve-se o isolamento do vírus HIV. A terapia antirretroviral (TARV) teve início em 1987, com a utilização da Zidovudina (AZT). Atualmente, existem diferentes classes de antirretrovirais, com mecanismos de ação distintos, responsáveis pelo controle efetivo da replicação viral.

ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA E HIV/AIDS

O HIV-1 e HIV-2 são tipos distintos do vírus. O HIV-1 é subdividido em 4 grupos: grupo M (do inglês, major ou majoritário), grupo N (do inglês, new ou non-M, non-O, ou novo, não-M, não-O), grupo O (do inglês, outlier), o mais divergente dentre os grupos, e ainda o grupo P. A maioria das infecções ocorre com HIV-1 do grupo M, o qual é diferenciado em subtipos (A, B, C, D, F, G, H, J e K).

QUADRO CLÍNICO DE HIV/AIDS

O curso clínico da infecção pelo HIV é dividido em quatro fases clínicas: infecção aguda, fase assintomática ou fase de latência, fase sintomática inicial ou precoce e AIDS/SIDA.

QUADRO CLÍNICO DE HIV/AIDS - Infecção aguda

A infecção aguda, também chamada de síndrome retroviral aguda, ocorre em cerca de 50 a 90% dos pacientes, logo após o contágio. O diagnóstico nessa fase é difícil, sendo, em sua maioria, retrospectivo. Essa fase é caracterizada por viremia elevada, intensa resposta imune celular e depleção rápida de linfócitos TCD4 + . Ocorre ainda o aumento de células TCD8 + devido à resposta T citotóxica potente, observada antes do surgimento de anticorpos neutralizantes. A síndrome retroviral aguda ocorre entre a primeira e terceira semana após a exposição. O quadro clínico é inespecífico e ocorre em decorrência do pico de viremia, variando desde um quadro gripal até uma síndrome mononucleose-símile, apresentando manifestações, como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso, ulcerações mucocutâneas, hiporexia, adinamia, cefaleia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos.

QUADRO CLÍNICO DE HIV/AIDS - Fase assintomática

Essa fase corresponde ao período de latência viral, caracterizada pela ausência de manifestações clínicas, em decorrência da atuação de resposta imune celular e humoral, mediada por anticorpos específicos. Alguns pacientes podem apresentar linfadenopatia generalizada persistente e indolor.

QUADRO CLÍNICO DE HIV/AIDS - Fase sintomática inicial

Essa fase é caracterizada por manifestações sistêmicas inespecíficas, constitucionais, resultantes de imunodeficiência, como sudorese noturna, fadiga progressiva, emagrecimento, anorexia, diarreia, sinusopatias, febre, cefaleia, candidíase oral e vaginal (mais comum infecção fúngica em pacientes portadores do HIV), queilite angular, leucoplasia pilosa oral (espessamento epitelial benigno causado provavelmente pelo vírus Epstein-Barr), gengivite, úlceras aftosas, herpes simples recorrente (HSV-1 e HSV-2), Herpes Zoster, trombocitopenia, púrpura trombocitopênica imune e doenças oportunistas de origem infecciosa ou neoplásica

QUADRO CLÍNICO DE HIV/AIDS - AIDS

É o estágio mais avançado da infecção pelo HIV, caracterizado por imunodepressão grave (TCD4 + < 200 células/mm3 ) e maior risco de doenças oportunistas (doenças definidoras de AIDS). Em indivíduos não tratados, o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença (AIDS) é em torno de 10 anos.

DIAGNÓSTICO DE HIV/AIDS

O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV pode ser realizado através de testes sorológicos (triagem e confirmatório), que detectam a presença de anticorpos anti-HIV específicos no soro, testes rápidos e testes moleculares pela técnica de PCR (reação em cadeia da polimerase), que detecta o RNA viral.

TRATAMENTO DE HIV/AIDS

A instituição da terapia antirretroviral (TARV) tem como objetivo diminuir a morbidade e mortalidade, melhorando a qualidade e a expectativa de vida das pessoas que vivem com HIV/ AIDS (PVHA). Sabe-se que, mesmo em indivíduos assintomáticos com contagens elevadas de LT- -CD4 + , a replicação viral e a ativação imune crônica são associadas ao surgimento de doenças não relacionadas à infecção pelo HIV, tais como eventos cardiovasculares e neoplasias. Além disso, pessoas com reconstituição imune, em uso de TARV, que mantêm contagens de LT-CD4 + acima de 500 células/mm3 e carga viral indetectável, atingem expectativa de vida semelhante à da população geral. O início precoce da TARV eleva as chances de se alcançar níveis elevados de LT-CD4 + , além de promover redução significativa da morbimortalidade e da transmissão do HIV.

Classes de antirretrovirais

Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos e nucleotídeos (ITRN/ITRNt); Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos (ITRNN); Inibidores da protease reforçados com ritonavir (IP/r); Inibidores da integrase; Inibidores de entrada;

MONITORAMENTO DE HIV/AIDS

O monitoramento laboratorial da infecção pelo HIV é feito através da contagem de LT-CD4 + e da carga viral (CV), biomarcadores importantes para avaliar resposta terapêutica, falha, indicação de imunizações e necessidade de profilaxias para infecções oportunistas.

CONCLUSÕES SOBRE HIV/AIDS

Trata-se de uma infecção crônica, sistêmica, de evolução insidiosa, com amplo espectro de apresentações clínicas, desde a fase aguda até a fase avançada (AIDS). A infecção pelo HIV desencadeia resposta inflamatória crônica e persistente, predispondo a complicações, como doenças cardiovasculares, renais e neoplasias.

CASO CLÍNICO DE HIV/AIDS

Paciente, sexo masculino, 45 anos, branco, casado, previamente hígido, comparece ao posto de saúde relatando emagrecimento de aproximadamente 15 kg e adinamia intensa com início há quatro meses. Refere ainda hiporexia e febre esporádica. Nega doenças pré-existentes, uso de medicamentos, alergias e uso de drogas ilícitas. Refere tabagismo e etilismo. Relata prática de relações heterossexuais com várias parceiras sem o uso de preservativos.

Compartilhe com seus amigos: