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Manual de Clínica Médica

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4.5

LEISHMANIOSE VISCERAL

A leishmaniose representa um conjunto de doenças causadas por protozoários flagelados do gênero Leishmania. Primariamente, é considerada uma zoonose, que pode acometer o ser humano quando esse participa do ciclo de transmissão do parasito, transformando a doença em uma antropozoonose. Apresenta-se sobre amplo espectro de manifestações clínicas, que incluem as formas cutânea localizada, cutânea disseminada, cutânea difusa, mucocutânea e leishmaniose visceral (LV), resultante da disseminação da infecção para órgãos como baço, fígado e medula óssea.

AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO DE VIDA

A Leishmaniose Visceral é causada por protozoários tripanossomatídeos do gênero Leishmania. Na Ásia e África Ocidental a espécie circulante é a Leishmania (Leishmania) donovani; já na Europa, Norte da África e América Latina a Leishmania (Leishmania) infantum é a espécie causadora de LV. O agente etiológico é um parasita intracelular obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear. A forma flagelada ou promastigota é encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra forma aflagelada ou amastigota está presente nos tecidos dos vertebrados.

QUADRO CLÍNICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

As infecções podem ser inaparentes (assintomáticas), nas quais não há evidência de manifestações clínicas, todavia, essas podem ser discretas gerando um quadro oligossintomático ou até mesmo clássico, quando há sintomas bem característicos da doença. Levando em consideração a evolução clínica da Leishmaniose Visceral, a doença clássica é dividida em período inicial, período de estado e período final.

Período de inicial do CASO CLÍNICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Corresponde à fase aguda. Esse período caracteriza o início da sintomatologia, que é variável em cada paciente. Na maioria dos casos, inclui febre com duração inferior a quatro semanas, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. Os exames sorológicos são reativos. O aspirado de medula óssea evidencia forma amastigota do parasito. Hemograma pode revelar anemia, com hemoglobina acima de 9 g/dL. Em área endêmica, alguns indivíduos, normalmente crianças, podem apresentar a forma oligossintomática, com sintomas discretos, de curta duração, com evolução para cura espontânea. A forma oligossintomática é caracterizada por febre, hepatomegalia, hiperglobulinemia e velocidade de hemossedimentação aumentada. O aspirado de medula pode ou não mostrar a presença de Leishmania.

Período de esado DO CASO CLÍNICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

O paciente apresenta febre irregular associada a emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. O quadro clínico é arrastado com mais de dois meses de evolução e está associado a comprometimento do estado geral

Período final DO CASO CLÍNICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Nos casos em que o diagnóstico não é realizado e o tratamento não é instituído precocemente, a doença evolui progressivamente para o período final. O paciente apresenta-se com febre contínua e com o estado geral comprometido mais intensamente. Além disso, a desnutrição é marcada por cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca, ocorre, ainda, edema dos membros inferiores que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite.

DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL

O diagnóstico é clínico-epidemiológico e laboratorial. Porém, quando não for possível realizar o diagnóstico laboratorial, o início do tratamento é baseado nos achados clínico-epidemiológicos. O método sorológico mais utilizado atualmente é o teste rápido, através da detecção de anticorpos contra o antígeno rK39. A vantagem em se realizar o diagnóstico por meio de teste rápido ocorre pela facilidade na execução e rapidez nos resultados, pois não necessita de profissional e nem laboratório altamente qualificados e os resultados são obtidos em minutos. Previamente, os mais empregados foram o ELISA e a imunofluorescência indireta (IFI), sendo que na IFI são positivos os títulos a partir da diluição 1:80.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Malária, brucelose, febre tifoide, esquistossomose hepatoesplênica, linfoma, mieloma múltiplo, anemia falciforme, leucemia, dengue, paracoccidioidomicosis, histoplasmose disseminada, dentre outras causas de febre de origem indeterminada.

TRATAMENTO LEISHMANIOSE VISCERAL

As classes de drogas utilizadas para o tratamento da LV no Brasil são: Antimonial pentavalente, Anfotericina B desoxicolato e formulações lipídicas, como a Anfotericina B lipossomal. As diferenças observadas na eficácia do tratamento dependem de fatores como: área geográfica de infecção, desenvolvimento de resistência aos medicamentos, coinfecção LV-HIV, desnutrição.

Antimonial Pentavalente (GLUCANTIME®)

Ao utilizar esse medicamento, o paciente deve fazer acompanhamento clínico e exames complementares para a detecção de possíveis manifestações de intoxicação, por meio de: hemograma, ureia, creatinina, TGO/TGP, eletrocardiograma.

Anfotericina B Lipossomal

É indicada em indivíduos com idade acima de 50 anos, LV grave, insuficiência renal, cardíaca ou hepática, arritmias, doença de Chagas, DM, transplantados, gestantes, coinfecção Leishmania- -HIV e refratariedade ao uso do Antimonial pentavalente.

CRITÉRIOS DE CURA DA LEISHMANIOSE

Os critérios de cura são essencialmente clínicos. O desaparecimento precoce da febre ocorre até o 5o dia de medicação e a redução da hepatoesplenomegalia, durante as primeiras semanas. No fim do tratamento, o baço apresenta redução de 40% ou mais, em relação à medida inicial, e os parâmetros hematológicos (hemoglobina e leucócitos) melhoram a partir da segunda semana. A inversão albumina/globulina na eletroforese de proteínas pode levar meses para se normalizar. O ganho ponderal do paciente é decorrente do retorno do apetite e melhora do estado geral.

MEDIDAS PREVENTIVAS DA LEISHMANIOSE

Uso de repelentes, mosquiteiros de malha fina, evitar exposição nos horários de atividade do vetor (crepúsculo e noite), saneamento ambiental, limpeza urbana, eliminação de resíduos sólidos orgânicos e destino adequado dos mesmos, eliminação de fonte de umidade e controle da população canina errante.

CASO CLÍNICO DE LEISHMANIOSE

Paciente, 20 anos de idade, sexo feminino, negra, natural e procedente de Porteirinha-MG, reside em área urbana da cidade. Deu entrada no setor de emergência do hospital apresentando febre de 39ºC persistente há um mês, sem outras queixas. Ao exame: paciente em regular estado geral, prostrada, hipocorada 3 + /4, hidratada. Sinais vitais: Fr: 28 irpm, Fc: 136 bpm, Tax: 38,3ºC. Abdome globoso, ruídos hidroaéreos positivos, indolor à palpação superficial e profunda, à palpação macicez difusa, esplenomegalia à 8 cm do rebordo costal esquerdo, sem sinal de irritação peritoneal, hepatomegalia à 6 cm do rebordo costal direito.

Prescrição

• Dieta oral livre. • Medicação Leishmanicida (opções): • Glucantime: 20 mg/Sb + 5/kg/dia por via endovenosa ou intramuscular, uma vez ao dia, durante 30 dias. (Paciente 70 kg: 3 ampolas de Glucantime + SF 0,9% 100 mL, correr EV em 30 minutos).

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