As exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados representam um sério risco aos profissionais em seus locais de trabalho. Os acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos correspondem às exposições mais frequentemente relatadas. Os ferimentos com agulhas e material perfurocortante são potencialmente capazes de transmitir mais de 20 tipos de patógenos diferentes, sendo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), da hepatite B (HBV) e da hepatite C (HCV), os agentes infecciosos com maior risco de transmissão.
As vias de transmissão podem ser direta e indireta: • Direta: transmissão do agente biológico sem a intermediação de veículos ou vetores (transmissão aérea por bioaerossóis, transmissão por gotículas e contato com a mucosa conjuntival). • Indireta: transmissão do agente biológico por meio de veículos ou vetores (transmissão por meio de mãos, perfurocortantes, luvas, roupas, instrumentos, vetores, água, alimentos e superfícies).
Após o acidente ocupacional com material biológico, o paciente-fonte com situação sorológica desconhecida deve ser rapidamente testado para o vírus HIV (através do teste rápido), depois de obtido o seu consentimento e para HBV e HCV. Na impossibilidade de se obter as sorologias do paciente-fonte ou este é desconhecido, recomenda-se a avaliação do risco de infecção pelo HIV, considerando o tipo de exposição, a gravidade do acidente e dados clínicos e epidemiológicos.
Ações imediatas recomendadas após exposição a material potencialmente contaminado: • Cuidados com o ferimento imediatamente após o acidente: lave com água ou solução salina abundante. Faça a desinfecção usando água, sabão e álcool a 70%. Se for em mucosas não usar álcool. • Comunicar ao departamento responsável por acidentes ocupacionais. • Coleta de sangue do acidentado para pesquisa de HBV, HCV e HIV. Realizar acompanhamento sorológico após 1 e 3 meses.
A conduta depende da imunidade do acidentado ao HBV (imunidade conferida por vacinação ou infecção prévia). • Imunidade completa • Imunidade parcial ou negativa
Não há profilaxia pós-exposição ao HCV. Recomenda-se seguimento laboratorial por 12 meses e a sorologia (Anti-HCV) deve ser realizada após 3, 6, 9 e 12 meses do acidente. No caso de infecção aguda pelo HCV, o tratamento indicado contempla a combinação de interferon alfa peguilado, com ou sem Ribavirina, independentemente do genótipo. Não há benefício profilático com o uso de imunoglobulinas
O risco de transmissão após exposição a material contaminado depende do tipo de material biológico, tipo de exposição (percutânea, membranas mucosas, pele não íntegra, mordedura com presença de sangue), gravidade do acidente e quantidade de vírus no material. A profilaxia está indicada somente quando o paciente-fonte for soropositivo (teste rápido reagente). Caso o paciente- -fonte seja desconhecido, recomenda-se avaliação individualizada do risco de infecção, considerando alguns fatores como tipo de exposição, gravidade do acidente e dados epidemiológicos locais.
O atendimento após a exposição ao HIV é uma urgência médica. A PEP é constituída pela combinação de antirretrovirais profiláticos, devendo ser iniciada o mais precocemente possível, preferencialmente nas primeiras 2 horas, até no máximo 72 horas após a exposição, garantindo assim, a eficácia da profilaxia.
Paciente, 36 anos, sexo feminino, parda, casada, profissional técnica de enfermagem, com esquema vacinal completo para Hepatite B (1 série de 3 doses) e pesquisa de anticorpos anti-HBs menor que 10 mLU/mL, refere acidente com material perfuro-cortante durante o trabalho, há 1 hora. Relata presença de amostra sanguínea do paciente-fonte no material. Os dados sorológicos do paciente-fonte eram HBsAg e Anti-HBC IgG reagentes.
Imunoglobulina hiperimune 0,06 mL/kg por via IM, nas primeiras 24 a 48 horas (peso 75 kg: aplicar 4,5 mL IM).