A erisipela é uma patologia infecciosa frequente na prática clínica, com uma incidência estimada de 10 a 100 casos por 100.000 habitantes/ano. Observa-se um predomínio dos membros inferiores (85%), sendo a localização facial menos comum (10%). O sexo feminino é o mais atingido e afeta sobretudo os adultos entre os 40 e 60 anos. O quadro clínico é caracterizado por uma reação inflamatória da derme superior.
Streptococcus pyogenes (Streptococcus do grupo A) é uma das causas bacterianas mais importantes de infecções da erisipela e celulite, sendo um dos principais responsáveis por outras infecções de tecidos moles com diversas entidades clínicas. O Staphylococcus aureus é um agente secundário na celulite mais comum naqueles casos oriundos de outras afecções de pele (furúnculo, carbúnculo ou abcesso), nas celulites periorbitarias e nos casos após lesões cirúrgicas ou perfurocortantes por corpos estranhos. Na ausência de achados epidemiológicos, a diferenciação de celulite estafi locócica e estreptocócica pode estar comprometida, visto as características clínicas semelhantes.
Classicamente, o quadro clínico de erisipela caracteriza-se por um início súbito, com febre (38,5-40ºC) e calafrios seguidos, em 12-24 horas, pelo aparecimento de placa eritematosa (vermelha viva) superficial, edematosa, quente e dolorosa, de limites bem definidos e geralmente localizada a um membro inferior. Pode-se manifestar também com mal-estar, náuseas ou vômitos. Há proeminente envolvimento linfático e as lesões são cor salmão vermelho-brilhante. Por vezes, ocorre com formação de bolhas e, nos casos de acometimento facial, os olhos são frequentemente edemaciados.
É essencialmente clínico, principalmente para a diferenciação de cada uma. A presença de leucocitose neutrofílica (geralmente entre 13.000-15.000 leucócitos) pode estar presente em ambos os casos. As hemoculturas geralmente não são úteis, visto sua positividade em apenas 5% dos casos. A aspiração com agulha da borda e a biópsia com punch e congelação é somente positiva em cerca de 20% dos casos.
São variados e incluem: fasciite necrotizante; osteomielite; bursite; miosite; trombose venosa profunda; síndrome compartimental; dermatite de contato; carcinomas inflamatórios; herpes zoster e urticária
Na erisipela, o tratamento de escolha geralmente é feito com a penicilina G cristalina, podendo-se ainda lançar mão das cefalosporinas ou eritromicina e clindamicina, no caso de pacientes alérgicos à penicilina (tabela 2). A terapia com anticoagulante está indicada em casos confirmados ou suspeitos de tromboflebite associada. Deve-se evitar o uso de anti-inflamatórios não esteroides (Aines) e de corticoides por maior risco de evolução para fasceite necrotizante. Nos casos de febre de difícil controle ou queixas álgicas intensas, o paracetamol 750 mg, via oral, é uma alternativa adequada.
Com a instituição de terapêutica adequada, a evolução de uma erisipela é geralmente favorável (80%), observando-se apirexia nas 48-72 horas após início da antibioterapia, seguida pela melhoria progressiva dos sinais locais (geralmente entre 4º e 6º dia) e resolução completa em duas semanas. Nas formas de erisipela bolhosa, a evolução pode ser mais lenta, sendo necessário, em média, 20 dias para a completa reepitelização ser atingida. As complicações ocorrem em percentual que varia de oito a 30% dos casos, podendo manifestar-se como áreas de necrose; abscessos; gangrena;