Ultimamente tenho tido muitas reflexões sobre qual será o papel do médico no futuro. Muita gente vem me perguntar se o radiologista vai desaparecer com o Watson ou se vamos ser substituídos pelas cabines de empresas como a chinesa Ping an Good Doctor. A verdade é que por mais que as diversas tendências estejam se desenhando ninguém sabe ao certo. Quem sabe um dia vamos chegar nesse maravilhoso mundo novo no qual há uma saúde mais eficiente e acessível, onde os robôs entregam diagnósticos, tratamentos e o papel do ser humano médico é centrado nas pessoas e suas relações. Agora vamos refletir sobre o presente.
O que temos para hoje? A saúde é um setor gigantesco no mundo representando quase 10% do PIB mundial, e cujo gasto sobe anualmente em taxas bem acima da inflação e de outros setores. Nem preciso falar que o cenário tende a se acentuar com o envelhecimento da população e incorporação de tecnologias caras. Resumindo a questão a saúde urge por uma transformação em seu modelo.
Após várias conversas com colegas médicos, fundadores de Startups, investidores (anjos, venture capital, fundos de private equity), conversas de bar no vale do silício ou mesmo no bar da esquina por aí, algumas coisas vieram a mente que queria compartilhar com vocês.
Nós médicos precisamos estar mais presentes em Startups . E cito aqui algumas razões:
- Somos (ainda) os responsáveis por boa parte das decisões que impactam a cadeia de custos da saúde, os donos de uma poderosa caneta que pede procedimento, consulta, remédio, exame (muitas vezes desnecessários por diversas razões, mas isso será outro post)…
- Temos uma visão global do diagnóstico ao tratamento e contato direto com os pacientes, o que nos permite perceber alguns dos problemas e dores do setor. Essa é a maior riqueza quando se quer pensar em um produto, serviço, solução
- Somos uma comunidade. Ninguém entende melhor o médico, seus dilemas e angústias de carreira do que nós mesmos. Só nós sabemos o quanto árdua é a formação acadêmica, qual é o custo emocional e físico do nosso trabalho. A gente sabe o quanto se sofre por ter chefes e não líderes numa carreira mega conservadora e hierárquica (quem nunca fez artigo e teve que colocar o nome do chefe, ou quem não está preso em uma organização sem conseguir crescer e se desenvolver por conta de ego, reserva de mercado, e outras questões dessa natureza).
- Somos treinados a pensar de forma estruturada um problema. Pensar num diagnóstico é basicamente estruturar cenários de probabilidades com dados. Esse tipo de raciocínio é fundamental para pensar problemas e produtos nessa nova economia, onde sobram oportunidades de negócio.
- Somos movidos por um propósito. Muitos médicos e estudantes de medicina entram para a carreira com propósitos humanitários, com vontade de ajudar as pessoas. Imagine se através de um produto/solução você pudesse ajudar não 1 paciente, e sim 1.000, 10.000 ou milhão de pessoas? Sim isso pode ser possível dentro de uma Startup.
Poderia listar uma série de outras razões mas vou ficar por aqui. O convite está posto. Se você é médico ou médica e pensa diferente, está incomodado(a) como a forma que tudo acontece e tem vontade de criar algo novo e revolucionário as Startups (A Sanar por exemplo, risos!) clamam por vocês. Ao invés de ficarmos pensando em como vai ser o futuro, o melhor é tentar ajudar a criá-lo.