Outubro é o mês dedicado à saúde da mulher e, mais especificamente, ao câncer de mamas. É durante esse período que acontecem os mutirões de mamografia e as campanhas de estímulo ao autoexame. Porém muitas dessas campanhas chegam até as mulheres de forma muito superficial e simplificada, deixando muitas dúvidas. Por isso, no artigo de hoje, vamos aprofundar o assunto, explicar a diferença da mamografia para a ultrassonografia de mamas e em quais casos elas são aplicadas.
No Brasil, a mamografia é o exame de escolha para o rastreamento do câncer de mama e, segundo as diretrizes do Ministério da Saúde, ela deve ser realizada bienalmente, em mulheres de 50 a 69 anos. Mas a FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) e a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia) recomendam mamografia anual em mulheres acima de 40 anos.
Para mulheres que apresentam alto risco para neoplasia de mama, o rastreamento é feito mais de perto, incluindo ressonância nuclear magnética em associação com mamografia anualmente a partir dos 30 anos de idade. Quem entra nesse grupo são mulheres com antecedentes familiares de primeiro grau de câncer de mama antes dos 50 anos ou familiares que tiveram câncer bilateral, câncer de ovário ou antecedente familiar masculino de câncer de mama.
Antes de tudo, é importante salientar que os exames de imagem são analisados e laudados dentro de um contexto, sempre pensando na idade e na queixa da paciente. Eles são complementares à anamnese e ao exame físico, nunca devem estar isolados. Esse detalhe é importantíssimo, pois, principalmente em pacientes jovens, o exame de imagem das mamas pode se alterar conforme o dia do ciclo menstrual no qual ela se encontra.
Antes de entender os exames de imagem, vale a pena explicar sobre a anatomia das mamas. As mamas estão localizadas na porção anterior do tórax e se apoiam nos músculos peitoral maior e serrátil anterior. São compostas principalmente por tecido glandular e adiposo. O tecido glandular é dividido em lobos, e nesses lobos é produzido o leite. O leite é drenado através dos ductos lactíferos até a papila mamária, onde o bebê realiza a sucção.
A quantidade de tecido adiposo das mamas muda muito conforme a idade da mulher. Quanto mais velha, mais a mama é lipo-substituída, ou seja, possui maior quantidade de gordura. As mamas mais jovens, de mulheres em idade reprodutiva, possuem mais glândulas.
Agora, vamos à explicação dos exames.
A primeira mamografia em paciente viva foi realizada em 1930 em Nova York. Esse exame derivou do raio x tradicional, portanto, se trata de um exame em que se expõe à radiação. Atualmente existe a mamografia digital, um exame mais rápido e com maior qualidade de imagem que a mamografia normal. A vantagem dela é que o custo é baixo para o Sistema Único de Saúde e traz o benefício de tratar precocemente um câncer que poderia se tornar muito grave.
A realização do exame é rápida (duração de cerca de 15 a 30 minutos), não exige preparações prévias, como jejum e suspensão de medicamentos, e é indolor, mas algumas mulheres sentem um certo incômodo por conta da compressão que a placa faz sobre as mamas, sobretudo se ela estiver em período menstrual. Essa compressão é necessária para que o tecido glandular mamário seja espalhado e o examinador possa analisar com maior facilidade as imagens. Para as pacientes que possuem prótese mamária, a mamografia pode ser mais incômoda, aumentar o risco de rotura da prótese ou até ser impossível sua realização. Nesses casos, é importante que a paciente informe o técnico que está realizando o exame, pois existem manobras, como a de Ecland, que podem facilitar o processo; porém, se a imagem obtida não for satisfatória, provavelmente a paciente deverá realizar a ultrassonografia das mamas.
Importante ressaltar que a mamografia antes dos 30 anos pode apresentar imagens inconclusivas, devido à grande quantidade de glândulas presentes na mama nessa faixa etária. A imagem mamográfica fica melhor quanto mais gordura houver.
A ultrassonografia de mamas é um exame de imagem examinador-dependente, ou seja: o entendimento da imagem e o achado das alterações depende muito da experiência de quem realiza o exame. É um exame que não expõe o paciente à radiação, já que funciona por meio de ondas sonoras de alta frequência. Essas ondas se difundem bem em meios sólidos e líquidos. Por isso esse exame é tão utilizado para órgãos como vias biliares, mamas e até para observar o feto dentro do útero da mãe, embora não seja um bom exame para pulmões, por exemplo, onde existe muito ar. As imagens são formadas pelo eco (retorno das ondas) e o reconhecimento dos tecidos ocorre justamente pela diferença de densidade entre eles, porque a onda terá dificuldades diferentes de passar em cada tecido.
A ultrassonografia é utilizada como complemento à mamografia e em outros procedimentos, citados abaixo:
- Pacientes jovens (menores de 30 anos) com queixas de alteração à palpação;
- Gestantes (pela limitação do uso de radiação);
- Pacientes jovens com histórico familiar importante de câncer de mama (como já citado, a RNM pode ser utilizada também);
- Pacientes com mamas muito densas (imagens difíceis ou inconclusivas em mamografia);
- Pacientes com prótese mamária com risco de ruptura;
- Para guiar biópsia percutânea e outros procedimentos invasivos;
- Para diferenciar lesões císticas de nodulares.
É importante salientar novamente que, apesar de obter imagens cada vez mais detalhadas e nítidas, a ultrassonografia de mamas não é indicada para rastreamento do câncer de mama isoladamente, isso é função da mamografia. Como citado anteriormente, há casos em que a ultrassonografia virá como complemento do rastreamento, mas nunca substituindo a mamografia. Sua indicação varia de caso a caso e deve ser prescrita pelo médico.
Por fim, os exames de análise de mama melhoraram muito nos últimos anos e tendem a melhorar ainda mais com o advento de novas tecnologias. Há algumas restrições e limitações nos dois exames, porém são ferramentas imprescindíveis para o rastreamento do câncer de mama, sobretudo no diagnóstico precoce, já que esse câncer é o de maior incidência entre as mulheres.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.