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Manifestações clínicas da apendicite | Colunistas

Manifestações clínicas da apendicite | Colunistas

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Introdução:

Apendicite aguda é a principal causa de dor abdominal aguda que requer tratamento cirúrgico no Ocidente1,2. O risco de um indivíduo apresentar apendicite aguda durante qualquer idade da vida é de cerca de 7%, mas seu pico de incidência ocorre entre a segunda e terceira décadas de vida, além de essa doença ser mais incidente em pessoas brancas e de sexo masculino1-5.

Ademais, a apendicite está associada à obstrução mecânica (por fecalito, hiperplasia linfoide, cálculo biliar, corpo estranho, parasitas ou neoplasia), dieta inadequada de fibras, susceptibilidade familiar, além de estrutura populacional, condições socioeconômicas e patógenos (bacterianos, virais ou parasitários)1-5. Todavia, apesar da elevada prevalência da apendicite, sua etiologia e epidemiologia ainda são pouco compreendidas4.

O apêndice cecal/vermiforme é um pequeno órgão tubular de fundo cego de provável função imunológica originado da parede póstero-medial do ceco e localizado a aproximadamente dois centímetros abaixo da válvula ileocecal, com comprimento variando de 2 a 20 centímetros1,2,6.

Vale ressaltar que, apesar de a base do apêndice ser fixa, o restante do órgão é livre e pode ocupar diversas regiões da cavidade abdominal, como região pélvica, fossa ilíaca esquerda e até o interior do canal inguinal2. Essas variações topográficas do órgão influenciam bastante na apresentação clínica da apendicite2.

Diante da elevada prevalência da apendicite, assim como a capacidade dessa doença de ser fatal, se não diagnosticada e tratada precocemente, este texto visa abordar apendicite. Serão abordados os seguintes tópicos: manifestação clássica, manifestação em crianças, manifestação em idosos e manifestação em gestantes.

Fonte: https://www.vix.com/pt/saude/567022/reconheca-os-primeiros-sinais-da-apendicite-para-nao-confundir-com-outras-doencas

Manifestação clássica:

Fonte: https://cienciasmorfologicas.webnode.pt/introdu%C3%A7%C3%A3o%20a%20anatomia/quadrantes-abdominopelvica/

A dor é inicialmente descrita como cólica leve, de duração habitual variando de 4 a 6 horas, localizada na região periumbilical ou epigástrica1-3. Alguns sintomas podem acompanhar essa fase inicial em 50 a 60% das vezes, como anorexia, náuseas e vômitos1-3.

Com a evolução da inflamação para a superfície do peritônio parietal, a dor passa a se localizar na região do apêndice, geralmente na fossa ilíaca direita, podendo estar associada a sinais de irritação peritoneal (dor à descompressão brusca)2.

Nesta fase, a febre, quando se apresenta, é baixa (variando de 37,2 a 38,0°C); se for elevada (acima de 38,3°C), é sugestiva de perfuração intestinal1,2. Vale ressaltar que podem acompanhar a febre elevada os seguintes sintomas: taquicardia, rigidez muscular e dor intensa e difusa, os quais corroboram com a suspeita de perfuração intestinal1. Todavia, em extremos de idade e em gestantes, o diagnóstico de apendicite costuma ser mais complicado1.

Manifestação em crianças

Fonte: https://radioaratiba.com.br/doenca-perigosa-e-silenciosa-apendicite-merece-atencao-especial-dos-pais/

Em crianças, a manifestação clássica da apendicite ocorre em menos de 50% dos pacientes7. Diante disso, podem ocorrer erros e atraso no diagnóstico, o que acarreta em complicações7. Apesar da dificuldade do diagnóstico de apendicite nessa faixa etária, inclusive em estágios iniciais da doença, pesquisas demonstram que o diagnóstico ainda é predominantemente clínico8,9.

A apresentação da apendicite na faixa etária pediátrica também varia com a idade, de modo que as crianças menores de cinco anos apresentam mais vômitos, diarreia, febre e sintomas respiratórios que as maiores de cinco anos7.

Também é possível observar que uma parcela significativa (84%) das crianças acima de cinco anos apresentam a dor abdominal focal, se comparada à parcela das menores de cinco anos, apesar de alta (58,6%); acerca da dor abdominal difusa, foi observado que 10,1% do grupo acima de cinco anos, e 28,6% do grupo abaixo de cinco anos apresentam essa manifestação da dor7. Para aprofundar o conhecimento, recomendo a leitura do artigo neste link: http://www.scielo.br/pdf/rpp/v37n3/pt_0103-0582-rpp-2019-37-3-00019.pdf.

Manifestação em idosos

Fonte: https://www.casaderepousoemsaopaulo.com/blog/cuidado-com-idosos/refluxo-em-idosos-saiba-mais-sobre-essa-doenca/

Em idosos, a apendicite tende a ser mais silenciosa e a manifestação inicial pode ser de massa ligeiramente dolorida (abscesso apendicular primário) ou com obstrução intestinal produzida por aderências de perfuração apendicular não detectada previamente1.

A febre pode ser menos elevada e a dor pode não se manifestar no início10. Desse modo, a apendicite no idoso, assim como nas crianças, é difícil de ser diagnosticada em fases iniciais, o que ocasiona complicações, como perfuração intestinal10. Todavia, a prevalência de apendicite em idosos é baixa11.

Manifestação em gestantes

Fonte: https://bebe.abril.com.br/gravidez/sentir-colicas-na-gravidez-e-normal/

            Em gestantes, a apendicite tende a se apresentar de maneira clássica nos dois primeiros trimestres12. Todavia, durante o terceiro trimestre, muitos sintomas da apendicite, como vômitos e dor abdominal acabam sendo atribuídos à gestação em curso12.

Vale ressaltar que essa dor abdominal pode estar localizada no quadrante superior direito, pois ao final da gestação, o útero gravídico desloca o apêndice para uma posição mais elevada na cavidade abdominal podendo assim provocar um ponto doloroso abdominal mais alto12-14.

Autor: Emanoel Albuquerque

Instagram: @emanoel_albuquerque