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No seu cotidiano profissional da prática médica, você já deve ter tido contato com alguns desses termos: Telemedicina, Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) aplicadas à Saúde, e-Health, Telessaúde e Saúde Móvel. Porém, é possível que você ainda não saiba que todos esses conceitos estão inseridos, desde 2019, em uma abordagem mais abrangente, com o objetivo primordial de monitoramento da saúde populacional em nível global, denominada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Saúde Digital (SD).
Nesse contexto, há aproximadamente dois anos, a OMS desenvolveu a Estratégia Global de Saúde Digital, a fim de promover a cooperação internacional no que tange ao compartilhamento de conhecimentos e experiências em saúde, envolvendo tanto entidades governamentais quanto empresas e centros de pesquisa privados. Assim, para que você possa compreender melhor a definição e as aplicações dessa área, é necessário que sejam conhecidas as diretrizes da OMS para a SD, bem como o panorama atual dela no Brasil e os seus desafios.
Diretrizes da OMS para a Saúde Digital
As diretrizes mundiais para a Saúde Digital (SD) foram descritas e divulgadas pela OMS, em abril de 2019, com o intuito de orientar os países-membros acerca da utilização das tecnologias digitais para o compartilhamento de informações sobre saúde. Dessa forma, segundo esse órgão, espera-se que governos, entidades privadas e profissionais de saúde usem tais dados para melhorar a assistência e os serviços prestados às populações. À guisa de exemplificação, a SD pode ser usada para monitorar dados sobre gerenciamento de insumos, acompanhamento de pacientes, comunicação entre profissionais, marcação de consultas, lembretes e notificação de atendimentos, dentre outros.
No entanto, em termos práticos – e em observação ao que a OMS preconiza –, você pode estar se perguntando como aplicar a SD no seu cotidiano profissional. Nesse sentido, tais diretrizes consistem na revisão sistemática das evidências sobre o uso das tecnologias digitais de modo a contribuir para potencializar o uso dessas ferramentas de modo responsável e seguro. Logo, conforme a OMS, o que você deve ter em mente é que o acompanhamento e compartilhamento de dados sobre a saúde dos pacientes, assim como o uso de estratégias como a Telemedicina e a Telessaúde devem ser feitos sempre de modo ético e responsável, com o escopo de promover a saúde e proteger os mais vulneráveis.
O panorama da Saúde Digital no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o termo Saúde Digital (SD) está relacionado ao uso das TIC´s para produção e compartilhamento de informações sobre o estado de saúde de pacientes em tempo hábil e de modo confiável. De fato, conforme a OMS, o objetivo principal da SD é o monitoramento de informações relacionadas à saúde em âmbito mundial. Todavia, na saúde coletiva brasileira, não existem aparentemente iniciativas públicas para o uso do telemonitoramento (PAULA et al, 2020). Adicionalmente, cabe destacar que as diretrizes da OMS preconizam o uso dos recursos tecnológico da SD para além do que é destacado pelo MS, abordando-a e inserindo-a em um contexto mais abrangente, considerando a SD como uma ferramenta que deve ser integrada aos sistemas públicos de saúde.
Dentro dessa perspectiva da OMS, é pertinente destacar o relevante papel da SD no contexto nacional da infecção por Covid-19. Nesse cenário, o uso da Telemedicina foi a principal inovação tecnológica implementada no País, tendo sido essencial para o avanço na abrangência dos serviços de saúde e para a ampliação da capacidade de atendimento aos pacientes que foram infectados pelo coronavírus (GARCIA,2020). Ademais, a Telemedicina foi e tem sido usada para retardar a disseminação do Sars-CoV-2 ao promover o distanciamento social mediante práticas remotas (SOARES et al, 2020). Portanto, reiterando a premissa da OMS, o uso das tecnologias da SD deve ser feito de modo a ampliar a resolutividade das ações profissionais frente às demandas de saúde da população.
Desafios para a Saúde Digital
A Saúde Digital (SD) ainda é uma área com desafios a serem superados. No Brasil, a existência de lacunas na regulamentação jurídica acerca do uso de recursos digitais no atendimento em saúde já constitui, por si, um grande entrave para a aplicação da SD na prática profissional. Além disso, a falta de integração entre sistemas de saúde, entidades privadas e centros de ensino e pesquisa também dificulta a implementação da SD nos moldes preconizados pela OMS (como um sistema de monitoramento em saúde sinérgico e colaborativo entre todos esses setores). Outro óbice é, uma vez que a operacionalidade da SD esteja eficiente, garantir que os sistemas de saúde respondam o mais sincronamente possível às demandas identificadas por meio da SD.
Conclusão
Agora que você já tem uma visão ampliada do conceito e conhece as aplicações da Saúde Digital, deve ter percebido que o Brasil ainda está nas fases de adaptação, operacionalização e regulamentação dessa área. Contudo, quando você (como profissional médico e de modo ético e responsável) realiza prescrições digitais, acompanha remotamente a evolução de seus pacientes, faz uso da Telemedicina ou divulga informações de prevenção de doenças nas mídias sociais, você já está à frente nessa nova e fascinante área e está fazendo um bom uso da SD no seu cotidiano. Por fim, tenha em mente que a Saúde Digital é um caminho sem volta para a prática médica.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências
GARCIA, M.V.F, GARCIA, M.A. Telemedicina, segurança jurídica e COVID-19: onde estamos? J Bras Pneumol. 2020;46(4):e20200363
PAULA, A.C.et al. Healthcare telemonitoring and business dynamics: challenges and opportunities for SUS. Rev Saude Publica ; 54: 65, 2020.
SOARES, D.A. et al. Covid-19 telescreening in SUS users with risk conditions: case report. Rev Saude Publica ; 54: 101, 2020.
WHO. Monitoring and evaluating digital health interventions: a practical guide to conducting research and assessment. Geneva: World Health Organization; 2016.