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Merenda escolar pode combater doenças crônicas em adolescentes

Merenda escolar pode combater doenças crônicas em adolescentes

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Arroz, feijão, carne, legumes e salada. Embora simples, as refeições servidas na merenda escolar podem garantir uma alimentação mais equilibrada e saudável para os adolescentes, especialmente para aqueles que estudam na rede pública de ensino, e ainda combater doenças crônicas.

A conclusão vem de um estudo recém-publicado na revista Cadernos de Saúde Pública e realizado por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O material buscava encontrar uma relação entre o consumo de alimentos fora de casa e a propensão de adolescentes a desenvolver doenças crônicas. De acordo com os autores, aqueles que consumiam mais alimentos fora de casa, especialmente na escola, apresentaram menor propensão a desenvolver hiperglicemia e hipertensão arterial.

Ponto para a escola pública

Os pesquisadores utilizaram dados do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), realizado entre 2013 e 2014 com 36.956 jovens de 12 a 17 anos. Foram avaliados apenas adolescentes que estudavam em escolas públicas e privadas de municípios com mais de 100 mil habitantes, de todas as regiões do Brasil.

Os jovens foram pesados e tiveram a estatura medida para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), além de pressão arterial aferida e exames de sangue coletados. Eles também responderam questionários sobre o que haviam consumido nas últimas 24 horas e onde haviam feito essas refeições.

O consumo de alimentos fora de casa foi citado por 53,2% dos adolescentes, sendo maior entre aqueles que estudavam em escolas privadas (62,5%). No entanto, considerando apenas a alimentação realizada na escola, a frequência do consumo foi três vezes maior entre os estudantes da rede pública, 61,7% contra 21,4% da rede privada.

Segundo a principal autora do artigo, Suelyne Rodrigues de Morais, o ambiente escolar é uma grande oportunidade para o desenvolvimento da alimentação saudável desde a infância, já que é nessa fase que começam a ser moldados nossos hábitos e gostos alimentares.

“A merenda escolar, além de fornecer nutrientes importantes para a criança, pode auxiliar na introdução de novos alimentos, muitas vezes desconhecidos pelos estudantes, seja por falta de acesso ou simplesmente por não fazer parte do hábito alimentar da família”, explicou à Agência Brasil.

Biomarcadores mais baixos

Na análise geral, os pesquisadores encontraram relação inversa entre consumo de alimentos fora de casa e a prevalência de alta taxa de glicose no sangue (hiperglicemia). Segundo os autores, meninos que estudavam em escolas públicas e que consumiam alimentos fora de casa apresentaram menor probabilidade de ter altas doses de insulina e glicose no sangue do que aqueles que faziam refeições somente em casa.

Entre as meninas que estudavam em escola pública, as que se alimentavam fora de casa também tiveram menor chance de apresentar hipertensão arterial e hiperglicemia. Os adolescentes, de ambos os sexos, que se alimentavam fora de casa e estudavam em escola pública também apresentaram maior ingestão de frutas, fibras, verduras e feijão.

Pente-fino nos dados

Segundo Morais, o estudo enfatiza a importância da qualidade da alimentação na escola e sua influência na dieta dos adolescentes. Os achados sobre maior prevalência de hipertensão e hiperglicemia também são dados importantes. “Eles permitem ampliar o olhar para o tipo de alimentação que vem sendo feita por esse grupo populacional também em casa”, disse.

Ainda em reportagem à Agência Brasil, a autora enfatizou que esse foi o primeiro trabalho de base escolar no Brasil com grande representatividade, que combinou a avaliação do consumo alimentar dos adolescentes com exames bioquímicos.

“Tendo em vista a relevância desses resultados, será dada continuidade à pesquisa, refinando os dados em análises futuras, com o intuito de elaborar trabalhos de intervenção que melhorem a merenda escolar e favoreçam escolhas alimentares mais saudáveis para os adolescentes”, concluiu.