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Baixa estatura em crianças: causas e diagnóstico

Baixa estatura em crianças: causas e diagnóstico

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Uma das queixas mais frequentes em pediatria é a baixa estatura. Os pais comparam a altura dos filhos com os colegas da escola ou com os irmãos e concluem que estão baixos. Por ser uma queixa tão frequente é que todo médico, independentemente da especialidade, deve saber diagnosticar uma baixa estatura real, definir sua causa e, se necessário, tratá-la.

Definição de baixa estatura

Primeiramente, vamos definir o que é baixa estatura: é a altura que se encontra abaixo do percentil 3 ou abaixo do Z-score -2 nos gráficos da OMS.

Esses valores representam uma média da altura das crianças de acordo com a faixa etária. Por exemplo: o percentil 50 significa que 50% das crianças daquela idade possuem aquela altura. Esse gráfico é regulamentado pela OMS e utilizado por todos os médicos e é nele que devemos nos basear para definir se a criança tem baixa estatura ou não.

Como saber se a criança tem baixa estatura?

Assim, a primeira etapa a ser cumprida quando uma mãe chega referindo que seu filho é baixo, é medir a criança corretamente e colocar sua altura no gráfico. Se naquela consulta a criança já se encontra abaixo do percentil 3, então ela pode ser diagnosticada com baixa estatura.

Caso esteja acima do percentil 3, não podemos dar o diagnóstico, mas é importante investigar se a criança está diminuindo a velocidade de crescimento ou mudando de canal no gráfico, o que será abordado mais adiante.

Muito importante ressaltar que a anamnese completa é crucial nesses casos: precisamos saber se essa criança está se alimentando corretamente, se pratica atividade física, se está com peso normal, se possui alguma doença associada ou se já esteve internado, etc.

Esses detalhes nos guiam até as hipóteses diagnósticas. Também é essencial que se faça uma observação completa do corpo da criança, analisando principalmente proporções entre os segmentos corporais, deformidades ósseas e desenvolvimento puberal. As baixas estaturas causadas por doenças constitucionais do esqueleto apresentam desproporcionalidade e possuem segmento diferente das baixas estaturas proporcionadas. Hoje só abordaremos as proporcionadas, que são mais comuns.

A segunda etapa, se realmente for diagnosticada a baixa estatura, é descobrir a velocidade de crescimento. Isso só pode ser feito com duas ou mais medidas, com intervalos de, no mínimo, 4 meses para crianças abaixo de 3 anos e 6 meses para maiores de 3 anos. Se a mãe levar a cartilha com outras medidas anteriores é possível fazer uma avaliação mais detalhada.

O mais importante a observar é se a criança está seguindo sempre na mesma curva ou se ela está caindo para curvas mais baixas, pois isso pode ser sinal de doença.

Velocidade de crescimento

A velocidade de crescimento tem valores pré-estabelecidos de acordo com a faixa etária, mas a questão aqui é: se a velocidade de crescimento estiver normal, a conduta tomada será diferente de quando estiver diminuída.


Ainda seguindo nessa linha, com a altura dos pais podemos fazer um cálculo do alvo genético daquela criança. Ele é feito através da seguinte fórmula:


O resultado será 1.74m. Porém, temos que considerar um desvio padrão de +/- 10cm de normalidade. Portanto, esse filho poderá ter de 1.64m até 1.84m de altura, dentro da normalidade. Para as meninas, esse desvio padrão é de +/- 9cm.

Diagnóstico de baixa estatura

O alvo genético é uma das melhores ferramentas para ilustrar aos pais que, se eles forem baixos, os filhos também não serão muito altos. Acreditem: a causa mais comum de baixa estatura é a familiar. E não há nada de errado com isso, o que importa é a criança estar saudável.

Com essas etapas cumpridas, temos 3 possibilidades:

  • Uma estatura acima do percentil 3 com velocidade de crescimento normal representa uma criança NORMAL;
  • Uma estatura abaixo do percentil 3 com velocidade de crescimento normal representa uma variante da normalidade;
  • E, por fim, uma estatura abaixo do percentil 3 com velocidade de crescimento reduzida, significa que há necessidade de investigação.

Exame de idade óssea

A variante da normalidade exige de nós um exame de idade óssea para que possamos chegar à causa daquela baixa estatura. Esse exame é muito simples e prático: pede-se uma radiografia de mão e punho esquerdos e compara-se com a radiografia considerada normal, pré-estabelecida para a idade.

  • Se a idade óssea for igual à idade cronológica, trata-se de uma baixa estatura familiar.
  • Se a idade óssea for menor que a idade cronológica, trata-se de um atraso constitucional do crescimento. Normalmente, nesse caso, a criança apresenta outras queixas, como a puberdade atrasada (quase sempre, a dos pais também atrasou), mas a criança tem altura alvo normal e terá uma altura também normal na vida adulta, só demorará um pouco mais para crescer.

Em resumo, a investigação da criança com velocidade de crescimento reduzida e altura abaixo do percentil 3 terá como foco causas orgânicas, como doenças renais (insuficiência, acidose tubular renal), cardíacas, gastrintestinais, pulmonares (muita atenção para tuberculose, que pode fazer a criança mudar de canal de crescimento), endocrinopatias (falta de GH, hipotireoidismo) e síndromes genéticas, como Turner, Down ou Noonan.

Orientações de conduta médica no diagnóstico

Os exames pedidos são muito variáveis de acordo com a hipótese do médico e com a história, anamnese e exame físico do paciente.
Quanto ao tratamento, é essencial destacar que nem toda criança com baixa estatura pode ou deve receber GH.

Apesar de muitos médicos optarem por administrar GH para diversos tipos de baixa estatura, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia prevê o uso somente para as crianças com baixa estatura por baixa produção do hormônio ou para algumas síndromes genéticas, como Turner e Prader-Willi, e insuficiência renal crônica. Muito cuidado ao aceitar esse tipo de terapia de profissionais não médicos, já que os efeitos adversos podem ser graves.

Por outro lado, quando não se trata de terapia com GH, é possível explorar o potencial genético da criança ao máximo, através de uma alimentação equilibrada, não deixando faltar micronutrientes como ferro, cálcio, selênio, fósforo e o estímulo à prática de atividade física, com destaque para a natação. Uma criança desnutrida ou sedentária cresce muito menos, comparado àquela ativa e bem nutrida.

Por fim, um lembrete: a altura é considerada um padrão social de beleza, de saúde. Muitas vezes os pais colocam expectativas irreais nos filhos (sobretudo nos meninos) e os comparam com outros, gerando ansiedade e complexos de inferioridade nas crianças. E esses complexos podem perdurar pelo resto da vida causando baixa autoestima. Portanto, priorize sempre a saúde e a felicidade de seus filhos.

Autora: Gabriela Sartori Gonçalves, 4º ano de medicina pela PUC Campinas.

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