O enfrentamento ao novo coronavírus tem gênero, cor e profissão bem definidos: as mulheres negras da área de enfermagem são as mais expostas à Covid-19. Dados apresentados pela Rede CoVida, em maio, indicam que 85,1% dos trabalhadores de enfermagem são mulheres e 53% são negras, sendo 41,5% são pardas e 11,5% são pretas.
Enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem estão em maior número na linha de frente de combate ao novo coronavírus. A American Nurses Association calcula que mais de 20 milhões de profissionais de enfermagem estão envolvidos no enfrentamento à pandemia. E, devido à exposição aos pacientes infectados, têm alta vulnerabilidade ao Sars-CoV-2.
Exemplo disso consta no estudo realizado no Hospital Tong ji, em Hubei, na China. Levantamento indicou que 72.2% dos profissionais de saúde infectados trabalhavam em enfermarias clínicas. Já dados da International Council of Nurses (ICN), até maio, apontam que 90 mil profissionais de saúde foram infectados e 260 já morreram por causa da Covid-19, em 30 países.
No Brasil, o Observatório da Enfermagem, lançado pelo Conselho Federal de Enfermagem, já registrou pelo menos 12 mil casos de coronavírus e 84 óbitos entre a categoria.
Perigo pra saúde mental
O relatório da Rede CoVida chama a atenção também para o impacto da pandemia na saúde mental dos profissionais de saúde. Há relatos frequentes de aumento dos sintomas de ansiedade, depressão, perda de qualidade do sono, uso de drogas, sintomas psicossomáticos e medo de infecção ou transmissão do vírus.
Estudo realizado na China apontou que o impacto é intenso nas mulheres enfermeiras, diretamente envolvidas em atividades de diagnóstico e tratamento. Houve registro de sintomas de depressão, ansiedade, insônia e angústia.
Os sintomas de transtorno de ansiedade generalizada, estresse crônico, exaustão e esgotamento são causados por um conjunto de fatores. Os especialistas da Rede CoVida incluem:
- Número crescente de pacientes, de todas as idades, com doenças agudas e potencial de rápida deterioração;
- Ter de cuidar de colegas de trabalho que podem ficar gravemente doentes, e até morrer por Covid-19;
- Escassez de EPIs, o que intensificam o medo de exposição ao coronavírus;
- Preocupações em infectar membros da família;
- Escassez de ventiladores e outros equipamentos médicos cruciais para atendimento de pacientes graves;
- Ansiedade pra assumir papéis clínicos novos ou desconhecidos, e cargas de trabalho extensas para atendimento dos pacientes com coronavírus;
- Acesso limitado a serviços de saúde mental, para cuidar de possíveis depressão, ansiedade e sofrimento psicológico.
Proteção para cuidar
Para proteger os profissionais que estão, literalmente, na linha de frente e cuidado direto com os pacientes da Covid-19, especialistas da Rede CoVida propõem iniciativas. Uma delas é a adoção de protocolos de controle de infecções. Também é recomendada a disponibilização de equipamentos de proteção individual, como máscaras N95, aventais, óculos, protetores faciais e luvas.
Relato de um hospital em Singapura reforça a eficácia dos cuidados. Durante o tratamento de pacientes com Covid-19, 85% dos profissionais de saúde foram expostos, mas nenhum deles se contaminou. Isso aconteceu porque todos usavam adequadamente os EPIs.
Especialistas da rede também recomendam a adoção de turnos de seis horas de trabalho dos enfermeiros, com superposição de uma hora. Aliado a isso, a implantação de monitoria online ou presencial do trabalho desses profissionais.
O cansaço físico e estresse psicológico podem ocasionar negligência às medidas de proteção e cuidado com a saúde. Até mesmo por isso se tornam necessários protocolos hospitalares para reduzir o risco de infecção.

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