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Assim como os adultos, as crianças tiveram que se adaptar a um novo mundo após o decreto da pandemia. De repente, surgiu uma nova rotina para elas e algumas ainda tiveram que lidar com o luto pela perda de familiares.
Todas essas mudanças estressantes podem gerar diversos impactos psicológicos nos pequenos, afinal, se as mudanças provocadas pela Covid-19 impactaram na saúde mental dos adultos, por que seria diferente com as crianças?
Potenciais eventos estressores
De acordo de Masten e Gamerzy (1985 apud Poletto, 2008), eventos estressores são acontecimentos de vida que alteram o ambiente e provocam uma tensão que interfere nas respostas emitidas pelos indivíduos. Abaixo, listamos dois potenciais eventos estressores para as crianças no contexto da pandemia:
Interações familiares
A principal medida contra o coronavírus é o isolamento social. No entanto, para algumas crianças, o lar não se configura o local mais seguro e o aumento de tempo de permanência em casa, aliado ao estresse parental por conta das novas demandas após pandemia, podem desencadear tensões, conflitos e situações de violência (BRASIL, 2020).
De acordo a Teoria Bioecológica (BROFENBRENNER, 2011 apud LINHARES, ENUMO, 2020), a família é o primeiro microssistema, ou seja, onde se constrói as relações proximais realizadas face a face entre os cuidadores principais e as crianças em desenvolvimento.
Ambientes familiares com condições adversas, como violência, negligência e dificuldades financeiras, são considerados um “microcontexto caótico”, que diz respeito a atividade frenética, falta de estrutura e escassez crônica de recursos.

Afastamento da escola
Para muitas crianças, a escola é uma importante rede apoio. Com a pandemia, no entanto, elas se viram afastadas desse local de ensino, socialização e, muitas vezes, símbolo de afeto e cuidado, não podendo mais ter contato direto com professores e colegas.
Alguns tiveram a possibilidade de continuar o ano letivo por meio de plataformas virtuais, outros tiveram que interromper totalmente as aulas. Todas essas experiências exigem da criança uma adaptação e compreensão da mudança da rotina.
A escola é o segundo microssistema importante para o desenvolvimento e aprendizagem (BROFENBRENNER, 2011 apud LINHARES, ENUMO, 2020). Levando em consideração a importância do ambiente escolar, é de se esperar que mudanças no funcionamento dessa estrutura possam gerar estresse e ansiedade.
De acordo com Holmes (et al., 2020 apud LINHARES, ENUMO, 2020), o impacto do ensino a distância e da falta de suporte educacional no desenvolvimento da criança devem ser melhor averiguados.
Estresse tóxico
Conforme a Teoria do Ecobiodesenvolvimento, nos ambientes caóticos ocorre o “estresse tóxico”. Esse é um tipo de estresse forte, frequente e com ativação prolongada do organismo e sem mecanismos de proteção que possam reduzir os impactos dos efeitos dos eventos estressores (BRANCO, LINHARES, 2018; SHONKOFF et al., 2012ª apud LINHARES, ENUMO, 2020).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), devem se tomar medidas contra o estresse tóxico a fim de evitar prejuízos a longo prazo. Situações consideradas adversas irão desencadear a reposta fisiológica de elevação dos hormônios do estresse na infância (ex: cortisol e adrenalina), gerando uma sobrecarga no sistema cardiovascular e riscos á construção saudável do cérebro.
Ao experienciar situações de estresse tóxico, as consequências já podem ser observadas a curto prazo, como: irritabilidade, medos, transtorno do sono, piora na imunidade; e a médio e longo prazo: transtornos de ansiedade, atraso no desenvolvimento e depressão.

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