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O PET-CT com 18F-FDG & a Oncologia |Colunistas

O PET-CT com 18F-FDG & a Oncologia |Colunistas

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O PET-CT com 18F-FDG é um exame da Medicina Nuclear que associa dois tipos de exame de imagem simultaneamente com vasta utilização na oncologia. E hoje vamos falar um pouco sobre ele. 

O que é a Medicina Nuclear?

A Medicina Nuclear é uma área da medicina que emprega materiais radioativos tanto para realização de diagnósticos através de exames de imagem, como o PET e a cintilografia quanto para tratamentos por meio de terapias com radioisótopos e cirurgias radioguiadas.

Os exames de imagem da Medicina Nuclear permitem realizar uma avaliação funcional de diferentes tecidos e sistemas corporais, ao contrário dos exames radiológicos, como a radiografia e a tomografia computadorizada, os quais permitem uma visão anatômica dos órgãos internos. 

Tomografia Computadorizada

A tomografia computadorizada, em inglês computed tomography (CT), utilizando o mesmo princípio da radiografia simples, consiste na emissão de raios-x em direção a um objeto e na captação. A depender da densidade das diferentes estruturas que compõem o objeto estudado, diferentes proporções dos fótons serão absorvidas pelo material ou o atravessarão atingido o receptor. Essas diferentes proporções são detectadas pelos receptores e diversas densidades que compõem o objeto são traduzidas na escala de cinza. Porém, diferentemente das radiografias convencionais, a tomografia computadorizada permite a aquisição de diferentes cortes sequenciais no eixo axial e sua posterior reconstrução da imagem nos eixos sagital e coronal. Assim a CT, permite a visualização de diferentes estruturas anatômicas com grande precisão, tornando-se muito sensível à detecção de alterações estruturais.

Tomografia por Emissão de Pósitrons

A Tomografia por Emissão de Pósitrons, em inglês positron emission tomography (PET) consiste na quantificação indireta da radiação emitida pelo radiotraçador, para assim predizer a sua concentração e captação pelos diferentes tecidos do corpo. O fundamento para esse exame é a utilização de um átomo instável na composição da molécula do radiotraçador, o qual será injetado na corrente sanguínea do paciente antes da realização do exame. A depender de sua estrutura química que pode ser variada de acordo com o tipo de tecido que se deseja estudar, esse radiotraçador será captado em maior quantidade por um tecido ou estrutura corporal pela qual tenha mais afinidade, e devido a sua instabilidade nuclear haverá um decaimento atômico liberação de diferentes partículas, e entre eles  um pósitron. Já o pósitron ao ser liberado de seu núcleo de origem em alta velocidade colidirá com um elétron presente na eletrosfera de outro átomo da vizinhança. Tal colisão resultará na aniquilação dessas duas partículas e terá como resultados produção de dois fótons, partículas de luz, lançadas em direções diametralmente opostos. São os fótons originados da aniquilação que serão captados pelo anel circular de detectores do aparelho do PET, já programado para quantificar e calcular a origem dos fótons emitidos, podendo localizar então, onde o radiotraçador se concentrou mais intensamente.

Diferentemente, da tomografia computadorizada, o PET não permitirá a identificação precisa da origem anatômica das alterações. Assim, ao associar-se simultaneamente, os dois métodos de imagem, o PET e a CT, é possível detectar alterações funcionais de tecidos e localizar anatomicamente com maior precisão essa alteração.

[18F] fluordesoxiglicose 

Para se utilizar o PET-CT no contexto da oncologia, é necessário utilizar-se de uma alteração funcional específica das células neoplásicas. Dessa forma, a alteração escolhida foi o Efeito Warburg, termo que descreve a reprogramação metabólica característica das células tumorais, que redireciona o metabolismo celular para realização de glicólise aeróbica. Na verdade, a glicólise aeróbica é o tipo de geração de energia preferido por células de crescimento rápido, pois além de produzir ATP, também fornece diferentes intermediários metabólicos necessários a síntese de diferentes estruturas celulares. Dessa maneira, é necessário ressaltar que tecidos com alta replicação celular, como aqueles que apresentem inflamação, também irão captar intensamente o 18F-FDG, podendo resultar em falsos-positivos.

Por isso, o radiotraçador escolhido é o [18F] fluordesoxiglicose, um análogo da glicose, no qual o grupo hidroxila do carbono 2 é substituído por um isótopo radioativo do flúor. De forma similar a molécula de glicose, o 18F-FDG será captado pelas células, principalmente por aquelas com metabolismo glicolítico aumentado, Contudo,  devido a essa modificação estrutural, a molécula do radiotraçador não é metabolizado, findando por acumular-se na célula, onde decairá, emitindo o pósitron cuja a aniquilação resultará na liberação de fótons.

PET-CT & a oncologia

Devido a complexa tecnologia empregada, o PET-CT com 18F-FDG, torna-se  um exame de alto custo, estando restrito à alguns centros de saúde, além de expor o paciente a radiação e não ser eficaz para a detecção de todos os tipos de tumores, e, por isso, sua solicitação deve-se basear em indicações precisas.

Entre as diferentes indicações para o PET-CT com 18F-FDG, no contexto da oncologia, estão a investigação da localização de sítios primários de tumores em caso de doença sistêmica ou de síndromes paraneoplásicas, diferenciação de lesões benignas de cânceres, estadiamento de neoplasias malignas, planejamento acompanhamento da terapia oncológica e diagnóstico de recidivas.

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, o exame dura aproximadamente 2 horas e está contraindicado para gestantes e lactantes. Para a sua realização, o paciente deve permanecer em jejum durante 4-6 horas antes do exame, assim como a nutrição parenteral ou soro glicosado deve ser suspenso pelo mesmo período, a fim de evitar o aumento dos níveis séricos de glicose e insulina. Estados hiperglicêmicos, como no caso de diabetes não compensado, podem reduzir a captação do 18F-FDG pelos tecidos, assim glicemias acima de 150-200mg/ml contraindicam a realização Imediata do exame, sendo necessário diminuir esses níveis antes da realização do exame.  

Alguns cuidados também devem ser tomados para evitar a captação do radiotraçador pelos músculos, como manter o paciente deitado ou sentado durante 1 hora após a injeção da 18F-FDG. Já para evitar a captação pela gordura marrom que pode dificultar a interpretação do exame, deve-se manter o paciente aquecido

Usualmente, preconiza-se a aquisição de imagens da base do crânio até a raiz das coxas, entretanto, em caso de suspeita de tumores com alta probabilidade de metástases para crânio ou membros, como o melanoma, a região de pesquisa pode ser estendida. Se a região de interesse for a região do tórax, o paciente deve permanecer com os braços estendidos em direção a cabeça durante o exame, a fim de se evitar a formação de artefatos de imagem, da mesma forma, se a região de maior interesse durante a investigação for o pescoço ou a cabeça, os braços devem permanecer estendidos ao longo do tórax.

Para entender mais sobre o funcionamento do PET-CT, indico o vídeo “How does a PET scan work?” do Imperial College London.

Autora: Gabriela Silva Holanda

Instagram: @babisholanda

Referências

  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA NUCLEAR. PET/CT FDG18F: Informações gerais, [S. l.], 2015. Disponível em: https://sbmn.org.br/wp-content/uploads/2015/11/PET-CT-FDG.pdf. Acesso em: 30 set. 2021.
  • DOS ANJOS, Dalton Alexandre. PET/CT em oncologia. In: DIRETRIZES Oncológicas. [S. l.: s. n.], 10 2018. cap. 36, p. 573-589. Disponível em: https://diretrizesoncologicas.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Diretrizes-oncol%C3%B3gicas-2_Parte36.pdf. Acesso em: 30 set. 2021.
  • BERDICHEVSKI, Eduardo Herz. Impacto do contraste no cálculo do standardized uptake value (SUV) em função do tamanho da lesão e distância de áreas de maior concentração de contraste. [S. l.], 20 jan. 2017. Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/7363. Acesso em: 30 set. 2021.

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