Sábado, 28 de março, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte confirmou o primeiro óbito pela Covid-19 no estado. A vítima é um professor universitário de 61 anos e que soube do diagnóstico para Covid-19 na última sexta-feira (27).
O paciente tinha histórico de diabetes. No mesmo dia, a Secretaria de Saúde da Bahia também comunicou a ocorrência da primeira morte causada pela doença na região. Trata-se de um homem, soteropolitano, de 74 anos. O que esses casos têm em comum? A predominância do sexo masculino.
Desde o registro da chegada da Covid-19 aqui no País no dia 26 de fevereiro – com o diagnóstico positivo em um homem de 61 anos que tinha regressado de uma viagem à Itália – 11.450 pessoas foram infectadas, sendo 409 vítimas fatais, de acordo com a última atualização do Ministério da Saúde.
Ainda segundo a pasta, 58% dos casos graves e 68% das mortes são de pacientes homens. Ou seja, o perfil da maioria dos casos graves e mortes pelo coronavírus Sars-CoV-2 no Brasil é formado pelo sexo masculino com mais de 60 anos, conforme já se vem verificando ao redor do mundo.
A Espanha, por exemplo, até o último domingo, tinha quase 132.000 casos e mais de 12.000 mortes, baseado em matéria publicada pelo El País. Desse total, a fatia maior é formada por homens, com mais de 80 anos.
O The Guardian publicou que na China a mortalidade é de 2,8% entre homens e 1,7% entre mulheres e que esse padrão se mantém em todos os países que divulgam as estatísticas da pandemia também com recorte por gênero, como a própria Espanha, além da Alemanha, Coreia do Sul (onde mais mulheres ficaram doentes e mesmo assim mais homens morreram), França, Irã e Itália, em que 71% dos mortos pela doença são homens.

O que leva à predominância masculina nas vítimas fatais da Covid-19?
Existe uma causa específica para atingir mais este perfil? Por o surto ser recente, os pesquisadores apontam que ainda não há estudos que respondam esta inquietação de forma efetiva.
Atuando no combate à epidemia no complexo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, o médico baiano especialista em Clínica Médica, Anthony Medina Conceição, atesta que, pela sua observação diária, o perfil dos pacientes que procuram atendimento é compatível com o que ocorre em países que foram afetados antes Brasil.
“A doença tem uma leve predominância do sexo masculino, a grande maioria são casos leves. A idade avançada parece ser um fator de risco por si só, mas temos que lembrar que os idosos geralmente possuem mais doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, problemas cardíacos e pulmonares, cânceres e maior fragilidade da saúde. Adultos não idosos, na faixa dos 40-50 anos, que possuem essas doenças, também têm maior risco e acabam desenvolvendo também formas graves”, explica em entrevista a Sanar.
Contudo, reforça o posicionamento de colegas ao dizer que ainda não existe uma explicação definitiva. “Na verdade, a quantidade de coisas que não sabemos sobre o novo coronavírus ainda é muito grande. Alguns cientistas postulam que o estrogênio (hormônio feminino) teria um efeito imunológico e protegeria um pouco mais as mulheres, baseado em conhecimentos que temos de outros vírus. Outros acreditam que existe até mesmo uma influência do tabagismo, que chega a ser realmente muito maior nos homens em alguns países. Mas ainda são hipóteses… Eu particularmente fico com a corrente que acredita mais na influência sociocultural, é sabido que homens tendem a ter menos cuidado com a própria saúde, menor preocupação com higiene, procuram menos o médico, desenvolvem um pouco mais doenças crônicas e principalmente cardiovasculares, que são as que parecem ter maior impacto”, detalha.
Voltando a citar a China, epicentro inicial da doença, a porcentagem de homens que fumam, de acordo com dados coletados pelo jornal americano The New York Times, é superior a 50%, em comparação com 2% das mulheres. E como o coronavírus ataca os pulmões, causando pneumonia, o tabagismo aumenta o risco de complicações quando há uma infecção pelo novo coronavírus, o que pode servir de explicação inicial para este questionamento.
Por fim, Medina destaca que não há uma estratégia específica para cada grupo, e que a ciência e os números mostram que os impactos causados pelo isolamento social e medidas de distanciamento, além de reforço na higiene, como de mãos com água e sabão e o uso do álcool em gel, são significativos.
“O isolamento apenas das populações de risco não garante que portadores assintomáticos, por exemplo, deixem de transmitir e colocá-los em risco. Portanto o isolamento é global! O uso de máscaras pelos doentes é indicado, e protege muito mais do que o uso pelos saudáveis. Se seguirmos as recomendações adequadas, aumentamos as chances de passar pela pandemia com a maior redução de danos possível, o que já é uma tarefa extremamente difícil, diante do impacto que o covid-19 já mostrou ter”, frisa.

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