O que fazer quando seu paciente não tem aderência ao tratamento?

O que fazer quando seu paciente não tem aderência ao tratamento?

Compartilhar
Imagem de perfil de Maitê Dahdal

Dra. Maitê Dahdal aborda aderência ao tratamento, os desafios e as soluções para tornar aderência do seu paciente melhor!

Um dos maiores desafios enfrentados no cuidado a pacientes crônicos todo santo dia na atenção primária à saúde, e na verdade, em qualquer nível de atenção, é a questão da adesão insuficiente aos tratamentos medicamentosos.

Nesse contexto, esse problema contribui para o agravamento dos quadros clínicos e com aumento dos custos financeiros e de recursos humanos.

O que exatamente é adesão?

A adesão a tratamentos se refere ao grau em que os comportamentos de um indivíduo, como a tomada de medicação, a aderência a uma dieta específica ou a adoção de mudanças no estilo de vida, coincidem e seguem as recomendações fornecidas por profissionais de saúde. É a medida em que as ações do paciente estão alinhadas com o plano de cuidados estabelecido em conjunto com os profissionais de saúde.

Nesse contexto, certos hábitos também são abrangidos pelo conceito de adesão. São eles:

  • Participar de acompanhamentos regulares com profissionais de saúde
  • Realizar exames de rotina

A falta de adesão por parte dos pacientes é considerada por alguns especialistas como um problema de saúde pública, sendo até mesmo descrita como uma “epidemia invisível”.

Taxas de não adesão variam de 15% a 93% entre os portadores de doenças crônicas, com uma média estimada em cerca de 50%. Triste, não é? Você imaginava isso?

Quais são os fatores que influenciam a adesão?

Múltiplos fatores podem afetar a adesão ao tratamento e podem estar relacionados às características do paciente como:

  • Sexo
  • Idade
  • Etnia
  • Estado civil
  • Nível de educação
  • Situação socioeconômica
  • À natureza da doença (se é crônica, se apresenta sintomas visíveis ou complicações a longo prazo)
  • Crenças sobre saúde, hábitos de vida e fatores culturais (como a percepção da gravidade do problema, o desconhecimento, a experiência familiar com a doença e a autoestima)
  • O próprio tratamento, incluindo o custo, os efeitos colaterais e a complexidade do regime terapêutico
  • Sistema de saúde (políticas de saúde, acesso aos serviços, tempo de espera versus tempo de atendimento)
  • Relacionamento com a equipe de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a adesão como um fenômeno multidimensional influenciado pela interação de cinco fatores, chamados de “dimensões”, sendo que os fatores ligados ao paciente são apenas uma parte desse conjunto.

É importante reconhecer que a visão comum de que os pacientes são unicamente responsáveis por seguir o tratamento é simplista e desconsidera como outros fatores podem influenciar o comportamento e a capacidade de aderência de uma pessoa ao tratamento. Também temos “culpa no cartório”, afinal, nossa relação médico-paciente, informações sobre o tratamento e a doença também corroboram para a adesão, além da prescrição de medicamentos acessíveis à realidade do paciente.

Alguns estudos internacionais que buscam entender as razões para a não adesão apontam para uma variedade de motivos, incluindo:

  • Esquecimento (30% dos casos)
  • Outras prioridades (16%)
  • Doses menores que as prescritas (11%)
  • Falta de informações (9%)
  • Fatores emocionais (7%)
  • Em cerca de 27% dos casos, os indivíduos não souberam especificar o motivo para a baixa adesão

Acesso aos medicamentos

Você sente que algo está faltando? Eu também: o acesso a medicamentos e cuidados de saúde, uma grande pedra no nosso país.

Em um estudo realizado no Brasil com hipertensos, identificaram-se fatores que contribuem para a não adesão aos medicamentos, incluindo:

  • O alto custo, mencionado por 89% dos indivíduos;
  • A necessidade de tomar vários medicamentos ao longo do dia (67%)
  • Efeitos colaterais indesejados (54%)

Quanto à doença em si:

  • 50% alegaram desconhecimento sobre a gravidade;
  • 36% não apresentavam sintomas visíveis, 83% tomavam a medicação apenas quando a pressão estava alta e 80% admitiram não cuidar regularmente da saúde. Além disso, 75% dos participantes admitiram esquecer de tomar os medicamentos e 70% não estavam cientes da natureza crônica e das possíveis complicações da doença.

Quando se trata do relacionamento com os médicos:

  • 51% mencionaram falta de convencimento para tratar a doença
  • 20% apontaram um relacionamento inadequado

Quais as consequências da não aderência?

Sob uma perspectiva econômica, estima-se que nos Estados Unidos a não aderência resulta em perdas de 100 bilhões de dólares anualmente, configurando uma situação de consequências graves, quase epidêmicas.

A não aderência a medicamentos como estatinas, aspirina e betabloqueadores por pacientes que sofreram infarto mais que triplica as taxas de mortalidade no primeiro ano após a alta hospitalar.

A hipertensão arterial não tratada corretamente responde por 25% dos casos de insuficiência renal crônica terminal que necessitam de diálise, 80% dos acidentes vasculares cerebrais e 60% dos casos de infarto do miocárdio.

Como o médico pode lidar com a aderência ao tratamento?

Primeiro passo precisamos reconhecer que melhorar a aderência a tratamentos não é uma responsabilidade exclusiva do médico ou do paciente isoladamente.

Apesar da proximidade com os pacientes, muitas vezes deixamos de abordar aspectos cruciais para a aderência, como as expectativas do paciente em relação ao tratamento, os efeitos terapêuticos e colaterais, informações sobre a doença em si.

Abordagens educacionais, motivacionais e lembretes

Sistemas de lembrete diário de medicação, através de:

  • Mensagens de texto
  • Chamadas automatizadas
  • Dispositivos audiovisuais

Podem ser soluções para o esquecimento, contribuindo para a adesão de pacientes com doenças crônicas.

Acesso aos serviços de saúde

Outro obstáculo é o acesso aos serviços de saúde. A falta de profissionais qualificados, a indisponibilidade de serviços e as barreiras de transporte podem limitar a adesão.

É essencial garantir o acesso da população a esses serviços, fornecer condições adequadas para o uso de dispositivos, adaptar a comunicação dos profissionais às necessidades dos pacientes e capacitar a equipe de saúde.

Intervenções direcionadas na aderência ao tratamento

A combinação de intervenções direcionadas aos pacientes tem se mostrado mais eficaz para melhorar a adesão ao tratamento em doenças crônicas, como o diabetes. As combinações incluem educação, gerenciamento de medicamentos e uso de sistemas de lembretes. A solução então é tentar tudo da jogada.

Não existe uma abordagem única que funcione para todos os grupos de pacientes ou condições. A combinação de intervenções aumenta a equidade, minimizando as limitações de técnicas isoladas.

Em resumo, garantir a aderência ao tratamento é um desafio complexo e multidimensional que requer esforços colaborativos de pacientes, profissionais de saúde e sistemas de saúde. A busca de soluções, incluindo intervenções personalizadas e a eliminação de barreiras econômicas e de acesso, é fundamental para melhorar os resultados de saúde e reduzir os custos associados à não aderência.

Conheça nossa Pós em medicina de família e comunidade!

Você deseja prestar assistência continuada, integral e abrangente ao seu paciente? Sua hora de dar um up na sua carreira chegou!

Na pós graduação da Sanar você terá acesso a:

  • Aulas teóricas
  • Telementorias
  • Imersão presencial
  • E muito mais!

Referências bibliográficas

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Síntese de evidências para polítcas de saúde: adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes portadores de doenças crônicas / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia. Brasília : Ministério da Saúde, 2016.
  • Mion, Decio & Gusmão, Josiane. (2006). Adesão ao Tratamento – o grande desafio da hipertensão. Revista Brasileira de Hipertensão. 13. 23-25. Tavares NUL, Bertoldi AD, Mengue SS, Arrais PSD, Luiza VL, Oliveira MA, et al. Fatores associados à baixa adesão ao tratamento farmacológico de doenças crônicas no Brasil. Rev Saúde Pública. 2016;50(supl 2):10s.

Sugestão de leitura complementar

Você também poderá se interessar por esses artigos: