Índice
- 1 O que exatamente é adesão?
- 2 Quais são os fatores que influenciam a adesão?
- 3 Acesso aos medicamentos
- 4 Quais as consequências da não aderência?
- 5 Como o médico pode lidar com a aderência ao tratamento?
- 6 Conheça nossa Pós em medicina de família e comunidade!
- 7 Referências bibliográficas
- 8 Sugestão de leitura complementar
Dra. Maitê Dahdal aborda aderência ao tratamento, os desafios e as soluções para tornar aderência do seu paciente melhor!
Um dos maiores desafios enfrentados no cuidado a pacientes crônicos todo santo dia na atenção primária à saúde, e na verdade, em qualquer nível de atenção, é a questão da adesão insuficiente aos tratamentos medicamentosos.
Nesse contexto, esse problema contribui para o agravamento dos quadros clínicos e com aumento dos custos financeiros e de recursos humanos.
O que exatamente é adesão?
A adesão a tratamentos se refere ao grau em que os comportamentos de um indivíduo, como a tomada de medicação, a aderência a uma dieta específica ou a adoção de mudanças no estilo de vida, coincidem e seguem as recomendações fornecidas por profissionais de saúde. É a medida em que as ações do paciente estão alinhadas com o plano de cuidados estabelecido em conjunto com os profissionais de saúde.
Nesse contexto, certos hábitos também são abrangidos pelo conceito de adesão. São eles:
- Participar de acompanhamentos regulares com profissionais de saúde
- Realizar exames de rotina
A falta de adesão por parte dos pacientes é considerada por alguns especialistas como um problema de saúde pública, sendo até mesmo descrita como uma “epidemia invisível”.
Taxas de não adesão variam de 15% a 93% entre os portadores de doenças crônicas, com uma média estimada em cerca de 50%. Triste, não é? Você imaginava isso?
Quais são os fatores que influenciam a adesão?
Múltiplos fatores podem afetar a adesão ao tratamento e podem estar relacionados às características do paciente como:
- Sexo
- Idade
- Etnia
- Estado civil
- Nível de educação
- Situação socioeconômica
- À natureza da doença (se é crônica, se apresenta sintomas visíveis ou complicações a longo prazo)
- Crenças sobre saúde, hábitos de vida e fatores culturais (como a percepção da gravidade do problema, o desconhecimento, a experiência familiar com a doença e a autoestima)
- O próprio tratamento, incluindo o custo, os efeitos colaterais e a complexidade do regime terapêutico
- Sistema de saúde (políticas de saúde, acesso aos serviços, tempo de espera versus tempo de atendimento)
- Relacionamento com a equipe de saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a adesão como um fenômeno multidimensional influenciado pela interação de cinco fatores, chamados de “dimensões”, sendo que os fatores ligados ao paciente são apenas uma parte desse conjunto.

É importante reconhecer que a visão comum de que os pacientes são unicamente responsáveis por seguir o tratamento é simplista e desconsidera como outros fatores podem influenciar o comportamento e a capacidade de aderência de uma pessoa ao tratamento. Também temos “culpa no cartório”, afinal, nossa relação médico-paciente, informações sobre o tratamento e a doença também corroboram para a adesão, além da prescrição de medicamentos acessíveis à realidade do paciente.
Alguns estudos internacionais que buscam entender as razões para a não adesão apontam para uma variedade de motivos, incluindo:
- Esquecimento (30% dos casos)
- Outras prioridades (16%)
- Doses menores que as prescritas (11%)
- Falta de informações (9%)
- Fatores emocionais (7%)
- Em cerca de 27% dos casos, os indivíduos não souberam especificar o motivo para a baixa adesão
Acesso aos medicamentos
Você sente que algo está faltando? Eu também: o acesso a medicamentos e cuidados de saúde, uma grande pedra no nosso país.
Em um estudo realizado no Brasil com hipertensos, identificaram-se fatores que contribuem para a não adesão aos medicamentos, incluindo:
- O alto custo, mencionado por 89% dos indivíduos;
- A necessidade de tomar vários medicamentos ao longo do dia (67%)
- Efeitos colaterais indesejados (54%)
Quanto à doença em si:
- 50% alegaram desconhecimento sobre a gravidade;
- 36% não apresentavam sintomas visíveis, 83% tomavam a medicação apenas quando a pressão estava alta e 80% admitiram não cuidar regularmente da saúde. Além disso, 75% dos participantes admitiram esquecer de tomar os medicamentos e 70% não estavam cientes da natureza crônica e das possíveis complicações da doença.
Quando se trata do relacionamento com os médicos:
- 51% mencionaram falta de convencimento para tratar a doença
- 20% apontaram um relacionamento inadequado
Quais as consequências da não aderência?
Sob uma perspectiva econômica, estima-se que nos Estados Unidos a não aderência resulta em perdas de 100 bilhões de dólares anualmente, configurando uma situação de consequências graves, quase epidêmicas.
A não aderência a medicamentos como estatinas, aspirina e betabloqueadores por pacientes que sofreram infarto mais que triplica as taxas de mortalidade no primeiro ano após a alta hospitalar.
A hipertensão arterial não tratada corretamente responde por 25% dos casos de insuficiência renal crônica terminal que necessitam de diálise, 80% dos acidentes vasculares cerebrais e 60% dos casos de infarto do miocárdio.
Como o médico pode lidar com a aderência ao tratamento?
Primeiro passo precisamos reconhecer que melhorar a aderência a tratamentos não é uma responsabilidade exclusiva do médico ou do paciente isoladamente.
Apesar da proximidade com os pacientes, muitas vezes deixamos de abordar aspectos cruciais para a aderência, como as expectativas do paciente em relação ao tratamento, os efeitos terapêuticos e colaterais, informações sobre a doença em si.
Abordagens educacionais, motivacionais e lembretes
Sistemas de lembrete diário de medicação, através de:
- Mensagens de texto
- Chamadas automatizadas
- Dispositivos audiovisuais
Podem ser soluções para o esquecimento, contribuindo para a adesão de pacientes com doenças crônicas.
Acesso aos serviços de saúde
Outro obstáculo é o acesso aos serviços de saúde. A falta de profissionais qualificados, a indisponibilidade de serviços e as barreiras de transporte podem limitar a adesão.
É essencial garantir o acesso da população a esses serviços, fornecer condições adequadas para o uso de dispositivos, adaptar a comunicação dos profissionais às necessidades dos pacientes e capacitar a equipe de saúde.
Intervenções direcionadas na aderência ao tratamento
A combinação de intervenções direcionadas aos pacientes tem se mostrado mais eficaz para melhorar a adesão ao tratamento em doenças crônicas, como o diabetes. As combinações incluem educação, gerenciamento de medicamentos e uso de sistemas de lembretes. A solução então é tentar tudo da jogada.
Não existe uma abordagem única que funcione para todos os grupos de pacientes ou condições. A combinação de intervenções aumenta a equidade, minimizando as limitações de técnicas isoladas.
Em resumo, garantir a aderência ao tratamento é um desafio complexo e multidimensional que requer esforços colaborativos de pacientes, profissionais de saúde e sistemas de saúde. A busca de soluções, incluindo intervenções personalizadas e a eliminação de barreiras econômicas e de acesso, é fundamental para melhorar os resultados de saúde e reduzir os custos associados à não aderência.
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Referências bibliográficas
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Síntese de evidências para polítcas de saúde: adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes portadores de doenças crônicas / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia. Brasília : Ministério da Saúde, 2016.
- Mion, Decio & Gusmão, Josiane. (2006). Adesão ao Tratamento – o grande desafio da hipertensão. Revista Brasileira de Hipertensão. 13. 23-25. Tavares NUL, Bertoldi AD, Mengue SS, Arrais PSD, Luiza VL, Oliveira MA, et al. Fatores associados à baixa adesão ao tratamento farmacológico de doenças crônicas no Brasil. Rev Saúde Pública. 2016;50(supl 2):10s.
Sugestão de leitura complementar
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