Pesquisa feita nos EUA pelo instituto de imunologia La Jolla mostrou resultados animadores com relação à memória imunológica para covid. O estudo feito com 185 indivíduos, sendo 43% homens, 57% mulheres com faixa etária entre 19 a 81 anos, representou uma variedade de casos de COVID-19 assintomáticos, leves, moderados e graves que foram recrutados em vários locais nos Estados Unidos. Foi avaliado ao longo de 8 meses após a infeção que os pacientes ainda tinham anticorpos.
O que é memória imunológica?
É a capacidade do sistema imune de reconhecer rapidamente e especificamente um antígeno invasor que tenha entrado em contato, seja por infecções ou por vacinação. Geralmente estas são respostas secundárias, terciárias e outras subsequentes respostas imunes ao mesmo antígeno. A memória imunológica é responsável pelo componente adaptativo do sistema imunitário, constituída por células T e B especiais, as denominadas células T de memória e células B de memória.
A resposta primária é a reação do organismo quando entra em contato pela primeira vez com uma substância considerada estranha. O resultado é a ativação inicial do sistema macrofágico, seguida de ativação do sistema linfocítico. Na resposta secundária, por sua vez, o organismo já manteve contato prévio com a substância estranha. Há ativação sequencial de sistema macrofágico e linfocítico. Uma grande diferença é que na resposta secundária o organismo já conta com a presença de linfócitos B e T de memória.
O uso das vacinas é para que o organismo tenha um contato inicial com agentes atenuados fornecidos pelas imunizações e, diante de um agente agressor in natura, possua uma melhor defesa pelas células de memória, fazendo com que, na maioria dos casos não apareçam sintomas ou sinais clínicos ou estes sejam frustros.

Anticorpos
A avaliação da memória imunológica específica do vírus durante pelo menos um período de 6 meses é provavelmente necessária para verificar a durabilidade da memória imunológica para o SARS-CoV-2. Dadas as evidências de que anticorpos, células T CD4 + e células T CD8 + podem participar da imunidade protetora ao SARS-CoV-2, medimos anticorpos específicos do antígeno, células B de memória, células T CD4 + e células T CD8 + no sangue de indivíduos que se recuperaram de COVID-19, até 8 meses após a infecção.
Ao avaliar exames dos pacientes nesse período, os cientistas perceberam que cada um dos diferentes tipos de memória imunológica tinha uma cinética distinta, resultando em inter-relações complexas entre a abundância de células T, células B e memória imunológica de anticorpos ao longo do tempo. Porém, segundo eles, o suficiente para combater uma segunda infeção.
Segundo os pesquisadores, seria o primeiro estudo a mapear a resposta imunológica a um vírus em detalhes tão granulares, “Com certeza, não temos antecedentes aqui”, disse o Dr. Gommerman, imunologista da universidade de Toronto. “Estamos aprendendo, acho que pela primeira vez, sobre algumas das dinâmicas dessas populações ao longo do tempo.”
Ainda é difícil de afirmar quanto tempo dura a memória imune, os cientistas ainda não sabem quais níveis de várias células do sistema imunológico são necessários para se proteger do vírus. Os participantes do estudo têm feito essas células em grandes quantidades – até agora. “Não há sinal de que as células de memória vão cair repentinamente, o que seria um tanto incomum”, disse Iwasaki, imunologista da Universidade de Yale, “Normalmente, há uma decadência lenta ao longo dos anos.”

Apesar dos resultados satisfatórios, os autores alertam: “Observamos heterogeneidade na magnitude das respostas imunes adaptativas ao SARS-CoV-2 persistindo na faz de memória imunológica. É, portanto, possível que uma fração da população infectada com SARS-CoV-2 com baixa memória imunológica se torne suscetível à reinfecção relativamente em breve.”
CONCLUSÃO
As descobertas são consistentes com evidências encorajadoras. Cerca de 95% dos indivíduos mantiveram a memória imunológica em aproximadamente 6 meses após a infecção. O próximo passo é avaliar se isso vai persistir por mais alguns meses e como será em pessoas vacinadas. A Dra. Jennifer Gommerman, imunologista da Universidade de Toronto, acredita que as vacinas vão superar essa variabilidade individual tornando ainda mais eficaz a memória imunológica contra o vírus SARS-CoV-2. O estudo deve se aprofundar mais com relação às novas variantes, pois casos de reinfecção têm se mostrado constantes após o surgimento das novas cepas, no entanto, o estudo pode ajudar a entender a durabilidade das vacinas já disponíveis.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências:
DAN, Jennifer, et al. Immunological memory to SARS-CoV-2 assessed for greater than six months after infection. Disponivel em: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.11.15.383323v1.full#T1
New York Times. Immunity to the Coronavirus May Last Years, New Data Hint. Disponível em:https://www.nytimes.com/2020/11/17/health/coronavirus-immunity.html?auth=login-email&login=email
Popular Science. COVID-19 immunity could be long term. Disponível em: https://science.sciencemag.org/content/371/6529/eabf4063
Galileu. Memória imunológica contra Covid-19 foi mensurável 8 meses após infecção. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2021/01/memoria-imunologica-contra-covid-19-foi-mensuravel-8-meses-apos-infeccao.html