Após a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a realização dos testes rápidos referentes ao diagnóstico do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em drogarias e farmácias por todo o Brasil, alguns questionamentos começaram a surgir quanto ao que esses possíveis resultados querem dizer.
Afinal, apesar dessa liberação, na própria nota a Anvisa sinaliza que os resultados dos testes rápidos não devem ser utilizados como único critério diagnóstico.
Devido aos índices de falsos negativos durante o início do contágio e uma resposta que não é capaz de apontar se há a infecção da doença ou se ela já não está mais ativa no corpo, os resultados parecem dúbios, mesmo com a determinação da agência de que esses resultados dos testes devem ser informados às autoridades.

Apesar de outros países, como a Coréia do Sul, por exemplo, também terem feito uso de tecnologias de testes rápidos para lidar mais agilmente com a pandemia, os tipos de testes realizados no Brasil são diferentes dos aplicados em alguns outros países, e isso acontece por uma série de fatores.
O principal deles é o tipo de teste. No Brasil o teste rápido realizado é o chamado sorológico, que é capaz de medir os anticorpos que o corpo produz contra a Covid-19.
Para isso, são medidos os níveis de IgG, que é produzido a partir de três semanas após o início da infecção e que perdura por um longo tempo nos resultados de testes, bem como o IgM, que começa a surgir a partir de cerca de 12 dias após o início da infecção, mas que desaparece após algumas poucas semanas.

Em todo caso, o teste não é capaz de verificar a presença do vírus no organismo, apenas apontar a existência dos anticorpos mencionados anteriormente.
Isso só acontece se a pessoa tiver entrado em contato prévio com o vírus e desenvolvido uma quantidade suficiente de anticorpos que, a partir daí, podem ser verificados. Apesar de ser um teste de valor inferior e mais fácil de aplicar, ele não pode ser utilizado como ferramenta para um diagnóstico apropriado.
O outro teste rápido, que é fabricado principalmente na Coréia do Sul e Estados Unidos é uma versão rápida do chamado RT-PCR, que funciona de maneira molecular.
Nesse teste é utilizado um “swab” para coletar uma amostra no interior da garganta. Apesar de mais caro, bem mais desconfortável e de exigir um preparo de equipe e ambiente de teste muito maior, é considerado um dos melhores para detecção de RNA, ou seja, material genético.
O RT-PCR também é usado no Brasil, porém em sua versão lenta, que só pode ser feita em hospitais devidamente equipados, bem como laboratórios. Cientes de que nenhum teste é perfeito, fora do Brasil as pessoas são submetidas a vários testes para garantir que o resultado seja condizente com a realidade, uma vez que a molécula de RNA se deteriora facilmente.
Nos países em que os testes rápidos foram utilizados com sucesso, os resultados positivos eram aproveitados para além do diagnóstico, na possibilidade de rastrear outras pessoas que poderiam ter entrado em contato com o vírus.

Utilização dos testes rápidos no Brasil
No momento, os testes rápidos disponíveis no Brasil não podem ser utilizados para diagnóstico precoce. Com um período de cerca de 12 dias para apresentar os anticorpos necessários, uma testagem em massa poderia apontar uma grande quantidade de falsos negativos, passando uma sensação de segurança que seria completamente falsa, e poderia fazer parecer que a situação pandêmica é menor do que a realidade.
Nos casos de pacientes que já chegam para internamento nos hospitais, o teste pode ser utilizado para confirmar uma suspeita diagnóstica, considerando que esse paciente chegaria com um histórico de sintomas para atendimento especializado.
Nesse sentido, a testagem poderia ser utilizada para aproximar as pesquisas do número real de mortalidade, devido às grandes chances dessas pessoas já terem no organismo uma alta quantidade de anticorpos.

Até o momento, os testes disponíveis de maneira rápida não são confiáveis o bastante para serem utilizados de forma a garantir a segurança das pessoas. Além disso, a disponibilidade da testagem em farmácias seria paga, o que faria com que a amostra fosse restrita apenas a pessoas que poderiam fazer a compra desse procedimento. Isso não representaria adequadamente a realidade, sustentando informações difíceis de validar.
