Desde o início da pandemia em curso, profissionais da saúde tem buscado entender e aprimorar suas estratégias de atendimento ao paciente grave de COVID-19. Com isto, o compartilhamento das descobertas entre pesquisadores e profissionais tem se tornado um importante meio de refinamento dos melhores métodos de ventilação mecânica e acurácia avaliativa para tomada de decisão.
É neste viés que a pesquisa “COVID‑19 pneumonia: different respiratory treatments for different phenotypes?” levanta novas perspectivas acerca dos pacientes hospitalizados por esta doença. Os autores observaram em alguns pacientes a combinação de hipoxemia grave com complacências pulmonares praticamente mantidas em níveis fisiológicos (combinação quase nunca vista na SDRA).
O que chamou a atenção dos profissionais da saúde foi justamente a discrepância entre dois cenários de pacientes com uma infecção comum (SARS-CoV-2) evoluindo com duas apresentações clínicas distintas. Assim, houve a necessidade de repensar inclusive a estratégia ventilatória de alguns destes pacientes. Determinados indivíduos apresentaram inclusive a chamada “hipoxemia silenciosa”, na qual pacientes com baixos níveis de PaO2 apresentam-se eupneicos, no entanto outros apresentam notórios sinais de desconforto respiratório.
Todos estes achados no campo de batalha frente a pandemia fizeram Gattinoni L. et al. Observarem duas apresentações primárias da doença em que dentro da evolução, o doente pode transitar entre os dois fenótipos: Tipo L e Tipo H.

Mas do que se tratam esses fenótipos?
Bom, a essa altura do campeonato você deve estar se perguntando como essa compreensão do curso da COVID-19 alteram a sua abordagem avaliativa sobre o paciente e a própria tomada de decisão clínica. O que se sabe é que fatores como a gravidade da infecção, resposta do hospedeiro, reservas fisiológicas e o tempo decorrido de hospitalização pode exercer influências diretas sobre o comportamento das capacidades pulmonares do indivíduo.
Fenótipo L:
Do inglês: low (baixo), sabe-se que indivíduos nesta condição apresentam baixa elastância, o volume de gás no pulmão beira a normalidade (o fenótipo L então possui um baixo potencial de recrutamento em VMI). Assim, são capazes de aumentar o volume corrente em resposta a hipoxemia, apresentando-se sem dispneia. No entanto, graças a este efeito, há um aumento da pressão negativa intratorácica, o que está associado ao edema intersticial no pulmão. Esse mecanismo explica a evolução ao fenótipo H.
Fenótipo H:
Ao contrário do caso supracitado, o paciente de fenótipo H (do inglês: High= alto) apresenta alta elastância e, por conseguinte, baixa complacência. Normalmente, os pacientes nesta circunstância evoluem de um fenótipo L em seu estágio inicial até apresentar as características do fenótipo H, com um maior peso pulmonar (graças ao edema), e volumes de gás reduzidos, sendo um pulmão mais recrutável.

Conclusão
Existe um caminho a se percorrer na compreensão do completo manejo dos pacientes da COVID-19, porém pesquisadores e clínicos caminham a passos largos nas suas investigações e adaptações para o atendimento destes pacientes. A constante leitura das atualizações científicas nos mostra o caminho, que hoje tem apontado para adequações caso a caso baseados nestes perfis de pacientes.