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As duas vacinas aprovadas para uso emergencial nos Estados Unidos mostraram perfil de segurança tranquilizador. Porém, houve um desbalanço de casos de Paralisia de Bell nos estudos de fase 3, com mais casos no grupo vacina em comparação ao grupo placebo.
Neste post relembraremos os dados da literatura sobre associação de Paralisia de Bell com vacinas, falaremos sobre possíveis mecanismos explicativos para tal fenômeno e, por fim, revisaremos os dados estatísticos sobre a segurança das vacinas.
Paralisia de Bell e outras vacinas
Os dados dos estudos sobre Paralisia de Bell e vacinas são muito extensos para a vacina contra o vírus Influenza. Elevada incidência da Paralisia de Bell foi registrada após administração da vacina intranasal de vírus Influenza inativado.
Após vacinação parenteral com a vacina da Influenza, sinais consistentes com Paralisia de Bell também foram reportados.
Porém, a associação de Paralisia de Bell e vacina parenteral da Influenza não se reproduziu em outros estudos.
Na vacina conjugada de Meningococo, associação significante também foi reportada, principalmente quando administrada juntamente com outras vacinas como a da Influenza, HPV e DTP. Entretanto, estudos similares não detectaram a associação, e esta não ficou comprovada devido à falta de consistência com as demais pesquisas.
O que explicaria a associação da Paralisia de Bell e vacinas
Uma das explicações para a possível associação da paralisia e vacinas é que as vacinas poderiam despertar autoimunidade do hospedeiro.
Isto poderia ocorrer tanto por mimetização de moléculas do hospedeiro pelos componentes vacinais, ou por ativação de células T autorreativas que estavam quiescentes.
Porém, estas são apenas teorias, que esbarram em alguns problemas quando consideramos as vacinas contra o SARS-CoV-2.
Por exemplo, as vacinas da COVID-19 não contém adjuvantes exógenos. No caso da vacina da Pfizer, membros da empresa e da FDA cogitam a possibilidade da vacina induzir ativação imune inata, com produção de interferon, que por sua vez poderia quebrar a tolerância periférica imune temporariamente, favorecendo reação autoimune.
Dados estatísticos sobre a segurança das vacinas
Como foi dito logo no início deste post, segundo os dados publicados, a incidência da Paralisia de Bell no grupo vacinado com as vacinas da Pfizer e Moderna foi maior no grupo vacinado, comparado à incidência no grupo placebo.
Apesar de ter sido divulgado que a incidência no grupo vacina estava de acordo com a incidência na população geral, quando considerados o número de participantes e o tempo de seguimento, a incidência no grupo vacina foi maior que a incidência na população, sugerindo um alerta para a segurança destas vacinas.
Conclusão: devemos confiar nas vacinas?
Apesar do apresentado, é necessário ressaltar que apenas estudos robustos, que busquem avaliar a potencial associação entre Paralisia de Bell e as vacinas, poderão confirmar a hipótese.
Se faz ainda necessário ponderar que a esta paralisia é considerada patologia com auto-resolução, e que diante do contexto de pandemia, as vacinas de RNAm já disponíveis beneficiam a saúde pública como um todo.
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Referências
Bell’s palsy and SARS-CoV-2 vaccines – The Lancet Infectious Diseases