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É possível relacionar os piores desfechos na COVID-19 com comorbidades como obesidade e hipertensão e as diferenças sociais? Sabemos que a presença de tais fatores de risco (obesidade e hipertensão) aumentam a chance de desenvolver COVID-19 na sua forma grave, porém, este risco também se encontra aumentado em indivíduos pertencentes a classes sociais minoritárias e mais vulneráveis.
Dessa forma, pretendemos abordar neste post alguns fatores que podem estar associados às tendências assimétricas em alguns grupos de pessoas.
Obesidade e hipertensão: uma tendência crescente
Dois estudos recentes, publicados no JAMA, mostram duas tendências crescentes na população americana: o aumento da prevalência da obesidade em crianças e adultos, e o aumento do descontrole, ou da falta de sucesso, em controlar a hipertensão, apesar de tratamento disponível.
Essas duas prevalências permanecem assustadoramente altas e, apesar da tendência ser geral para toda população americana, há uma desproporcionalidade quando se observa dados entre grupos étnicos e raciais minoritários.
Tanto a prevalência de obesidade, como o pior controle da hipertensão, são maiores em indivíduos adultos negros, quando comparados com adultos brancos.
A confluência entre obesidade, hipertensão e diferenças sociais
A confluência, ou a linha comum da qual falamos, entre as diferenças sociais e maior prevalência de obesidade e hipertensão, não tem como origem um único fator. Há uma complexa interação entre diversos fatores, incluindo determinantes sociais de saúde e consequências do racismo estrutural.
As evidências são claras e apontam que a propensão em desenvolver obesidade é fortemente influenciada por fatores sociais e ambientais, nos quais crianças nascem, crescem e envelhecem.
Os estudos indicam fatores como alimentação caracterizada por alta ingestão de fast food, acesso limitado a frutas e vegetais frescos, e ainda estilo de vida pobre em exercício físico, presentes em crianças que crescem em comunidades raciais segregadas, influenciam e aumentam a chance de desenvolver obesidade e hipertensão.
COVID-19 em indivíduos de grupos minoritários
As disparidades encontradas em determinados grupos raciais minoritários é parte do legado do racismo estrutural. Os efeitos devastadores da COVID-19 em tais indivíduos estão correlacionados intimamente a tais fatores.
Além da vulnerabilidade devido a maior prevalência de comorbidades, há ainda fatores econômicos que tornam estes indivíduos ainda mais expostos.
Podemos citar o aumento da exposição dessa população durante a pandemia da COVID-19, relacionado à maior presença nos setores considerados prestadores de serviços essenciais, além de capacidade limitada de manter distanciamento social devido condições de moradia.
Conclusão: intervenções necessárias são de longo prazo e multifatoriais
Para reduzirmos as disparidades expostas, se faz necessárias intervenções múltiplas, abordando as diversas disparidades socioeconômicas e raciais em sua base, nos fatores contextuais e determinantes que levam à promoção de comorbidades como hipertensão e obesidade.
As abordagens que visam apenas mudanças comportamentais individuais, isolando-as do contexto amplo, social e ambiental, terão menor potencial de trazer benefícios, em comparação com aquelas abordagens multifatoriais.
Essas devem incluir intervenções na comunidade, no ambiente e na vigilância de populações vulneráveis. Em adição, pesquisas visando buscar estratégias de redução das disparidades em saúde podem ser bastante úteis.
As pesquisas podem partir de níveis mais básicos, como aquelas que buscam elucidar fatores biológicos que aumentam a susceptibilidade do indivíduo desenvolver doença, ou ser resistente ao tratamento.
Podem, ainda, serem mais avançadas, utilizando grandes bancos de dados para desenhar estratégias de prevenção precisas que se adequam e são mais eficazes nas populações vulneráveis.
Somente assim poderá se promover ambiente de crescimento e desenvolvimento adequado para crianças e adultos, onde a equidade permite que a cor da pele, o ambiente social e a situação econômica não sejam determinantes para piores desfechos na COVID-19.
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