Carreira em Medicina

Por que até 60% dos médicos recém formados no Norte do país estão em outras regiões?

Por que até 60% dos médicos recém formados no Norte do país estão em outras regiões?

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Onde estão os médicos recém formados do Brasil? Vamos entender as razões que explicam a concentração deles no Sudeste?

Ano após ano, o número de médicos recém formados no Brasil aumenta. Novos cursos de medicina são abertos em todos os estados do país. Mesmo com esse cenário, o que explica a concentração dos médicos em exercício na região Sudeste?

Neste texto, vamos tentar traçar algumas possíveis explicações para os problemas enfrentados pela regionalização plena da medicina no país.

O que faz o médico se deslocar para as regiões Norte e Nordeste?

Segundo a Demografia Médica no Brasil 2020, o país conta com meio milhão de médicos. Entretanto, 53,2% desses profissionais estão atuando no Sudeste. A título de comparação, cerca de 42,2% dos brasileiros residem nos quatro estados que formam a região. 

A abertura das novas vagas em cursos de graduação é uma das explicações para a marca de 500 mil médicos em atuação no país.

Parte disso é fruto do Programa Mais Médicos, que previa a abertura de novas vagas e criação de cursos de Medicina. Sem mencionar a criação de novos programas de residência médica.  

Essa abertura se deu em todas as regiões do país. Por exemplo, diversas cidade diversas cidades que, até então, não tinham graduações na área disponíveis, foram atingidas por esse processo.

O que esses números não indicam são os movimentos migratórios que existem, dentro do Brasil, com os estudantes de medicina.

Um levantamento do Conselho Federal de Medicina sobre esses fluxos ilustra bem o problema. No Acre, dos 240 médicos formados desde 2018, (62,9%) não se registraram no estado.

O Conselho analisou, também, os fluxos entre médicos formados e médicos registrados em outros estados entre 2018 e 2021. O resultado? Depois do Acre, o estados que possuem as maiores porcentagens de médicos recém-formados em outros estados estão no Norte/Nordeste:

  • Rondônia – Que formou 878 médicos e teve 448 deles registrados em outros estados;
  • Paraíba – Que formou 3.042 médicos e teve 1306 deles registrados em outros estados.

A unificação de diversos vestibulares, com a implantação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi uma das facilitadoras para esses fluxos migratórios.

Se antes os estudantes tinham que se deslocar para as cidades de cada vestibular, hoje essa realidade é brutalmente diferente.

Por que os médicos recém formados deixam essas regiões?

Quando pensamos na carreira médica, a interiorização e a abertura de novas vagas de cursos de graduação resolvem uma parte do problema. 

Pensar a fixação dos médicos recém formados nesses locais é, por exemplo, pensar onde estão os programas de residência.

Segundo a Demografia Médica no Brasil 2020, 57,3% do total de residentes do Brasil está na Região Sudeste. A região concentra, também, mais da metade dos programas de residência médica existentes no país.

Como podemos, então, traçar uma jornada profissional de um médico recém-formado fora das cidades litorâneas, das cidades de grande porte e das que estão no Sudeste?

Citado anteriormente como um exemplo desse fluxo migratório desigual, o Acre está localizado no Norte. Apenas 3,7% dos programas de residência médica estão nesta região do país.

O aumento no número de vagas pra residência acompanhou os fluxos expansionistas da educação médica no país. Se, em 2010, tínhamos 9.563 residentes no Brasil, em 2019 o número era superior aos 17 mil.

A infraestrutura precária de algumas dessas cidades é outro fator que intensifica a migração dos médicos recém formados. 

Para Karol Barreto, médica formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), muitos médicos saem desses locais por essas razões.

“Sabemos que os empregos oferecidos não possuem planos de carreira bem estabelecidos e que o médico fica, muita das vezes, à mercê dos políticos e autoridades de um município”, disse a médica.

Polêmica envolvendo as faculdades privadas e o STF

A discussão sobre a regionalização da carreira médica voltou a ser discutida com as movimentações no Supremo Tribunal Federal (STF). 

Encabeçada pela Associação de Universidades Particulares (Anup), o que está sendo debatido no STF são algumas prerrogativas da Lei do Mais Médicos.

O que a Associação defende é que algumas limiares de universidades privadas para a abertura de novas vagas em cursos de Medicina vão de encontro ao pregado pela Lei.

A Anup defende que, em vez de criar novas vagas em instituições que já oferecem o curso, o que foi estabelecido no programa implicaria na oferta em outras unidades.

Para a Extra Classe, Elizabeth Guedes, presidente da Anup, disse que essa movimentação reflete um atentado contra a qualidade da formação médica”.

Por aqui, seguiremos acompanhando os desdobramentos deste debate histórico. O que todos concordam é que, para que a medicina se torne cada vez mais descentralizada, uma série de intervenções mais profundas deverão ser feitas.

Além da criação de novas vagas, é importante que os programas de residência e as oportunidades profissionais para médicos sejam objeto de análise em todos os estados do país.

Sugestão de leitura complementar


Fontes: Conselho Federal de Medicina, Folha de São Paulo, Demografia Médica no Brasil de 2020.