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Por que modelos epidemiológicos são importantes para a pandemia

Por que modelos epidemiológicos são importantes para a pandemia

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Tossir, ter febre ou sentir falta de ar são sintomas clínicos que indicam a possível contaminação pelo novo coronavírus. Mensurar a incidência desses sintomas dentro do contexto de uma cidade, estado e até do país é necessário para que autoridades possam definir políticas públicas de atuação. Essas estimativas são possíveis por causa de um motivo: a existência de modelos epidemiológicos.

Não se sabe ao certo como a epidemiologia surgiu, mas tem-se em Hipócrates o responsável por lançar as principais bases desse estudo. Foi Hipócrates o primeiro a sugerir que as causas das doenças não eram intrínsecas ao indivíduo, nem necessariamente desígnios divinos.

Por outro lado, as doenças tinham relação com características do ambiente. A partir daí, foram lançadas as bases para que se procurasse as causas de doenças. Esse é o principal norte da epidemiologia até hoje.

Em geral, é a epidemiologia a responsável por:

  • Descrever a propagação das enfermidades nas populações;
  • Levantar dados que permitam o planejamento, a execução e a avaliação de ações preventivas, de controle e tratamento das doenças;
  • Proporcionar dados que permitam a definição de prioridades;
  • Identificar fatores que causam as doenças.

O que são modelos epidemiológicos

No caso do novo coronavírus, os estudos ainda estão em andamento. No entanto, os modelos epidemiológicos existentes ajudam a entender a propagação da doença e que medidas podem ser adotadas para conter a disseminação do vírus.

Desses estudos são extraídas conclusões, como a importância do distanciamento social e de se evitar tocar em superfícies públicas.

Os modelos epidemiológicos partem de duas hipóteses:

  • Compartimentalização – Considera indivíduos suscetíveis, infectados e recuperados, que podem se deslocar entre os compartimentos. Isso quer dizer que, quando um indivíduo suscetível entra em contato com um infectado, pode se tornar infectado também. Caso combata o agente patógeno, se torna recuperado e fica imune.
  • Mistura homogênea – Assume que cada indivíduo tem a mesma chance de entrar em contato com um indivíduo infectado, considerando que a rede de contatos é aleatória.

Essas duas hipóteses são bases para três estruturas de modelos epidemiológicos.

Modelo SI

O modelo matemático SI prevê que, no início de uma epidemia, a fração de indivíduos infectados aumenta exponencialmente, já quem um indivíduo infectado encontra apenas indivíduos suscetíveis e permite que o patógeno se dissipe facilmente. Conforme o tempo passe, o indivíduo infectado deixa de encontrar pessoas suscetíveis.

Por esse modelo, a propagação da doença diminui à medida que o tempo passa. A epidemia termina quando todos forem infectados.

Modelo SIS

O modelo SIS considera a possibilidade de vulnerabilidade mesmo após o indivíduo ser infectado e ter vencido a doença.

Funciona assim: o indivíduo suscetível pode ser infectado ao entrar em contato com o patógeno e, depois de o organismo derrotar a infecção, ele volta a ser suscetível. Desse modo, ele não poderá infectar ninguém até que seja infectado novamente.

Modelo SIR

O diferencial do modelo SIR é incluir o grupo de pessoas recuperadas da doença. Elas não serão infectados de novo, porque o organismo já está imune. Da mesma forma, não transmitirão a doença.

Conceitos importantes dos modelos

Para chegar às projeções dos modelos epidemiológicos, alguns conceitos são importantes. São eles:

  • Tempo característico;
  • Número básico de reprodução – O número médio de indivíduos suscetíveis infectados por um indivíduo infectado durante o período de infecção;
  • Taxa de transmissibilidade – A velocidade com que a doença se espalha;
  • Taxa de propagação – Vai depender das características biológicas do agente patogênico, e é definida para prever quando esse agente em circulação na população persiste no modelo SIS;
  • Limiar de epidemia – Considera que o agente patogênico pode se espalhar apneas se sua taxa de propagação exceder esse nível.

Importância dos modelos epidemiológicos

Os cálculos estatísticos feitos pelos modelos epidemiológicos têm grande importância para o tratamento de epidemias. No caso do novo coronavírus, levaram autoridades a definir estratégias de atuação em diferentes cenários.

Logo nos primeiros casos no Brasil, por exemplo, as recomendações para qualquer fase de transmissão incluíam etiqueta respiratória, isolamento de sintomáticos, uso de equipamentos de proteção individual para infectados e expostos ao vírus.

No cenário de transmissão local, as recomendações já eram mais específicas. Por exemplo, disponibilização de pias e utensílios para higiene das mãos, e até adiamento ou cancelamento de eventos com aglomerações.

Já no contexto de transmissão comunitária, autoridades recomendaram redução do deslocamento laboral, com incentivo a reuniões virtuais e trabalho home office; redução do fluxo urbano, com escalas de trabalho diferenciadas; suspensão de atividades escolares presenciais e até declaração de quarentena, caso se alcance o percentual de 80% da ocupação dos leitos de UTI.

Inclusive, as projeções de ocupação dos leitos também são resultado de cálculos matemáticos decorrentes de variáveis, como número de infectados, taxa de transmissão e propagabilidade, entre outras.

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