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Definição
Farmacodermia é uma resposta dermatológica indesejada a determinado fármaco, ou seja, qualquer efeito adverso que atinge a pele, mucosas e/ou anexos cutâneos, na sua estrutura ou função. As farmacodermias estão entre as reações adversas a medicamentos (RAM) mais comuns, que se apresentam em um espectro de manifestações clínicas, desde lesões isoladas (p. ex. eritema multiforme) até quadros generalizados (p. ex. síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica).
Epidemiologia
No Brasil, a ocorrência de farmacodermias remete à facilidade de aquisição e à imprudência na prescrição de medicamentos. Estima-se que esse conjunto de reações consiste de 10 a 30% das RAM registradas, sendo a incidência estimada de 0,25% na população em geral e de 5 a 10% de todos os pacientes que fazem uso de medicamentos. Nesse sentido, as RAM são importantes dilemas de saúde pública, associando-se à hospitalização de pacientes, ao aumento da morbimortalidade, a gastos dos sistemas de saúde e ao prolongamento do tempo da internação.
Fisiopatologia
A farmacodermia pode ser causada por mecanismos imunológicos e não imunológicos (mais frequentes), os quais sofrem influência tanto ambiental quanto genética. São eles: reação alérgica, dose excessiva de fármaco, dose usual do fármaco por reação individual (idiossincrasia) e/ou interação medicamentosa. Quando ocorre por reação alérgica, resulta de reações de hipersensibilidade a fármacos e não depende da dose medicamentosa, mas sim da susceptibilidade do indivíduo.
Várias classes farmacológicas estão relacionadas a possíveis RAM em pacientes com perfis distintos (localidade, faixa etária, histórico de comorbidades etc.), a saber: antibióticos, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), anticonvulsivantes, antipsicóticos, antidiabéticos, anti-hipertensivos, imunossupressores, entre outros. Logo, é essencial orientar e alertar a população quanto à automedicação e aos riscos da ingesta de múltiplos medicamentos sem o devido acompanhamento.
Quadro clínico – Eritema polimorfo ou multiforme (EM)
Conjunto de manifestações de início agudo que podem acometer pele e/ou membranas mucosas por meio de lesões anulares, com centro de halo violáceo ou eritematoso separadas por um anel pálido – denominadas lesões “em íris” ou em forma de alvo. Com a progressão do quadro, pode haver simultaneamente máculas eritematosas, pápulas, urticas, vesículas e/ou bolhas, distribuídas de maneira simétrica e centrípeta. O EM ocorre principalmente em face, dorso e em extremidades e cursa com conservação do estado geral.

Quadro clínico – Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e Necrólise epidérmica tóxica (NET)
A SSJ e a NET atualmente são consideradas espectros distintos de uma mesma enfermidade – a necrólise epidérmica -, diferenciando-se pela distribuição e exacerbação das manifestações clínicas. Ambas são caracterizadas pela necrose de queratinócitos, com consequente descolamento da epiderme, acometimento mucoso (uretrite, estomatite, vulvovaginite, conjuntivite etc.) e aparecimento de sintomas constitucionais (febre, mialgia, astenia etc.).
Com 1 a 3 semanas após a utilização do fármaco, os pacientes referem febre, mal-estar, cefaleia, tosse e/ou ceratoconjuntivite – os chamados pródromos. Surgem, posteriormente, as lesões cutâneas que podem coalescer e formar grandes bolhas (sinal de Nikolsky positivo), com ou sem crostas.
Na SSJ, o descolamento epidérmico é de até 10% da superfície corporal; já na NET, a descamação da epiderme acomete 30% ou mais da superfície corporal. O dorso e as nádegas são importantes áreas afetadas, sendo que, em estágios mais avançados, o paciente fica com a aparência de um grande queimado, com constante descamação, derme exposta, sangrante e eritematopurpúrica.
O acometimento mucoso, se não tratado precocemente, pode levar a uma série de sequelas graves, como cegueira, ceratite, erosões da córnea e síndrome de Sjögrensecundária. A reepitelização ocorre após algumas semanas, com um tempo maior na vigência de infecção.


Diagnóstico
O diagnóstico da farmacodermia é eminentemente clínico e, com frequência, dificultado pela diversidade de aspectos clínicos e pela semelhança com outras doenças. Logo, deve-se realizar uma anamnese atenciosa e detalhada a fim de identificar o possível agente causal e, então, suspendê-lo imediatamente.
Tratamento
O eritema multiforme regride espontaneamente, logo, em geral, não necessita de tratamento. Pode-se, contudo, fazer uso de analgésicos (Dipirona, Paracetamol, Tramadol, Morfina), corticoides (Prednisolona, Dexametasona, Metilprednisolona e outros) e anti-histamínicos orais (Hidroxizina, Fexofenadina) a fim de reduzir os sintomas.
Já os pacientes com SSJ ou NET devem ser hospitalizados, pois serão instituídas medidas de hidratação, reposição volêmica, manejo das feridas e da dor, prevenção e controle de infecções, além de oxigenoterapia, se necessário. Ciclosporina, Inibidores de TNF (Infliximabe, Etanercepte) e Plasmaférese apresentam possíveis benefícios; em contrapartida, os corticosteroides possuem aplicação controversa nessas síndromes. Imunoglobulina intravenosa pode ser utilizada em baixas doses nos casos de NET.
Autores, revisores e orientadores:
Autor(a): Renata Dias – @renatacmdias
Revisor(a): Clara Jales – @itsjales
Orientador(a): Francisco Belísio de Medeiros Neto
Referências:
MELO, Maria Eduarda Fernandes de et al. Principais classes farmacológicas relacionadas à farmacodermia. Research, Society and Development, v. 11, n. 2, e8011225492, 2022. ISSN 2525-3409. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i2.25492.
CASTRO, C.F. et al. Severe cutaneous adverse reactions to drugs: a case series study. Rev Bras Farm Hosp Serv Saude, [S.L.], v. 11, n. 3, p. 471, 2020. http://dx.doi.org/10.30968/rbfhss.2020.113.0471.
AZULAY, Rubem David. Azulay: Dermatologia. 7a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.