Refluxo Gastroesofágico em Crianças | Colunistas

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Você sabe o que é o refluxo gastroesofágico (RGE)? Sabe como ocorre o mecanismo fisiológico do RGE? Como diferenciar RGE da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) na infância? Quais os sintomas mais comuns em ambos os casos e como é o método de diagnóstico? Essas e outras informações sobre o assunto você encontrará neste artigo. Faça uma boa leitura!

Mas afinal, o que é Refluxo Gastroesofágico?

O refluxo gastroesofágico (RGE) é um processo fisiológico caracterizado pelo retorno involuntário de conteúdo estomacal ao esôfago. Esse evento, por ser considerado normal em crianças, costuma ser breve e assintomático, ocorrendo em maior parte na região do esôfago distal.

Apesar da DRGE ser mais comum em adultos com história de dor retroesternal, ardência, podendo ou não ter regurgitação, na criança, ocorre quando o refluxo causa sintomas importantes, como vômitos e irritabilidade. Na infância, a incidência de RGE é de aproximadamente 75% e o agravamento, bem como a persistência aumenta a chance do desenvolvimento da doença.

Muitos estudos relatam que a história natural do RGE em crianças tem pico entre os 4-5 meses de idade. Ademais, a cessação dos sintomas ocorre em cerca de 80-95% até 1 um ano de idade.

É importante ficar atento aos fatores de riscos e aos pacientes que podem estar suscetíveis à DRGE. A prematuridade, atresia esofágica, hérnia diafragmática congênita, comprometimento neurológico, obesidade e distúrbios genéticos específicos devem chamar a sua atenção na prática clínica.

Fisiologia e Mecanismo do RGE

A barreira antirrefluxo, a depuração esofágica e a resistência da mucosa esofágica constituem mecanismos que auxiliam na proteção do refluxo. Algumas estruturas presentes na barreira antirrefluxo são o esfíncter esofágico inferior (EEI), o ângulo de His, o diafragma crural e o ligamento frenoesofágico, que juntos formam um importante conjunto no controle fisiológico do RGE.

A pressão de repouso do EEI, que no adulto apresenta uma pequena parte intra-abdominal, é maior. Esse mecanismo é o responsável por evitar o refluxo gástrico no esôfago distal. O ângulo de His atua como uma válvula neste processo fisiológico.

A depuração esofágica tem atividade no controle do tempo de contato entre o conteúdo luminal com o esôfago. Além disso, a gravidade e peristaltismo removem volume do lúmen esofágico, enquanto secreções salivares e do esôfago neutralizam o ácido.

Já o mecanismo de resistência da mucosa é definido geneticamente e ocorre quando o organismo fica em contato com ácido por período prolongado.
Diante disso, é evidente que qualquer alteração em alguns desses mecanismos fisiológicos predispõe o organismo à DRGE, que pode ter etiologia em qualquer parte desse grande duelo da homeostase de pH, se é que podemos associá-los, que vai desde uma alteração de relaxamento transitório inadequado do esôfago inferior a um aumento de pressão intra-abdominal e outras condições, como já vimos, que podem potencializar essa complicação.

DRGE Infantil e as Complicações

O processo fisiológico normal do RGE, como já ficou um pouco mais claro até aqui, não costuma apresentar sintomas e sinais importantes na criança. Entretanto, a DRGE acontece quando esse retorno de conteúdo gástrico causa complicações.

Nos bebês, o choro, a irritabilidade, engasgos e regurgitação estão relacionados frequentemente ao processo patológico. A alimentação para o bebê se torna um processo doloroso, podendo ter início à rejeição alimentar, sinais de anorexia e, consequente, baixo ganho de peso e podem comprometer o desenvolvimento. Problemas respiratórios são menos comuns, porém pneumonia e doença pulmonar intersticial decorrentes do refluxo podem ocorrer devido à broncoaspiração.

Estudos revelam que o refluxo também piora os sintomas da asma. Alterações histológicas mostrando hiperplasia da zona basal, alongamento papilar e infiltração de neutrófilos ajudam na diferenciação entre DRGE e RGE.

Diagnóstico

Uma boa história clínica e exame físico detalhado nas crianças facilitam o diagnóstico do RGE em situações que não se evidenciam sinais de alarme. Contudo, a distinção entres os processos fisiológicos e patológicos, desta vez tratando-se de DRGE, apresenta-se de formas multifacetadas no contexto ambulatorial e hospitalar.

Não existe um teste padrão-ouro como método de diagnóstico da DRGE em crianças; a escolha depende basicamente da clínica para qual a investigação é requerida. Utiliza-se a impedâncio-pHmetria esofágica (impedância intraluminal multicanal), por exemplo, para documentar o refluxo em pacientes com sintomas extra-esofágicos (por exemplo, bronquial asma, pneumonia aspirativa, etc.) sem sintomas de RGE.

Por outro lado, em situações em que há suspeita de esofagite, a endoscopia digestiva alta é recomendada, pois possibilita as rupturas visíveis na mucosa esofágica imediatamente acima da junção gastroesofágica. Porém, ainda é comum encontrar endoscopia negativa na DRGE. O diâmetro do espaço intercelular dilatado é cada vez mais usado como marcador útil e objetivo na DRGE pediátrica.

Em crianças com tosse relacionada ao refluxo, esse marcador é aplicável para diagnóstico, independente da exposição ácida. No caso em que haja suspeita de anormalidade anatômica como disfagia, uma série de bário torna-se o método de escolha, mesmo não sendo indicado na literatura como método de primeira linha.

Para excluir outras doenças do trato gastrointestinal, biópsias de duodenal, do estômago e da mucosa esofágica são obrigatórias. A manometria não é indicada para diagnóstico, mas analisa os mecanismos fisiopatológicos do refluxo, indicado na doença como acalasia.

Como se observa, não há um meio específico para o diagnóstico do RGE e os acometimentos advindos desse processo. Todavia, a correlação do conjunto de técnicas é potencializada com melhores análises.

Autor: Josiel Neves da Silva – Acadêmico do 5º Período de Medicina do Centro Universitário São Lucas (UniSL)
Instagram: @josielnevs

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