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Reinfecção pelo novo coronavírus: é possível?

Reinfecção pelo novo coronavírus: é possível?

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Recentemente viu-se surgir no Brasil casos de reinfecção pelo novo coronavírus. Apesar de raros, estes relatos levantam a seguinte dúvida: pessoas que já tiveram COVID-19 podem pegar novamente a doença? Neste post pretendemos discutir o assunto, trazendo o que há de evidência atualmente sobre o tema.

Para falar a verdade, poucos estudos abordaram o tópico até o momento. Um estudo recente, porém, chamou atenção por ter sido a primeira coorte que buscou analisar níveis de anticorpos de pacientes e profissionais de saúde infectados, por até 94 dias após o início dos sintomas.

Resultados do estudo

Um total de 91 indivíduos tiveram seus níveis de anticorpos monitorizados. Dentre esses, a maioria (60%) mostrou resposta imune potente no combate ao vírus.

Porém, apenas 17% mantiveram os mesmos níveis de anticorpos após 3 meses. Nos demais, os níveis séricos de anticorpos caíram cerca de 23 vezes, em alguns casos chegando a ser indetectáveis.

Outro achado do estudo foi a correlação entre gravidade da doença e duração dos níveis séricos. Pacientes que tiveram sintomas mais graves, produziram mais anticorpos, e estes duravam mais tempo no sangue.

Fonte: King’s College London

A imagem acima mostra como os níveis de anticorpos atingem o pico aproximadamente 35 dias após início dos sintomas, e depois começam a cair.

Analisando-se os pontos coloridos, pode-se perceber que os níveis de produção de anticorpos são maiores quanto mais grave tiver sido a doença.

Implicações do estudo: reinfecção e vacinas para coronavírus

Apesar do estudo ter sido submetido para publicação, é importante lembrar que ainda não passou pelo processo de revisão por pares, e portanto seus resultados devem ser vistos com cautela.

Todavia, questões importantes podem ser levantadas a partir dos achados. Se a resposta principal de combate ao vírus depender dos níveis de anticorpos, os achados sugerem que as pessoas podem se tornar susceptíveis a reinfecções.

Sabe-se que a infecção é o melhor cenário para produção de uma resposta imune. Os pesquisadores então indagaram o segunte: se a infecção pelo SARS-CoV-2 promove produção de anticorpos que decaem ao longo de 2-3 meses, o mesmo poderá acontecer com as vacinas.

Isto pode significar que a vacina não será capaz de proteger por um longo período, e a imunização pode não ser conseguida com apenas uma dose.

O que parece é que o SARS-CoV-2 tem seguido o padrão dos outros quatro tipos de coronavírus. Já se sabe que pessoas infectadas com estes outros coronavírus são susceptíveis a reinfecções. Os pesquisadores portanto acreditam que o SARS-CoV-2 pode estar seguindo o mesmo padrão.

A outra parte da história

O professor Arne Akbar, imunologista do University College London, ressaltou que a resposta imune humoral (mediada por anticorpos) é apenas parte da história.

Segundo ele, existem evidências crescentes que a resposta imune celular, mediada pelas células T, pode ser capaz de proteger contra infecções. Neste caso, pacientes que se utilizam da resposta celular não precisariam da elevação dos níveis de anticorpos.

Conclusões sobre reinfecção pelo coronavírus

Apesar da comunidade científica não ser capaz de afirmar ainda se a possibilidade de reinfecção pelo novo coronavírus é real, o resultado do estudo mostra que a resposta de anticorpos decresce dentro de algumas semanas.

Portanto, caso o sucesso em não ser reinfectado dependa dos níveis séricos dos anticorpos, as vacinas precisarão produzir resposta imune melhor do que aquelas vistas nas infecções propriamente ditas.

Isto pode significar necessidade de vacinação anual e doses de reforço, principalmente para os indivíduos do grupo de risco.

Por enquanto que a questão não é resolvida, fica o alerta para não considerarmos pessoas infectadas como imunes à reinfecções. Apesar do esperado ser que reinfecções produzam sintomas mais leves, os indivíduos reinfectados podem continuar sendo uma fonte de transmissão.

Confira o vídeo:

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