Carreira em Medicina

Remédios para dormir: quais são os desafios? | Colunistas

Remédios para dormir: quais são os desafios? | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Confira nesta publicação do sanarmed.com os desafios sobre os remédios para dormir!

Você provavelmente já teve dificuldade para dormir, sentia que o corpo estava cansado, mas a mente continuava trabalhando. Com o advento da pandemia de COVID-19, essa queixa se tornou muito mais corriqueira nos consultórios médicos. E consequentemente fez aumentar o número de pessoas que utilizam medicamentos para dormir.

Segundo dados da Anvisa entre março e abril de 2020 as vendas de Clonazepam, conhecido popularmente como Rivotril, cresceram mais de 20% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. Mas quais os riscos desse crescimento? 

História

A humanidade convive com a insônia há mais de 2 mil anos, desde antes de cristo já se usava ópio para combater esse mal. Na Idade Média, as pessoas usavam o álcool e plantas narcóticas para dar aos insones, e isso pouco mudou até o século 19.

Foi com a chegada dos alcalóides, que a visão de como tratar a insônia começou a se modificar, os principais representantes dessa classe eram a escopolamina e a hiosciamina. No entanto, essas substâncias tinham muitos efeitos colaterais como náuseas, vômitos e delírios.

O primeiro medicamento considerado como indutor de sono foi o hidrato de cloral, que é uma mistura entre o cloro e o etanol. Era administrado via oral, entretanto, ao longo do tempo percebeu-se que era uma droga que gera dependência e poderia levar a insuficiências orgânicas.

Com a chegada da modernidade, surgiu também uma nova promessa para as noites mal dormidas, o brometo de lítio. Mas foi o aparecimento dos barbitúricos que mudou o rumo do tratamento da insônia. Em 1902, cientistas descobriram que um dos derivados do ácido barbitúrico faziam os cães adormecerem, tempos depois isso também foi observado nos humanos. E o sucesso dessa droga foi quase instantâneo.

Era dos Barbitúricos

Os fármacos dessa classe se conectam aos receptores cerebrais de GABA fazendo uma modulação alostérica tornando-os mais sensíveis, esse também é um efeito causado pelo álcool. O cérebro continua produzindo a mesma quantidade do neurotransmissor, mas seus receptores estão mais sensibilizados. Isso resulta em um efeito hipnótico – indução de sono, tem ação sedativa, anticonvulsiva, ansiolítica e de relaxamento muscular.

Do início do século 20 até a década de 50, o uso dessa classe cresceu exponencialmente. A indústria farmacêutica investiu em marketing e no desenvolvimento de novas drogas.

Nem mesmo o aumento em 300% nas mortes por barbitúricos, foram capazes de freá-los. No ranking de envenenamentos, só perdiam para as mortes por inalação de monóxido de carbono. O grande problema era o uso em doses excessivas ou a administração por tempo prolongado.

Em 1960, o governo dos Estados Unidos estimou que mais de 250 mil pessoas estavam viciadas em barbitúricos. Foi por causa de uma overdose desses medicamentos que nos despedimos de grandes personalidades como Marilyn Monroe e Jimi Hendrix.

Era dos Benzodiazepínicos

Surgiu como uma tentativa de desenvolver uma alternativa mais segura aos barbitúricos. Na década de 70, o diazepam chegou a ser o medicamento mais vendido dos EUA.

No entanto, notou-se que esse fármaco agia não apenas no sono, bem como, na memória e na coordenação motora. Com o passar do tempo, os pacientes foram precisando de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito inicial.

Era das “drogas Z”

A primeira dessas substâncias a surgir foi o zolpidem, essa droga também torna o cérebro mais sensível ao GABA, mas faz isso de um jeito diferente das outras classes.

Elas agem em uma subunidade específica do receptor, a alfa-1. Essa ação mais seletiva, produz menos efeitos colaterais. A meia vida desse remédio é mais curta, isso evita sonolência, desatenção e falta de reflexos durante o dia.

Por serem drogas novas, não sabemos os efeitos do seu uso prolongado. Mas é possível que em altas doses o Zolpidem abandone a sua seletividade para o receptor alfa-1 e demonstre todas as ações dos benzodiazepínicos clássicos. No Brasil, esse é um medicamento de venda controlada, que exige receituário tipo B – “receita azul”.

Melatonina: esses comprimidos funcionam?

Esse é um hormônio produzido pelo nosso corpo e induz a sensação de sonolência. Ela funciona essencialmente para pessoas com atraso nas fases do sono. Ou seja, para pessoas que dormem bem, só que adormecendo e acordando tarde. No entanto, a melatonina não faz parte do protocolo para pacientes com insônia. E só deve ser usada sob orientação médica.

Remédios Naturais

É preciso lembrar que não ter aditivos químicos não é sinônimo de segurança, as ervas e os fitoterápicos podem ser encontradas facilmente no comércio, mas também exigem cuidados. Alguns estudos já demonstram os riscos de se combinar substâncias naturais com as receitadas pelos médicos.

Considerações finais

Dormir as vezes é o melhor remédio, mas e quando isso não é possível? A ciência ainda não consegue dominar o sono, ainda há muito a se descobrir. Quando a reavaliação da rotina do sono não faz efeito, os medicamentos surgem como solução.

Eles são importantes, quando indicados de maneira correta e devem ser sempre acompanhados por um médico de forma criteriosa. Mas não basta apenas utilizar comprimidos, é preciso uma mudança nos hábitos de vida, a prática de exercício físico é um importante aliado para uma boa noite de descanso.

Referências

  1. Castro LS, et al. Objective prevalence of insomnia in the São Paulo, Brazil epidemiologic sleep study. Ann Neurol. 2013 Oct;74(4):537-46. doi: 10.1002/ana.23945. Epub 2013 Sep 16. PMID: 23720241.
  2. Garattoni, B; Szklarz, E.  Os perigos dos remédios para dormir. Disponível em: https://super.abril.com.br/especiais/a-quimica-do-sono/.


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Sugestão de leitura