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Ressuscitação Cardiopulmonar (PCR) na COVID-19

Ressuscitação Cardiopulmonar (PCR) na COVID-19

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A Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) é um dos procedimentos de alta probabilidade de ocorrência em pacientes com complicações na COVID-19, pensando nisso, o Yellowbook preparou um e-book completo sobre RPC na Covid-19

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1. INTRODUÇÃO

A Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) é um dos procedimentos de alta probabilidade de ocorrência em pacientes com complicações na COVID-19. No referido contexto, os pacientes podem evoluir para uma Parada Cardiorrespiratória (PCR) em virtude de hipóxia, descompensação de doenças crônicas, choque séptico e acidose, tendo em vista as repercussões pulmonares envolvidas na fisiopatologia da doença, até então pouco elucidada desde sua recente descoberta.

As recomendações para a RCP seguem as diretrizes da American Heart Association (AHA), com as devidas ponderações em relação ao contexto de aerossolização de partículas inerente aos cuidados de pacientes com a COVID-19. 

Os pacientes com complicações pela COVID-19 necessitarão de suporte ventilatório invasivo no contexto de pneumonia e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O manejo da IOT nos referidos pacientes exige uma minuciosa técnica e organização de equipe em virtude da grande possibilidade de contaminação pela exposição a partículas virais, na abordagem da via aérea.

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O próximo passo é a paramentação, mas antes, para acessar esse e diversos outros materiais sobre a COVID-19 na íntegra e de forma 100% gratuita é só baixar o Yellowbook App

2. PARAMENTAÇÃO

ressucitação cardiopulmunar na COVID-19
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3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A RCP EM CASOS SUSPEITOS OU CONFIRMADOS DE COVID-19

O reconhecimento da Parada Cardiorrespiratória (PCR) segue as prerrogativas da American Heart Association (AHA) por meio de avaliação do pulso central e verificação de ausência de respiração efetiva.

Um dos grandes parâmetros de qualidade de uma Reanimação Cardiopulmonar de qualidade é a comunicação em cadeia fechada, o que exige treinamento e íntimo conhecimento da equipe com relação aos guidelines e protocolos das instituições. Com as orientações e precauções acerca da COVID-19, o treinamento para os profissionais competentes que estejam na linha de frente deve ser feito com base em atualizações.

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A American Heart Association preconiza a RCP baseada apenas em compressões, devendo ser tomadas as medidas de precaução contra aerossolização de partículas virais.

ressucitação cardiopulmunar na COVID-19
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De acordo com recomendações da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a RCP deve ser iniciada por compressões torácicas e monitorização do ritmo de parada cardíaca (chocáveis e não-chocáveis) o mais rápido possível para estabelecimento do algoritmo adequado.

A desfibrilação em ritmos chocáveis não deve ser adiada para que se proceda com acesso às vias aéreas ou outros procedimentos.

Quando a PCR ocorrer em pacientes que estejam em ventilação mecânica deve-se manter o paciente conectado ao ventilador em circuito fechado com FiO2 a 100%, em modo assíncrono e FR de 10-12/ minuto.

Parâmetros na RCP ACLS

Capnografia quantitativa – se PETCO2 < 10 mmHg, certifique-se de que a RCP está sendo feita com a frequência adequada – a critério de enfatização.

Frequência de compressão, orientações sobre troca do compressor, sobre a carga do choque aplicada e sobre a ventilação permanecem as mesmas do protocolo ACLS habitual, bem como as doses das medicações epinefrina, amiodarona e lidocaína.

4. CONSIDERAÇÕES SOBRE VIA AÉREA

Conforme orientações da Associação Brasileira de Medicina Intensiva e de outras instituições como a Faculdade de Medicina da USP, as intervenções para com a via aérea devem ser realizadas de modo a mitigar o potencial de contaminação dos procedimentos que envolvam a RCP.

De acordo com as evidências disponíveis atualmente, deve-se evitar a ventilação com dispositivo Bolsa-Máscara-Válvula (BMV) em virtude do elevado risco de aerossolização. Também, conforme pontua a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a efetividade dos supracitados dispositivos não é superior à efetividade da ventilação mecânica.

Nas situações em que houve extrema necessidade de uso de BMV, a técnica de vedação da máscara deve envolver dois profissionais e deve-se utilizar a cânula orofaríngea (Guedel).

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A intubação com videolaringoscópio deve ser prioridade desde a primeira tentativa, podendo um segundo médico ser acionado em caso de falha. Na impossibilidade de intubação, pode-se lançar mão de dispositivos extra glóticos (máscara laríngea e tubo laríngeo), como ponte para a via aérea de acesso definitivo por intubação traqueal ou cricotireoidostomia. 

Se houver necessidade de desconectar o ventilador, realizar o clampeamento do tubo orotraqueal.

Alguns cuidados devem ser tomados, tais como:

  1. A pré-oxigenação com máscara com reservatório deve ser feita com o menor fluxo possível para manter uma saturação adequada;
    1. Na necessidade de uso do ambu, coloque um filtro HME entre o ambu  e a máscara. Tal filtro posteriormente será usado na VM invasiva;
  2. A intubação, a priori, deve ser por sequência rápida, quando houver segurança;
  3. Na disponibilidade, prefira videolaringoscópio direto.
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(Adaptado das orientações segundo Hospital Israelita Albert Einstein)

Equipe

  • Sala com pressão negativa, se disponível na instituição;
  • EPI: avental impermeável, gorro, face shield ou óculos de proteção, máscara N95, dois pares de luvas;
  • Profissionais envolvidos: mínimo de 4 pessoas (1 médico, 1 enfermeiro, 1 fisioterapeuta e 1 técnico em enfermagem) – caso haja necessidade de outros profissionais, estes já devem estar paramentados do lado de fora. Lembre-se da importância de restringir o número de profissionais no leito ou quarto.

Paciente

  • Monitorização: cardioscopia, SpO2, PA não-invasiva;
  • Dois acessos vasculares de grosso calibre;
  • Posicionar o paciente em posição do cheirador, com uso de coxim suboccipital: alinhamento do meato acústico externo com o esterno do paciente.
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Material

  • Dispositivos devidamente testados e adequados às conformações anatômicas dos pacientes:
  • Tempo: 5 minutos;
  • Idealmente em posição sentada (deitar o paciente apenas no momento da laringoscopia);
  • Estratégia: BVM com válvula de PEEP + filtro + O2 15L/ min com bom acoplamento à face.
  • Se hipotensão ou Shock Index (FC/ PAS) > 0,8 – considerar uso precoce de noradrenalina em acesso periférico.
  • Lidocaína, 1,5mg/ kg de peso, 03 minutos antes da indução;
  • Indutor: etomidato, 0,3mg/ kg de peso (1 ampola); Cetamina, 1,5 a 2mg/ kg de peso (½ ampola);
  • Bloqueador neuromuscular: Succinilcolina 1,5mg/ Kg de peso;
  • Infusão: em bolus, na sequência: indutor, bloqueador neuromuscular e flush de SF.

Atenção: Diversas combinações de drogas estão descritas na literatura e em protocolos mundo afora. Fentanil e Midazolam devem ser evitadas por serem drogas cardioplégicas, haja vista o tratamento dos pacientes com potencial de instabilidade clínica nas complicações pela COVID-19. Contudo, lembre-se de que a experiência clínica com as drogas também dita a escolha, bem como  a disponibilidade das drogas nos serviços.

  • Aguardar o bloqueio neuromuscular para retirar a máscara;
  • Intubar sob visualização direta da glote com o uso do videolaringoscópio (lâminas descartáveis 3 e 4);
  • Insuflar o cuff antes de ventilar, sob visualização direta;
  • Conectar e iniciar o modo operacional do ventilador mecânico;
  • Visualizar a curva de capnografia, expansibilidade torácica e checar o posicionamento do tubo com a ausculta pulmonar para confirmação.
  • Gasometria arterial, radiografia de tórax e/ ou TC de tórax;
  • Sedação contínua com midazolam e fentanil;
  • Ajustes de ventilação protetora:

E se o procedimento não ocorrer como planejado?

  • Se SpO2 < 90% durante a laringoscopia, acione um segundo médico para auxílio;
  • Proceder com reoxigenação – tubo laríngeo conectado ao VM;
  • Plano B – realizar nova laringoscopia após reoxigenação. Se houver falha, seguir com o Plano C;
  • Plano C – Cricotireoidostomia (bisturi nº11 + bouguie + tubo 6.5) se > 8 anos ou cricotireoidostomia por punção como alternativa em crianças.

Protocolo de Intubação Orotraqueal para Pacientes com Caso Suspeito ou Confirmado de COVID-19

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5. INDICAÇÃO E DIRETIVAS DE NÃO-REANIMAÇÃO

Quando não reanimar?

Conforme orientações da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a tomada de decisão quanto à realização da RCP deve ser feita a nível local, com base nas diretivas das instituições de saúde, seja no atendimento pré-hospitalar, em departamentos de emergência ou em unidades de terapia intensiva.  Também, as prerrogativas de “não-ressuscitação cardiopulmonar” (NRCP) devem estar devidamente absorvidas pela equipe, através de treinamento adequado.

Quando está indicado proceder com a RCP?

A decisão continua, a priori, devendo ser individualizada pelo contexto de cada paciente. Não havendo Diretivas Antecipadas de Vontade (DAV), Cuidados Paliativos ou outras contraindicações clínicas, a RCP deve ser feita em todos os pacientes em PCR.

As decisões de NRCP devem ser documentadas em prontuário e serem comunicadas à equipe de resposta rápida da instituição de saúde, no sentido de mitigar iatrogenias.

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