Dermatologia

Resumo completo sobre psoríase

Resumo completo sobre psoríase

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A psoríase uma doença imunomediada frequente na população mundial, em torno de 1 a 3%. No Brasil, 1% da população sofre com essa patologia segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Recentemente o cantor Xand Avião deu um depoimento nas redes sociais contando que foi diagnosticado com psoríase e como foi a descoberta dessa patologia. Ele reforça a importante se conhecer sobre o assunto e poder fazer o tratamento o mais breve possível.

Continue a leitura do nosso artigo e fique por dentro de tudo que você precisa saber sobre o assunto: como diagnosticar e manejar um paciente com psoríase.

Fatores de risco

A psoríase é uma doença crônica da pele que ocorre quando o sistema imunológico ataca as células da pele, levando a um crescimento acelerado das células da pele.

Embora a causa exata da psoríase ainda não seja totalmente compreendida, existem vários fatores de risco conhecidos que podem contribuir para o desenvolvimento da condição. Aqui estão alguns dos fatores de risco comuns associados à psoríase:

  • Genética: se o paciente tem história familiar de psoríase, ele tem um risco maior de desenvolver a doença.
  • Sistema imunológico desregulado: certas condições que afetam o sistema imunológico, como infecções, estresse e certos medicamentos, podem aumentar o risco de desenvolver psoríase ou desencadear um surto em pessoas predispostas.
  • Fatores ambientais
  • Tabagismo
  • Obesidade
  • Uso excessivo de álcool
  • Certos medicamentos: Alguns medicamentos, como os betabloqueadores, lítio e alguns medicamentos antimaláricos, foram associados ao desenvolvimento ou agravamento da psoríase em algumas pessoas.

É importante ressaltar que ter um ou mais fatores de risco não significa necessariamente que uma pessoa desenvolverá psoríase. A interação complexa entre esses fatores de risco e outros elementos do ambiente e da genética pode contribuir para o desenvolvimento da doença.

Epidemiologia da psoríase

A psoríase pode ocorrer em qualquer faixa etária, afetando tanto crianças quanto adultos. No entanto, a maioria dos casos é diagnosticada entre os 15 e 35 anos de idade.

Quanto aos subtipos de psoríase, a psoríase em placas (também conhecida como psoríase vulgar) é o tipo mais comum no Brasil, representando cerca de 80% a 90% dos casos. Outros subtipos menos comuns incluem psoríase gutata, psoríase inversa, psoríase pustulosa e psoríase eritrodérmica.

Apesar de o fator genético não ser determinante para o desenvolvimento do quadro, segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, 30% e 40% dos pacientes com psoríase têm um familiar de primeiro grau.

Fisiopatologia

A fisiopatologia da psoríase se dá pela interação entre os linfócitos T e os queratinócitos da pele, resultando em uma proliferação exagerada dessas células.

As células dendríticas, como as células de Langerhans, principais apresentadoras de antígenos, migram para os linfonodos onde vão fazer a ativação dos linfócitos T, que iniciam um processo de proliferação e diferenciação.

Eles apresentam em sua superfície a glicoproteína CLA (Antígeno Leucocitário Comum), que facilita a passagem dessas células para a pele ao interagir com moléculas de adesão e quimiocinas.

Quando os linfócitos chegam na derme e na epiderme, as células dendríticas apresentam antígenos específicos para essas células tornando-as células efetoras Th1 principalmente.

Os linfócitos Th1 liberam citocinas como IL-1, IL-6 e IFN-γ que estimulam a mitose dos queratinócitos e diminuem o tempo do seu ciclo mitótico, fazendo com que haja uma hiperproliferação deles, que deixam a epiderme com uma camada mais grossa e em constante renovação.

Além disso, a presença de neutrófilos, devido à liberação de IL-6, também influencia o processo inflamatório nas áreas afetadas.

Esse processo acarreta na formação de placas com borda apresentando eritema e escamação estratificada.

Manifestações Clínicas

Hoje nós compreendemos esta doença como uma inflamação sistêmica.
Os dois principais locais de acometimento são a pele e
articulações, mas entendam que a doença não se limita a isso!

Essa inflamação está em todo o corpo do paciente e costuma aparecer de forma cíclica.

Sabemos hoje que o risco de síndrome metabólica é aumentado nestes pacientes e que o controle do peso é importante para o controle dos sintomas.

Também sabemos, segundo dados da Fundação Internacional de Psoríases, que o risco de doença cardiovascular (entre 20 e 58%) e acidente vascular cerebral (43%) também é maior. Além dos quadros de depressão e ansiedade, causando grande impacto na qualidade de vida dos pacientes.

Subtipos clínicos

Dividimos a psoríase em três subtipos com base na sua manifestação clínica. Confira cada um deles:

Psoríase em placas

A psoríase crônica em placas é o subtipo mais comum. São placas
eritêmato escamosas, geralmente localizadas em superfícies extensoras
dos membros (de maneira simétrica), região lombar (glúteos) e couro
cabeludo.

Porém, podem acometer qualquer região da pele. Não é
infrequente os casos que se iniciam como “caspa”, que após anos cursam
com lesões pelo corpo.

Psoríase - o que é, tipos, causas, sintomas, tratamento
Psoríase em placas, com apresentação clássica.

As placas de psoríase são eritematosas com margens bem definidas. Uma escama espessa prateada, geralmente, está presente. As lesões podem ser assintomáticas, mas o prurido é comum.

Olhem bem para as imagens acima: reparem que as lesões são SECAS e a escama PRATEADA é um achado muito característico.

Psoríase gutata

Esta forma é caracterizada pelo aparecimento abrupto de múltiplas pápulas e placas psoriásicas pequenas. As lesões têm geralmente menos de 1 cm de diâmetro (dando origem ao nome “gutata”, que significa “em forma de gota”).

O tronco e as extremidades proximais são os principais locais de envolvimento.

A psoríase gutata geralmente ocorre como erupção aguda em uma criança ou jovem sem história prévia. Há uma forte associação entre infecção recente (geralmente faringite estreptocócica) e psoríase gutata.

Fotos de psoríase (todos os tipos) | MD.Saúde
Psoríase gutata. Reparem que as lesões são muito semelhantes à psoríase em
placas, porém em maior quantidade e menor diâmetro, surgindo de maneira abrupta

Psoríase pustulosa

Esta é uma forma de psoríase que pode ter complicações fatais. A variante mais grave (o tipo von Zumbusch de psoríase pustulosa generalizada) se apresenta com o início agudo de eritema disseminado, descamação e camadas de pústulas superficiais.

Esta forma pode estar associada a mal-estar, febre, diarreia, leucocitose e hipocalcemia. Anormalidades renais, hepáticas ou respiratórias e sepse são complicações potenciais.

Paciente com eritema e pústulas superficiais, com diagnóstico de psoríase pustulosa.

As causas relatadas de psoríase pustular incluem gravidez, infecção e
retirada de glicocorticoides sistêmicos.

POR ISSO, NÃO USAMOS CORTICOIDES SISTÊMICOS EM PACIENTES
COM PSORÍASE!

A acrodermatite contínua de Hallopeau é uma versão localizada da psoríase pustulosa, onde a doença envolve os dedos distais.

Muitas vezes estes pacientes ficam com o diagnóstico de dermatite de contato ou infecção bacteriana! São casos que necessitam de avaliação com especialista e muitas vezes biópsias.

Dermatologia Atlas - Dermatology Atlas - Atlas Dermatológico - Atlas Nelson  Proença
Pústulas em região distal dos dedos, compatível com acrodermatite contínua
de Hallopeau.

Diagnóstico

É feito pela história clínica e pelas lesões clássicas. Alguns casos podem precisar de biópsia. E existem alguns sinais clássicos que podem nos auxiliar:

Fenômeno de Koebner: descreve o desenvolvimento de doenças de pele em locais de traumas de pele. Esse achado também pode ocorrer em outras dermatoses, como líquen plano e vitiligo.

Vamos tentar explicar através de um caso clínico, publicado no New England Journal of Medicine: um paciente que realizou um eletrocardiograma (ECG) e que semanas após cursou com as lesões da
imagem abaixo:

lesões eritêmato-escamosas em placas e algumas anulares em tórax e
topografia dos eletrodos do ECG

E aí? Aqui temos um belo caso de fenômeno de koebner induzido pelo ECG! Repare que este paciente apresenta lesões clássicas de psoríase! Mas nos exatos locais de aplicação dos eletrodos do ECG também apresenta lesões, mas anulares! Isso pode acontecer com qualquer tipo de trauma ou cicatriz!

Então muita atenção aos futuros cirurgiões: saber que o paciente tem o diagnóstico é importante, até para poder orientar o paciente quanto ao risco de surgimento de novas lesões nos locais das cicatrizes.

Sinal de Auspitz: o sinal de Auspitz (orvalho sangrante) se refere à visualização de um sangramento pontual após a remoção da escama que recobre uma placa psoriásica.

Três etapas da curetagem

Alguns autores descrevem o que, na verdade, são três etapas da curetagem metódica de Brocq – sinal da:

  1. Vela (quando apenas as escamas são raspadas e parece que estamos raspando a cera de uma vela)
  2. Membrana derradeira (última fina membrana após retirar todas as escamas
  3. Orvalho sangrante — sinal de Auspitz (vários pontos de sangramento após remover a membrana derradeira)
semiologia dermatologica | Flashcards
. Curetagem metódica de Brocq, em que após a remoção das escamas da placa
de psoríase ocorrem pequenos pontos de sangramento, caracterizando o sinal de
Auspitz.

Avaliação de Gravidade

Cada um destes fatores (eritema, infiltração e descamação) recebe um nota de 0 a 4 em 4 localizações específicas: cabeça, tronco, membros superiores e membros inferiores.

Este escore varia de 0 a 72, sendo que um valor acima de 10 (PASI > 10) significa um quadro moderado a grave.

Tratamento da psoríase

Os tratamentos de primeira linha incluem a fototerapia e tratamentos tópicos, como corticoides (sim, gente, passar na lesão pode — o que não pode é tratamento sistêmico).

Existem outras medicações como o calcipotriol, que também é usado de maneira tópica.

Em casos moderados a graves, usamos medicações como metotrexato, acitretina e ciclosporina. Se não houver resposta, hoje temos à disposição diversas medicações imunobiológicas, com respostas excelentes.

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