Índice
Confira neste artigo tudo que o estudante de medicina precisa saber sobre a flora bacteriana vaginal!
Definição
O trato genital feminino é constituído por diversos órgãos e cavidades, como as tubas uterinas, cavidade uterina, vagina, que se comunicam com o meio externo através da fenda vulvar.
Esta comunicação é importante para diversas funções deste trato, como a exteriorização do fluxo vaginal, passagem do feto no parto vaginal e a possibilidade de coito, com perpetuação da espécie. Entretanto, em contrapartida, ocorre a entrada de microrganismos patogênicos que podem ser prejudiciais à saúde e ao processo reprodutivo.
Com o intuito de proteção da invasão destes agentes patológicos, existe uma microflora vaginal que mantém o meio saudável e impede a proliferação destes agentes. Associada aos componentes da imunidade inata e adquirida, a flora vaginal constitui um dos mais importantes meios de defesa do trato genital feminino.
Influência de fatores exógenos e endógenos
Vale reforçar, todavia, que a composição da flora vaginal não é constante e que este ecossistema é mutável temporalmente ao longo da vida. Ele sofre influência de fatores exógenos e endógenos.
Tais fatores incluem as variações dos níveis hormonais circulantes durante:
- fases do ciclo menstrual,
- gestacional,
- o uso de contraceptivos,
- a frequência de intercurso sexual,
- o uso de duchas ou produtos desodorantes,
- a utilização de antibióticos ou outras medicações com propriedades imunossupressoras.
Estas alterações da flora bacteriana vaginal podem aumentar ou diminuir as vantagens seletivas para micro-organismos específicos.
Importância de estudar sobre a flora bacteriana vaginal
A flora bacteriana vaginal é um tópico muito importante na medicina, principalmente para a área de ginecologia e obstetrícia.
O conhecimento neste tópico é importante para garantir a saúde reprodutiva das mulheres. Ele ajuda a prevenir infecções, identificar desequilíbrios e oferecer orientações adequadas sobre higiene íntima.
Ao saber reconhecer diferenças sutis na flora vaginal, o profissional conseguirá fazer diagnósticos mais precisos de infecções e desequilíbrios. Dessa forma, garantir que as pacientes recebam a terapia adequada.
Aprender sobre este tópico também é importante para saber como, durante a prática médica, vai fazer o aconselhamento adequado das pacientes.
Conhecimentos sobre flora bacteriana vaginal ensinados na faculdade
- Composição,
- Variação na flora e suas diferenças, e
- Desequilíbrio da flora e infecção.
Componentes da flora vaginal bacteriana
A vagina não é estéril, ela abrigada uma variedade de microorganismos.
Os Lactobacilos são bactérias predominantes na vagina. Eles desempenham um papel crucial na manutenção do pH vaginal ácido, o que previne prevenção da proliferação excessiva de microorganismos potencialmente patogênicos.
Também já foi identificado em estudos a presença de outros organismos que podem ser predominantes em vaginas igualmente saudáveis.
Vale destacar que a produção de ácido lático parece ser essencial para a manutenção de um ecossistema saudável, independentemente das espécies bacterianas que estejam presentes.
Espécies de bactérias
Nas mulheres cuja flora é dominada por Lactobacillus, as espécies mais frequentemente detectadas são L crispatus e L. inners ou L. crispatus e L. gasseri, mas podem ser identificadas também L. jensinii , L. gallinarum e L. vaginalis.
Entretanto, o ambiente ácido vaginal pode ser mantido por outras bactérias como Atopobium, Megasphaera e Leptotrichia. Elas são produtoras de ácido lático tal qual os Lactobacillus.
Todavia, deve-se ressaltar que as bactérias Megaesphaera e Laptotrichia podem produzir metabólitos de odor desagradável. Por isso, é importante ter em mente que alterações do odor vaginal em mulheres que não possuam flora vaginal dominada por Lactobacillus não é conclusiva para fazer o diagnóstico de entidades patológicas, principalmente em mulheres assintomáticas.
Além destas espécies, que costumam estar em maior proporção, outros gêneros e espécies bacterianas podem compor este ecossistema em mulheres saudáveis, como Listeria, Streptococcus alfa-hemolíticos e Ureaplasma urealyticum e fungos como Candida albicans.
Fases de alterações
Como dito, o ecossistema vaginal é mutável. Essa mudança tem interferência direta hormonal. Por isso, abordamos aqui algumas fases da maturação sexual feminina.
Nascimento e início da vida
Após o nascimento, e ainda sob efeito dos estrogénios maternos, o ecossistema vaginal é composto principalmente por Lactobacillus.
Depois de quatro semanas de vida, com o desaparecimento desta influência hormonal materna, a flora vaginal é composta com uma microbiota extremamente diversa, que se mantém com esta característica até a puberdade.
Menarca
Após a menarca, com a produção de estrogênios, os Lactobacillus voltam a ser os microrganismos predominantes.
Gestação e puerpério
A predominância dos Lactobacillus acentua-se na gestação com o aumento dos níveis de estriol e estradiol em circulação.
O puerpério, entretanto, caracteriza-se pela maior diversidade da microbiota. Isso ocorre porque os níveis hormonais diminuem de forma abrupta.
Menopausa
Os níveis hormonais também diminuem de forma abrupta após a menopausa. Com a redução da produção hormonal, ocorre o aumento da multiplicidade bacteriana.
O pH vaginal torna-se mais neutro e o ecossistema vaginal torna-se semelhante ao observado durante a infância.
Vaginose bacteriana e candidíase
Ao falarmos sobre saúde da vagina, dois assuntos são muito comuns: vaginose bacteriana e candidíase. Que tal aprender sobre elas?
Vaginose bacteriana
A vaginose bacteriana é um desequilíbrio da flora vaginal. É caracterizado por uma diminuição dos lactobacilos e aumento de outras bactérias. Essa condição pode levar a corrimento anormal, odor desagradável e aumento do risco de infecções.
Para tratar adequadamente, é orientado a administração de antibióticos específicos para eliminar as bactérias causadoras deste desequilíbrio. Os mais comuns são: Metronidazol, Clindamicina e Tinidazol.
Candidíase
A candidíase é uma infecção fúngica comum, causada principalmente pelo fungo Candida albicans. Esse fungo naturalmente é encontrado no corpo, mas em condições normais não causam problemas.
No entanto, fatores como desequilíbrio hormonal, uso de antibióticos, diabetes não controlada, gravidez e sistema imunológico enfraquecido podem levar ao crescimento excessivo desse fungo, resultando em uma infecção.
A candidíase pode ser percebida por corrimento vaginal espesso branco, coceira intensa e irritação na área vaginal, vermelhidão e inchaço e dor durante a relação sexual ou ao urinar. Para tratar, é comum indicar o uso de antifúngicos, que podem ser aplicados localmente (cremes, supositórios) ou administrados oralmente (comprimidos, como o fluconazol).
Leia também: Caso Clínico com diagnóstico e tratamento para candidíase
Sugestão de leitura complementar
Esses artigos também podem ser do seu interesse:
- Resumo sobre corrimento vaginal (completo)
- Vulvovaginites: fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e muito mais
- Resumo: Vulvovaginites Infecciosas | Ligas
Referências
- LINHARES, Iara M.; GIRALDO, Paulo C.; BARACAT, Edmund C. Novos conhecimentos sobre a flora bacteriana vaginal. Rev Assoc Med Bras 2010.
- AGUIAR, Pedro Valente. O ecossistema vaginal. Faculdade de Medicina de Lisboa, Junho 2017.