Carreira em Medicina

Resumo: Sarampo | Ligas

Resumo: Sarampo | Ligas

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Sarampo, uma das afecções clássicas da infância, é uma doença viral de alta transmissibilidade causada por um RNA vírus da família Paramyxoviridae. Possui distribuição global, acometendo indiscriminadamente ambos os sexos, sem distinção de raça, clima ou nível social. 

Desde o início dos anos 2000, com o advento da vacinação, a doença pôde ser controlada com redução expressiva da sua transmissão endêmica. Antes da vacinação, a doença causava mais de 5 milhões de mortes no mundo. Desde então, a incidência permaneceu abaixo de 1:1.000.000. 

No entanto, recentemente, houve surtos de sarampo em países da Europa e África, além do Brasil, que em 2018 perdeu o certificado de erradicação que havia ganho em 2016. Sugere-se que o aumento de casos no país esteja relacionado com a vinda de turistas e migrantes contaminados, além da redução da cobertura vacinal. 

A doença tem como manifestação principal a formação de exantema, o qual pode estar associado a outros sintomas, como febre, tosse, coriza e conjuntivite. 

Transmissão 

A transmissão do MeV ocorre, primariamente, através da tosse e/ou espirros de uma pessoa infectada, visto que o vírus se desenvolve com facilidade em nariz e garganta, sendo liberado na saliva.

Entretanto, também pode sobreviver por até 2 horas no ar ou em fômites. Nesses casos, havendo contato com os olhos, nariz ou boca de uma pessoa saudável, a doença pode ser transmitida.

O paciente infectado pode transmitir a doença desde 4 dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas até 4 dias após o surgimento do rash cutâneo.

Desse modo, recomenda-se que a pessoa infectada ou com suspeita, fique isolada em um cômodo da casa ou utilize uma máscara por, pelo menos, 1 semana, a fim de evitar a transmissão do vírus.

Fisiopatologia

O vírus do Sarampo (MeV) é um patógeno aéreo que, quando aspirado para o trato respiratório, infecta, principalmente, os Macrófagos Alveolares e as Células Dendríticas (DCs).

Essa infecção ocorre por intermédio da SLAM/CD150 (molécula de ativação da sinalização linfocítica) que funciona como um receptor celular para o MeV, sendo expressa também por Timócitos, Células de Langerhans, Linfócitos e Plaquetas.

A infecção prossegue para tecidos linfoides adjacentes, onde o MeV infecta os linfócitos SLAM-positivos. Então, os linfócitos e  as células dendríticas infectadas circulantes migram para as camadas celulares subepiteliais e transmitem o vírus do sarampo para células epiteliais de vários órgãos e tecidos, usando a Nectina-4 como receptor.

Logo, o vírus se dissemina pelo corpo, promovendo uma infecção sistêmica (viremia) e as manifestações clínicas características da doença. Durante este processo, novos vírus são liberados no trato respiratório.

Figure 5
Fonte: https://www.nature.com/articles/nrdp201649

Resposta Imune 

O sarampo provoca a supressão da resposta imune adaptativa, gerando susceptibilidade a infecções oportunistas. A imunossupressão ocorre como consequência da Linfopenia, evidenciada pelo número de Linfócitos B, T CD4+ e CD8 reduzidos, e pela supressão da proliferação linfocitária. 

Mesmo após a recuperação da erupção cutânea e febre, as alterações imunológicas podem persistir e durar semanas a anos. Ou seja, pode haver susceptibilidade a infecções oportunistas mesmo após a recuperação sintomática da doença.  

Quadro clínico

A sintomatologia do sarampo em seu período prodrômico é caracterizada por febre e mal-estar, que podem estar associados a sintomas inespecíficos, como tosse e coriza. Também é comum o paciente apresentar conjuntivite. 

Um sinal importante e característico do sarampo são as Manchas de Koplik, que possuem coloração branco azulado, surgindo na mucosa bucal alguns dias antes do aparecimento do exantema generalizado. Elas tendem a desaparecer quando o exantema surge, além de serem consideradas patognomônicas da doença. 

A característica do exantema, manifestação clássica do sarampo, é de mácula eritematosa que surge inicialmente em couro cabeludo e no pescoço. À medida que a doença progride, ele se dissemina para tronco, membros e face. 

Fonte: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmcp1905181#full

Vacinação

A vacina contra o Sarampo é composta pelo vírus vivo atenuado, estando disponível nas formas combinadas, como a Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola) e Tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela). 

  • Possíveis Efeitos Colaterais: Urticária; falta de apetite; dor; sensação de queimação ou agulhadas; vermelhidão; inchaço ou sensibilidade no local da injeção; artrite; dor nas juntas; convulsão febril; dor de cabeça; mal estar; sensação de formigamento. 
  • Contraindicações: crianças com histórico de hipersensibilidade aos componentes da vacina; incluindo gelatina ou neomicina; imunodeficiência primária; AIDS; discrasias sanguíneas; leucemia; linfoma ou qualquer tipo de neoplasma maligno que afete a medula óssea ou sistema linfático; tratamento imunossupressor; doença respiratória febril ou outras infecções febris; tuberculose ativa; e crianças menores de 6 meses de idade. 

Observação: É importante ressaltar que, tendo em vista o aumento recente na incidência de casos, em algumas regiões do Brasil, não é indicado retardar a primeira dose da vacina para depois de 1 ano de idade ou o reforço para após os 6 anos. 

Tratamento 

Até o momento não existe terapia antiviral específica para o sarampo. O tratamento consiste em medidas de controle dos sintomas, como hidratação e uso de agentes antipiréticos. Entretanto, por haver sério risco de infecção bacteriana secundária, o tratamento envolve antibioticoterapia imediata para pacientes com evidências clínicas de infecção bacteriana (otite média e pneumonia). 

Além disso, a OMS recomenda a administração de doses únicas diárias de vitamina A, que se mostrou efetiva para tratamento e redução da morbidade e mortalidade do sarampo. A dose é de 200.000 UI de vitamina A por dois dias consecutivos em toda criança com sarampo > 12 meses de idade. 

É importante ressaltar que a doença, na grande maioria das vezes, confere imunidade definitiva ao paciente. Isso significa que ele manifestará o sarampo somente uma vez.  

Autores, revisores e orientadores

Autores: Leonardo Santana Ramos Oliveira e Pedro Rêgo Botelho

Revisor: Lucca Ribeiro Alves

Orientador(a): Eliana de Paula Santos

Liga: Liga Acadêmica de Gestão em Saúde – LAGS

Instagram: @lagsbahiana

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências 

KASPER, D. L. [et al]. Medicina Interna de Harrison. 19ª edição. Porto Alegre: AMGH, 2017. e-PUB. 
 
Rota, P.,Moss,W.,Takeda,M. etal. Measles. Nat Rev Dis Primers 2, 16049 (2016). https://doi.org/10.1038/nrdp.2016.49
 
Strebel P, Orenstein WA. Measles. N Engl J Med. 2019;349-357;9.