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Resumo sobre a classificação TASC II | Colunistas

Resumo sobre a classificação TASC II | Colunistas

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Em medicina a classificação de doenças faz um papel essencial no manejo das mais diversas afecções com as quais o médico se depara. Não seria diferente na cirurgia vascular. Existem várias classificações das diversas doenças vasculares, neste texto será abordada a classificação TASC II (Transatlantic Consensus Document on Management of Peripheral Arterial Disease) que auxilia no diagnóstico e tratamento de pacientes com Doença Arterial Periférica.

Mas antes, o que é a Doença Arterial Periférica?

Essa afecção vascular é representada pela diminuição de calibre de artérias do corpo que pode culminar em eventos obstrutivos. É mais comum em pessoas acima dos 55 anos e tem por característica ser assintomático na maioria dos afetados. A causa principal dessa doença é a aterosclerose, portanto a DAP é uma doença de caráter degenerativo, o que explica a prevalência em idades avançadas. 

Existe uma série de fatores de risco que podem culminar em DAP:

  • Dislipidemia
  • Doença arterial coronariana
  • Hipertensão arterial sistêmica
  • Doença renal crônica dialítica
  • Doença cerebrovascular
  • Obesidade
  • Proteína C Reativa aumentada
  • Estados de hiperviscosidade e de hipercoagulabilidade sanguínea
  • Hiperhomocisteinemia
  • Idade avançada
  • Tabagismo
  • Sedentarismo
  • História familiar de DAP
  • Gênero Masculino

Sintomas e sinais da DAP

Os sintomas e sinais da DAP estão relacionados a diminuição do fluxo sanguíneo consequente à progressiva estenose das artérias. Os membros inferiores são os locais mais afetados do corpo, mas virtualmente todas as artérias periféricas estão disponíveis para a ocorrência da DAP.

O principal sintoma do paciente com DAP é a claudicação intermitente, em que o paciente passa a mancar depois de caminhar alguma distância por insuficiência arterial do membro acometido. Esse sintoma tem por característica melhora com repouso. É como se fosse uma “angina” de membro inferior. Associada à claudicação intermitente o paciente pode ainda apresentar os seguintes sintomas:

  • Diminuição de temperatura do membro acometido
  • Diminuição do índice tornozelo-braço no membro acometido
  • Diminuição de pêlos no membro acometido
  • Redução da pulsação a montante da lesão arterial
  • Hipotrofia de panturrilha
  • Úlceras em pés
  • Palidez de membro acometido
  • Atrofia de pele e unhas do membro acometido

Prognóstico de pernas assintomáticas

A progressão da DAP é indiferente a sintomatologia do paciente. Por outro lado, é essencial a identificação de pacientes com DAP assintomáticos, para que possa-se prescrever e explicar cuidados com os pés e instituir ações de controle dos fatores de risco.

TASC II

Em 2007, uma reunião intersociedades atualizou a diretriz TASC para DAP, uma vez que esta tinha limitações importantes para o uso de médicos generalistas, como a limitação de acesso (publicação em jornais não disponíveis gratuitamente) e excesso de termos técnicos. A TASC II, assim como sua predecessora, tem como objetivo tornar o diagnóstico constante entre serviços e determinar o ponto de corte entre manejo em saúde básica ou com o cirurgião vascular. 

O que mudou da primeira para a segunda diretriz?

O objetivo se manteve o mesmo, organizar e facilitar as decisões de médicos generalistas e especialistas. Mas aumentou a ênfase no diabetes como fator de risco e a descrição de situações que acometem os pés. Além disso, a relação estreita entre DAP e risco cardiovascular.

A classificação TASC II para lesões Aorto-ilíacas

A diretriz TASC II determina 4 tipos de lesões principais em topografia de Artéria Aorta e Artérias Ilíacas Comum e Externa, identificadas pelas letras A a D.

As lesões tipo A têm por características serem uni ou bilaterais, estenosantes, em Artéria Ilíaca Comum, ou lesões uni ou bilaterais, estenosantes, curtas (até 3 cm) em Artéria Ilíaca Externa.

As lesões tipo B podem ser lesões curtas (até 3 cm), estenosantes de Artéria Aorta Infrarrenal, oclusão unilateral de Artéria Ilíaca Comum; ou estenoses únicas ou múltiplas que totalizam entre 3 e 10cm  em Artéria Ilíaca Externa sem envolvimento de Artéria Femoral Comum; ou ainda, oclusões unilaterais de Artéria Ilíaca Externa que não envolvam as origens da Artéria Ilíaca comum ou da Artéria Femoral Comum.

As lesões do tipo C incluem oclusões bilaterais de Artéria Ilíaca Comum, estenoses bilaterais que se estendam de 3 a 10 cm em Artéria Ilíaca Externa desde que não incluam Artéria Femoral Comum; estenoses de Artéria Ilíaca externa que se estendam até à Artéria Femoral Comum; oclusões unilaterais de Artéria Ilíaca Externa que envolvem origem da Artéria Ilíaca Comum e/ou Artéria Femoral Comum; oclusões unilaterais com calcificação extensa de Artéria Ilíaca Externa (podendo ou não incluir origem de Artéria Ilíaca Comum ou Artéria Femoral Comum). 

E, por fim, lesões do tipo D são as oclusões Aorto Ilíacas infra renal, doença difusa envolvendo Aorta e ambas artérias ilíacas que requeira tratamento; estenoses múltiplas e difusas que envolvam unilateralmente Artéria Ilíaca Comum, Artéria Ilíaca Externa e Artéria Femoral Comum. Inclui também oclusões unilaterais de Artéria Ilíaca Comum e Artéria Ilíaca Externa, oclusões bilaterais de Artéria Ilíaca Externa, estenoses ilíacas em pacientes com Aneurisma de Aorta Abdominal que necessite de reparo aberto ou qualquer outra doença de Aorta que necessite de cirurgia a céu aberto. 

Figura 1 – Classificação TASC II para lesões aorto-ilíacas como no artigo “Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II)”

A classificação TASC II para lesões fêmoro-poplíteas

Para a topografia Fêmoro-poplítea há também uma classificação que vai de A a D, como na anterior. 

As lesões tipo A podem ser estenoses únicas de até 10 cm de comprimento ou oclusões únicas de até 5 cm. Nas lesões do tipo B se incluem oclusões ou estenoses múltiplas desde que cada uma tenha até 5 cm, estenoses ou oclusões únicas de até 15 cm que não envolvam Artéria Poplítea infragenicular, lesões únicas ou múltiplas na ausência de vasos tibiais que permitam bypass distal, oclusões calcificadas de até 5 cm de comprimento e estenose única de Artéria Poplítea.

Já as lesões do tipo C incluem estenoses ou oclusões múltiplas que totalizam 15 cm de comprimento podendo ou não ser calcificadas, assim como estenoses ou oclusões recorrentes que persistem na necessidade de tratamento após duas intervenções endovasculares.

E por fim lesões tipo D incluem oclusões crônicas totais em Artéria Femoral Comum ou Artéria Femoral superficial de mais de 20 cm que envolvam a artéria poplítea e oclusões crônicas de Artéria Poplítea e de vasos proximais a trifurcação.

Figura 2 – Classificação TASC II para lesões fêmoro-poplíteas como no artigo “Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II)”

Afinal, quem vai usar a TASC II?

Essa diretriz com suas indicações e classificação da DAP foi reorganizada a fim de permitir que todo médico independente da especialidade seja capaz de acessá-la, compreendê-la e aplicá-la.

Médicos generalistas não precisam saber os pormenores das indicações cirúrgicas e da conduta específica. Mas é essencial que todos saibam entender laudos de exames de imagem que tragam essa classificação. A fim de que o paciente seja tratado em sua totalidade.

Como toda diretriz, é encorajado o conhecimento e a consulta a TASC II quando surgem dúvidas ou para a decisão de condutas em pacientes com DAP.

Autora: Annelise Oliveira

@anniemnese


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) – https://sbacvsp.com.br/doenca-arterial-obstrutiva-periferica/

Why TASC II? – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18048470/

Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II) – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17223489/

Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II) – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17140820/

Imagem TASC II lesões Aorto-ilíacas – https://els-jbs-prod-cdn.jbs.elsevierhealth.com/cms/attachment/07739447-1c03-4c39-8998-5d7819a535cb/gr24.gif

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