Ciclos da Medicina

Retalho nasogeniano: você sabe do que se trata? | Colunistas

Retalho nasogeniano: você sabe do que se trata? | Colunistas

Compartilhar
Imagem de perfil de Comunidade Sanar

Que atire a primeira gaze aquele que nunca ficou encarando o próprio nariz no espelho! Tem gente que foi contemplado com um nariz simétrico, harmônico e proporcional, e estes eu apelidei carinhosamente de abençoados, os que nunca cogitaram a ideia de fazer uma rinoplastia, enquanto existem também aquelas pessoas que não são tão fãs assim do formato do seu órgão respiratório.

E está tudo bem, desde que esta insatisfação não progrida para um quadro psiquiátrico de dismorfismo corporal, é aceitável que nós, meros mortais, sejamos vaidosos e preocupados com a aparência. Porém, o que aconteceria se em uma dessas miradas no espelho nos depararmos com uma lesão neoplásica cutânea?

O nariz é acometido com grande frequência por neoplasias cutâneas. O que torna importante sua reconstrução estética e funcional. Em defeitos nasais extensos, que acometem principalmente a asa do nariz, é utilizado o retalho nasogeniano.

O retalho nasogeniano é centrado no sulco nasogeniano, em forma de elipse e pode ser feito bilateralmente.É utilizado nas reconstruções de defeitos do lábio superior, pavimento das fossas nasais, junção naso-labial e columela. 

Esse retalho é capaz de restaurar a anatomia e a função nasal sem distorcer subunidades anatômicas adjacentes. Os detalhes dessa cirurgia você verá a seguir, mas antes, um pouquinho de história.

História do retalho nasogeniano

A reconstrução do nariz é uma prioridade desde a antiguidade. Os primeiros registros são datados em 3000 a.C, no Papiro Cirúrgico de Edwin Smith, no antigo Egito, pois apenas aqueles sem desfiguração poderiam entrar no templo de Osíris.

Posteriormente, em 600 a.C, foi descrito um retalho cutâneo para a pirâmide nasal no Sushruta Samhita, um dos livros sagrados hindus. Naquele período, a mutilação ou amputação eram uma prática comum para castigo, causando a humilhação social do indivíduo.

Mais recentemente, no século XIX, Johann Friedrich Dieffenbach popularizou o uso do retalho nasogeniano, e Herbert, em 1975, constatou que a pele da região nasogeniana é ideal na cor e textura para reconstrução nasal.

Quais as vantagens do retalho nasogeniano?

O retalho nasogeniano tem a vantagem de preservar o sulco alar e camuflar a cicatriz no sulco nasogeniano. Além de uma fonte “macia” e fibrogordurosa da área doadora da bochecha. O resultado estético é satisfatório, proporcionando uma cobertura cutânea de ótima qualidade, gerando satisfação ao paciente.

É indicado para reparar defeitos extensos e profundos da asa nasal em que não é possível realizar a síntese primária ou retalho de avanço, e também é utilizado em pequenos defeitos da porção inferior da ponta nasal, columela e lábio superior.

E as desvantagens?

Apesar de ser uma excelente opção na reconstrução do nariz, faz-se necessário dois ou três tempos operatórios, dificultando a adesão ao tratamento e aumentando o grau de dificuldade técnica.

Outra desvantagem é o aumento do tamanho e visibilidade da cicatriz do local doador. E, em homens, pode ocorrer a transferência de folículos pilosos (os quais podem ser removidos depois).

Quais as complicações?

As complicações potenciais incluem sangramento pós-operatório, cicatrização inadequada, infecção, deiscência, distorção de margens livres e necrose.

Quem pode realizar a cirurgia?

Cirurgiões plásticos, cirurgiões dermatológicos e, em alguns casos, outras especialidades cirúrgicas.

Método cirúrgico

Em um primeiro momento, os tumores são ressecados com margens de segurança e é feita a confirmação das margens livres após avaliação pelo método de congelação. Feito isso, é proposto o primeiro tempo cirúrgico, que, resumidamente, inclui a marcação dos limites, antissepsia, anestesia local, retirada do enxerto de cartilagem (concha do pavilhão auricular) se necessário, suturar a cartilagem no nariz, descolamento do retalho, sutura e curativo.

Em um segundo momento, que pode levar de 3 a 4 semanas, são feitos os refinamentos funcionais e estéticos tanto do nariz quanto da área doadora. Dependendo das queixas estéticas, após 2 a 3 meses, realiza-se um terceiro tempo cirúrgico, com novos refinos.

Conclusão

O aumento da expectativa de vida e da incidência do câncer de pele torna a reconstrução das áreas acometidas um assunto de grande relevância. Um resultado estético e funcional satisfatório é fundamental nas diferentes faixas etárias, pois sabemos que um nariz deformado tem profundo impacto psicológico no paciente.

Portanto, é necessário que o profissional seja criteriosamente habilitado, possua técnica minuciosa e tenha planejamento adequado para obter bons resultados!

Autora: Alice Nunes


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

Retalho nasogeniano de interpolação na reconstrução da asa nasal – Rev. Bras. Cir. Plást. 2018;33(2):217-221 http://www.rbcp.org.br/details/2045/pt-BR/retalho-nasogeniano-de-interpolacao-na-reconstrucao-da-asa-nasal-apos-resseccao-de-tumores-cutaneos

Comparação entre retalho paramediano frontal e retalho interpolado do sulco nasogeniano para reconstrução nasal após cirurgia micrográfica de Mohs.

Retalho interpolado do sulco nasogeniano para reconstrução da asa nasal após cirurgia micrográfica de Mohs- Surgical Cosmetic ORG

Potencialidades do retalho nasogeniano – Rev. Port. ORL. n. o 44, n. 0 2, Junho 2006