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Definição
Os retalhos cutâneos são unidades constituídas por pele e tela subcutânea transferida de uma área (doadora) para outra (receptora), tendo o seu próprio pedículo vascular, responsável pela sua nutrição. São utilizados na cobertura de feridas, proporcionando um melhor aspecto estético e funcional. É importante lembrarmos que o retalho se diferencia do enxerto exatamente porque o enxerto é totalmente desconectado do seu pedículo vascular, nutrindo-se inicialmente por embebição plasmática da área receptora.
Indicações
Reparação de feridas na face (aspecto estético);
Cobertura de estruturas nobres (nervos e vasos – cobertura mais robusta);
Cobertura de saliências ósseas (tratamentos de úlceras de pressão – escaras de decúbito);
Regiões com déficit de irrigação (quando colocado nessa região, o retalho melhora a vascularização do leito receptor).
Contraindicação
Insuficiência da área doadora.
Classificação
Os retalhos se classificam de acordo com diversos critérios quanto a:
- Forma
- Planos: retalhos que mantêm a forma original, possuindo uma única superfície de revestimento cutâneo, constituindo a maioria dos retalhos;
- Tubulares: retalhos cujas bordas são saturadas uma à outra, formando um tubo.
- Número de pedículos
- Monopediculados;
- Bipediculados;
- Multipediculados.
- Constituição
- Simples – formado apenas por pele e tela subcutânea;
- Duplo revestimento – retalho simples que têm a sua parte de subcutâneo enxertada com pele, ou seja, têm pele na parte externa e na interna, sendo bom para reconstruir cavidades como bochecha;
- Composto – pele e subcutâneo + outro tecido: se músculo, retalho miocutâneo; se cartilagem, retalho condrocutâneo; se osso, osteocutâneo; se osso e músculo e pele, osteomiocutâneo.
- Vascularização
- Randomizados ou ao acaso – são retalhos cuja irrigação vem de artérias perfurantes musculocutâneas;
- Axiais – retalho cuja irrigação é pela artéria cutânea direta.
- Mobilização
- A distância – são retalhos obtidos de uma região distante do local a ser reparado;
- Vizinhança – são subdivididos de acordo com a sua forma de migração:
- Deslizamento/avanço: são aqueles retalhos traçados a partir de uma das bordas da área cruenta, que lhe é contígua, alcançando-a em movimento retilíneo. São usados em retirada de lesões de pele, para diminuir tensão da ferida. Se formar redundância de pele na base, a chamada orelha de cachorro, deve-se fazer a retirada desse triângulo de compensação/de Burow (Figura 1);
- Rotação: são aqueles retalhos traçados a partir de uma das bordas da área cruenta, que lhe é contígua, alcançando-a em movimento rotatório. O seguimento de pele é retirado em triangulo e progride em semicírculo (2-4x a extensão de um dos lados do triângulo), fazendo descolamento do plano subcutâneo e rotação do retalho para o fechamento da ferida. Se formar redundância de pele na base, retira-se o triângulo de compensação;


Transposição:
são retalhos de forma variável que, para alcançar a área cruenta, realizam um movimento giratório, transpondo a área de pele normal. Como exemplos, temos: retalho bilobado, retalho de Limberg e zetaplastia;
Interpolação:
são retalhos de forma variável que, para alcançar a área cruenta, realizam um movimento giratório, passando em ponte sobre a área de pele normal.

- Complicações
- Infecção;
- Hematoma;
- Necrose de ponta;
- Insuficiência vascular;
- Sutura sob tensão ou torção do pedículo;
- Utilização de um retalho menor que a área coberta;
- Cuidados pós-operatórios inadequados.
Limberg
Retalho que utiliza paralelogramo com ângulo de 60° e 120° para transpor tecido para um defeito em forma de diamante. É bastante versátil, sendo indicado em cistos pilonidais, cirurgias em mãos e nas áreas de otorrinolaringologia e oftalmologia.
Procedimento: realizar incisão da lesão em forma de losango (romboide), onde, no maior ângulo interno, faz-se o prolongamento do mesmo tamanho de um dos lados do losango e, em seguida, uma linha paralela a um outro lado do losango. Depois, seguimos realizando o descolamento da pele e do subcutâneo e depois transpomos o retalho para fechar a ferida.

*Transposição do retalho D’-B, E´-A, F-D (sutura mais importante, faz com que o retalho caia sobre toda ferida sem tensão, fazer ponto de Gillies nesse local primeiro)
Zetaplastia
É uma técnica na qual dois triângulos são transpostos. Ela é indicada no alongamento de cicatrizes retráteis, na mudança da posição da cicatriz em relação às linhas de força e na correção de defeitos congênitos como fissuras labiopalatinas e bridas amnióticas.
- Procedimento – nessa técnica, fazemos uma incisão na região central e dois prolongamentos: um para direita e outro para esquerda do mesmo tamanho, formando um “Z”. Descolamos o subcutâneo e no seu fechamento fazemos a transposição do triângulo, o B vai para o lugar do A e o triângulo A vai para o lugar do B (ver imagem). O Z muda de posição, sendo que ele pode ser único ou múltiplo.

Pós retalho
Avaliação: os retalhos podem ser avaliados quanto a cor (normal, se bem perfundido; cianótico, insuficiência venosa; se pálido, insuficiência arterial), sangramento (se o parâmetro da cor não for o bastante, podemos fazer pequenas perfurações na superfície do retalho com uma agulha e avaliar a coloração do sangramento; se sangue vermelho rutilante, bem perfundido; se sangramento escurecido ou cianótico, insuficiência venosa; se não tiver sangramento, insuficiência arterial) e podemos usar também teste de viabilidade (angiografia, fluorescência e temperatura).
Resultados tardios:
cor e textura normais, diminuição da espessura do retalho; glândulas sebáceas, pelos normais e as glândulas sudoríparas (inervação simpática) demoram mais tempo para entrar em atividade, porque a regeneração nervosa ocorre mais tardiamente – daí a necessidade de uma boa hidratação da área do retalho até que as glândulas sudoríparas voltem ao seu funcionamento normal.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
REFERÊNCIAS:
Goffi Fábio Schimit. Técnica Cirúrgica: Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas de Cirurgia. 4a edição – São Paulo: Atheneu, 1996.
Morris, D. Overview of flaps for soft tissue reconstruction. UpToDate, 2018.
Mélega, José Marcos. Cirurgia Plástica Fundamentos e Arte, Princípios Gerais. 1ª edição, Editora MEDSI – 2002.
Mélega, José Marcos. Cirurgia Plástica- Os Princípios e a atualidade. Editora Guanabara – 2011.
UpToDate. Overview of flaps for soft tissue reconstruction. Jul 2020.
Chasmar, Leslie. The versatile rhomboid (Limberg) flap. The Canadian Journal of Plastic Surgery – 2007.
Sabiston. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed, Editora Elsevier – 2014.
Kalaska, Deepak K, Peter E. Butler, and Shadi Ghali. Textbook of Plastic and Reconstructive Surgery. UCL Press– 2016.