Índice
- 1 O que é a isotretinoína?
- 2 Como funciona o Roacutan e como o medicamento age no organismo?
- 3 Quando o médico deve indicar o uso do Roacutan?
- 4 Riscos e benefícios do Roacutan
- 5 Quais as contraindicações ao uso do Roacutan?
- 6 Como fazer o acompanhamento do paciente em uso de Roacutan?
- 7 Conheça nossa pós em dermatologia!
- 8 Sugestão de leituras complementares
- 9 Referências bibliográficas
Roacutan: confira nesta publicação tudo que você precisa saber sobre indicações desse medicamento no atendimento de casos dermatológicos!
O Roacutan é um medicamento indicado para o tratamento da acne moderada a grave no contexto de insucesso de terapias prévias dessa condição. Embora tenha sido bastante popularizada no contexto das redes sociais, principalmente pelo desejo de melhora estética das lesões cutâneas, é importante que todo o médico conheça e domine quais as indicações e contraindicações desse medicamento. Garantir a segurança do paciente e evitar complicações associados ao uso do Roacutan deve estar em primeiro lugar.
Iremos abordar os pontos principais sobre o funcionamento desse medicamento, seus riscos e benefícios e como deve ser feito o acompanhamento do paciente conforme o quadro apresentado.
O que é a isotretinoína?
A isotretinoína (ácido 13-cis-retinóico), comercializada popularmente como Roacutan, é um medicamento usado frequentemente para o tratamento de condições dermatológicas como a acne vulgar, sobretudo em quadros mais graves.
O uso clínico da isotretinoína em via oral é o mais comum, mas é imprescindível ter ciência dos seus efeitos benéficos e possíveis riscos, sendo, dessa forma, essencial a avaliação da real necessidade do uso desse medicamento diante de cada quadro.
Como funciona o Roacutan e como o medicamento age no organismo?
Por ser utilizada sobretudo no tratamento da acne vulgar, vamos compreender o que é essa condição e, a seguir, discutir o mecanismo de ação do medicamento nesse contexto.
A acne vulgar é uma dermatose bastante frequente nas faixas etárias que compreendem a adolescência, mas pode também ocorrer em qualquer fase da vida.
Entre os mecanismos que justificam o desenvolvimento da acne vulgar, estão uma série de fatores que interagem entre si e provocam a inflamação que culminam no surgimento de lesões associadas tanto a dor quanto a um descontentamento com a aparência estética, sobretudo pelo surgimento comum nas regiões dorsais e de face.
Etiopatogenia da acne vulgar
Os quatro fatores patogênicos envolvidos na etiopatogenia da acne vulgar são:
- Resultados da hiperqueratinização folicular
- Aumento exacerbado da produção de sebo pelas glândulas sebáceas
- Proliferação da Cutibacterium acnes e inflamação, embora o mecanismo exato desse conjunto não seja conhecido.
Fatores de risco da acne vulgar
Os fatores de risco mais associados ao desenvolvimento da acne vulgar são:
- Trauma local de pele
- Hábitos alimentares que inclui dietas hiperglicêmicas e o consumo de leite
- Estresse
- Resistência insulínica
- Elevado índice de massa corporal.
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas dessa condição incluem lesões papulopostulares e/ou nodulares que podem deixar sequelas cutâneas como hiperpigmentação pós-inflamatória, cicatrizes e outras que repercutem também com efeitos psicológicos como baixa autoestima, entre outros.
Uma vez compreendida as repercussões da acne vulgar, vamos explorar o efeito do roacutan.
Isotretinoína no organismo
A isotretinoína tem a capacidade de neutralizar os fatores patogênicos que levam ao desenvolvimento da acne vulgar como o encolhimento das glândulas sebáceas e da diminuição da secreção de sebo, o que inibição da Cutibacterium acnes. Além disso, os efeitos antiinflamatórios desse medicamento são conhecidamente explicáveis através da normalização da resposta imune inata mediada por receptores toll-like. O Roacutan também promove a diferenciação de queratinócitos, ajudando na diminuição do processo descamativo associado a acne vulgar.
É aconselhável que o paciente faça o uso do medicamento durante as refeições, pois a absorção é aumentada principalmente quando associada a alimentos rico em gorduras.
O tratamento em casos de acne severa tende a durar de 20 a 24 semanas e geralmente busca-se atingir uma dose cumulativa de 120 a 150 mg/kg, iniciando com dose de 0,5 mg/kg por dia no primeiro mês na tentativa de minimizar o surgimento de acnes induzidas pelo uso do medicamento na fase inicial. É possível aumentar a dose para 1mg/kg por dia conforme necessário.
Quando o médico deve indicar o uso do Roacutan?
O Roacutan é um medicamento indicado principalmente para quadros de acnes severa (estágio moderado a grave), sobretudo para pacientes acima de 12 anos, pois não há evidência de eficácia da isotretinoína no público abaixo dessa faixa etária.
Pode-se optar por essa terapia principalmente em casos em que não houve sucesso terapêutico com outros fármacos, desde que não haja contraindicações.
Riscos e benefícios do Roacutan
Embora os efeitos do Roacutan possam ser manejados, permitindo a continuação do seu uso terapêutico, é preciso conhecer quais os efeitos colaterais e riscos mais comuns associado a esse fármaco.
Efeitos colaterais mucocutâneos
Quase 65% dos efeitos colaterais relatados são de ordem dermatológica, onde a frequência da queilite e xerose são maiores se comparados ao ressecamento da pele, aumento da fotossensibilidade, prurido e epistaxe. Esses efeitos são geralmente associados à dose utilizada e podem ser prevenidos.
Alopecia difusa temporária, granulomas piogênicos e aumento da fragilidade das unhas são observadas ocasionalmente.
Anormalidades oculares
Conjuntivite, xeroftalmia e ceratoconjuntivite seca podem surgir e acredita-se que essas condições estão associadas ao efeito do medicamento nas glândulas de Meibomius na conjuntiva ocular.
Efeito teratogênico
Existe um risco aumentado em 20% de abortamento espontâneo, além do desenvolvimento de malformações congênitas graves ou incompatíveis com a vida. Embriopatias que incluem malformação cardíaca, tímica, do sistema nervoso central e craniofaciais também foram percebidas em alguns estudos.
Efeitos psiquiátricos do roacutan
Existem muitos estudos vigentes que buscam a relação entre o uso do Roacutan, depressão e suicídio, embora ainda não haja um consenso bem estabelecido na literatura. Contudo, algumas sociedades recomendam que os pacientes sejam devidamente informados sobre essas situações e monitorados proximamente, principalmente quando relatarem qualquer comportamento ou ideação suicida.
Uma coorte retrospectiva encontrou uma maior prevalência de ideação suicida entre pacientes com histórico de acne tratados com a isotretinoína em relação aos tratados com antibióticos orais. No entanto, ainda há a carência sobre a existência e determinação da relação causal.
Além dos efeitos citados anteriormente, existem reações adversas possíveis em relação ao sistema hepático, musculoesquelético e ósseo, embora existam conflitos na literatura.
Há estudos que apontam ainda um risco aumentado para o desenvolvimento de colite ulcerativa e doença de Crohn e outras doenças inflamatórias intestinais.
Em relação aos benefícios, grande parte dos pacientes relatam satisfação com o resultado final do tratamento – que consiste na cura das acnes em estágio avançado. Depois de 35 a 45 dias, os efeitos positivos de diminuição das acnes e das sequelas cutâneas como a hiperpigmentação começam a desaparecer, embora saibamos que o início do tratamento possa ser bastante desafiador, como vimos acima.
Quais as contraindicações ao uso do Roacutan?
As principais contraindicações são:
- Não deve ser administrado em gestantes ou mulheres que possam engravidar dentro de um mês do início da terapia
- Pacientes com histórico de hipersensibilidade a isotretinoína ou qualquer um de seus componentes
- Pacientes com alergia à soja – já que as cápsulas contêm óleo de soja em sua composição.
Como fazer o acompanhamento do paciente em uso de Roacutan?
No início da terapia pode ocorrer um agravamento considerável no estado da acne antes da melhora surgir. Dessa forma, é necessário instruir os pacientes a respeito desse acontecimento.
Deve-se instruir que o paciente não doe sangue durante a terapia. Apenas depois de 1 mês após a descontinuidade do tratamento é permitido voltar a doar. O motivo é que o sangue doado por ser ofertado a uma paciente gestante e, como já vimos, existem efeitos teratogênicos da medicação.
É recomendado aconselhar que o uso excessivo de álcool seja evitado durante o tratamento.
É valido sempre avaliar a percepção do paciente sobre a piora ou melhora das acnes observadas durante o tratamento. Além do surgimento dos efeitos colaterais citados anteriormente. Outros sintomas que devem ser observados são dor de cabeça, sintomas associados ao sistema digestório, instabilidade emocional e epistaxe.
A avaliação laboratorial deve incluir o:
- Hemograma
- Função hepática
- Dislipidemia
- Deve-se sempre considerar a investigação de gravidez no público feminino.
Conheça nossa pós em dermatologia!
O ponto chave para realizar um bom tratamento com o Roacutan é ter uma comunicação muito clara com o paciente. É preciso informar sobre os riscos e benefícios. Além disso, é necessário fazer um acompanhamento bem próximo devido aos potenciais efeitos colaterais presentes na maioria dos casos. Cabe sempre ressaltar quão necessário é que o paciente retorne nas consultas mensais e seja sincero sobre a experiência do uso da isotretinoína.
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Sugestão de leituras complementares
- Isotretinoína é segura para tratar acne? Entenda como deve ser feito o uso – Sanar Medicina
- Anticoncepção no tratamento da acne: como fazer a melhor escolha? – Sanar Medicina
- Acne na atenção básica | Colunistas – Sanar Medicina
Referências bibliográficas
- COSTA, A.; ALCHORNE, M. M. DE A.; GOLDSCHMIDT, M. C. B. Fatores etiopatogênicos da acne vulgar. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 83, n. 5, p. 451–459, set. 2008.
- Owen, Cindy. Oral isotretinoin therapy for acne vulgaris. Uptodate, Ago. 2023. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/oral-isotretinoin-therapy-for-acne-vulgaris
- Zaenglein AL, Pathy AL, Schlosser BJ, Alikhan A, et. al. Guidelines of care for the management of acne vulgaris. J Am Acad Dermatol. 2016 May;74(5):945-73.e33.