Residência Médica

Rotina na residência de Nefrologia

Rotina na residência de Nefrologia

Compartilhar
Imagem de perfil de Residência Médica

A rotina na residência de Nefrologia pode ser bem agitada e envolve muitos estudos, pois sua atuação só acontece após dois anos de residência em Clínica Médica e, em seguida, outros dois anos em Nefrologia propriamente.

A Sociedade Brasileira de Nefrologia estima que são necessários cerca de 10 anos para especializar-se nessa área, que atua no tratamento de doenças relacionadas aos rins e trato urinário.

São 4.474 médicos nefrologistas no Brasil, como mostra a Demografia Médica no Brasil 2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Em relação à residência médica em Nefrologia, 331 médicos cursavam a especialidade, que por sua vez possui 830 vagas autorizadas. Nefrologia é a primeira opção de 0,8%dos recém-formados, de acordo com o mesmo levantamento.

A Sanar Residência Médica conversou com quem está na área para falar tudo sobre a rotina da residência de Nefrologia. Conheça a história de Alexandre Vitor de Sá, que concluiu a residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas de Salvador (BA) em 2018, e de Sabrina Aroucha, que concluiu a residência médica em Nefrologia Pediátrica pelo Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP, também em 2018.

Veja que existem muitas coisas que você precisa saber antes de escolher a residência de Nefrologia. Então veja os detalhes abaixo e escolha bem a sua especialidade!

Por que residência de Nefrologia?

Após cursar Medicina na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, em Salvador, Alexandre conta que escolheu Nefrologia a partir da residência em Clínica Médica no Hospital Santa Izabel, na Santa Casa. “Escolhi Clínica Médica porque me daria a oportunidade de conhecer várias especialidades, e me apaixonei por Nefrologia ao conhecer a equipe médica e o serviço nesse centro de excelência”, diz. 

Em seguida, ao terminar Clínica Médica, “fiz a prova de residência exclusivamente para entrar no Hospital das Clínicas”, afirma. Por morar em Salvador há 20 anos e ter família no interior do estado, a instituição da capital baiana foi a escolhida para a residência.

Já Sabrina fez Medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), residência em Pediatria em Florianópolis pelo Hospital Infantil Joana de Gusmão — SES/SC e Nefrologia Pediátrica no Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP, no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo. 

“Na Pediatria, tive contato com pacientes de Nefrologia e vi que eles tinham um perfil que eu gostava. Escolhi Nefrologia porque poucos médicos fazem essa especialidade e, além disso, ela possui diversas áreas de atuação, tanto para quem deseja atuar em Nefrologia Clínica quanto na Pediátrica: você pode escolher ambulatório, UTI, diálise e outras porque ela possui flexibilidade de campo de atuação e versatilidade”, conta.

Aprovada também na prova de residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ela preferiu cursar Nefrologia na cidade de São Paulo pela localização.

Como a residência é dividida

A residência de Nefrologia tem carga horária de 60 horas semanais e duração de dois anos, porém tem como pré-requisito dois anos de residência em Clínica Médica. 

De acordo com a Matriz de Competências de Nefrologia estabelecida pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) divide os conhecimentos esperados pelos residentes em cada ano de especialização da seguinte forma:

  • R1: aptidão para a reconhecer, diagnosticar, determinar a conduta e acompanhar os pacientes com doenças nefrológicas e suas intercorrências; domínio da história clínica, realização de exame físico, geral e específico, formulação e avaliação de hipóteses diagnósticas, interpretação de exames complementares;
  • R2: pesquisa clínica em bases de dados científicas e conhecimento do essencial de metodologia científica para apresentações em sessões clínicas e formulação de trabalhos científicos; intervir nas principais doenças renais que requeiram atendimento de urgência e emergência; entre outras.

“São dois anos bem puxados”, revela Sabrina. No primeiro ano, ela participou de rodízio de enfermaria, UTI Pediátrica e ambulatório, com subtipos como ambulatórios de pacientes com doença renal crônica, de transplantados ou de nefrologia geral.

“Também realizávamos biópisia renal guiada por ultrassom, além de contato com Nefrologia adulta e participação em diálises agudas de pacientes de UTI”, relembra.

Já no R2, ela atuou no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil do Hospital das Clínicas paulista no atendimento a pacientes que faziam diálise aguda, além de estágio externo com interconsulta em pacientes do Instituto do Coração e pacientes de berçário.

Por fim, Sabrina fez estágio externo durante um mês no Cincinnati Children’s Hospital Medical Center, em Ohio (EUA). “Acompanhamos lá o serviço de enfermaria e consultas ambulatoriais, entre outras atividades”, conta.

Leia também: Residência Médica nos EUA: como é o processo?

Alexandre revela que “no R1, o foco principal é a doença renal crônica, principalmente nos pacientes que dependem de diálise. Você fica muito próximo e trabalha intensamente nessa unidade, além de ficar bastante no ambulatório com pacientes que ainda não fazem diálise. Muitas vezes, você acompanha diálise à noite e aos sábados em plantões de 24 horas. Por isso, o primeiro ano é bem puxado”, comenta.

Por outro lado, no segundo ano o R2 atua mais com orientações aos residentes de primeiro ano. “Você ainda está na linha de frente, mas participa de maneira mais ativa na enfermaria, e também em foco nos pacientes com injúria renal aguda, além de pacientes em UTI ou que estejam hospitalizados”, diz.

Alinhando as principais expectativas

Alexandre conta que, por gostar muito de Clínica Médica, esperava que teria ainda mais aprendizados sobre essa área na Nefrologia. “O Nefrologista tem certa fama entre os médicos de ser um bom clínico”, diz.

As expectativas foram atendidas porque “a Nefrologia tem interface com outras especialidades. Afinal, o especialista deve conhecer doenças de outras áreas para entender como elas acometem o rim”, diz.

As expectativas também foram acima do esperado com Sabrina. “Quando atendi pacientes renais na Pediatria, não tinha noção de quantas doenças raras poderiam existir na Nefrologia.

Existe uma série de intercorrências que podem acontecer também, por exemplo, em transplantes renais ou de medula”, diz a especialista. “Aprendiz muito mais do que imaginava, inclusive sobre diálise crônica aguda e doenças raras. Não imaginava o tamanho da curva de aprendizado que teria”.

O melhor da residência de Nefrologia

O melhor da residência de Nefrologia, de acordo com Alexandre, é o aprendizado sobre glomerulopatias. A questão traz muitos debates intensos entre colegas. “É um aprendizado muito rico e muito específico, e nós cuidamos desse tipo de problema. Além disso, o nefrologista pode intervir nesse aspecto e, por meio de muito aprendizado, o especialista consegue intervir em pacientes [com essa enfermidade], e dá satisfação ver que você foi efetivo na melhora de alguém”, opina.

Por outro lado, Sabrina aponta que a residência que fez em Nefrologia também foi importante para o aspecto emocional. “A melhor parte foi fazer amigos residentes, de outros estados inclusive. Afinal, isso permite apoios, pois todos estavam longe da família e deixa tudo mais leve”, comenta.

O mais difícil

Sabrina comenta que uma soma de fatores traz desafios para a residência, como carga horária e trabalhos em plantões. Principalmente considerando o custo de vida na cidade de São Paulo. “É tudo bem puxado, afinal é preciso trabalhar na residência, trabalhar para se manter e também estudar a parte teórica. Com isso, a saúde física e mental pode ficar comprometida, por isso é importante ter atenção para se manter financeiramente e ter autocuidado”, indica a nefrologista pediátrica.

Para Alexandre Vitor de Sá, o mais difícil é lidar com pacientes em quadros graves com chances de desfechos negativos. “É uma desvantagem caso a pessoa não se prepare psicologicamente para lidar com isso.

Uma das estratégias que criei diante disso é saber que isso pode acontecer e é inevitável. Entretanto, nos casos em que não se pode curar um paciente, o nefrologista pode proporcionar alívio ao sofrimento.

Minha dica é: você vai lidar com pacientes graves e alguns não vão se recuperar. Mas você terá recursos necessários para aliviar o sofrimento desse paciente”, recomenda.

Expectativa de trabalho e emprego

O Nefrologista tem um diversas áreas para atuar, como injúria renal aguda, doença renal crônica, nefrologia intervencionista etc.

É possível fazer plantões em clínicas de hemodiálise, visitar UTIs e enfermarias, atuar em consultórios, em unidades de transplante e ainda fazer pesquisas. Em concursos públicos, porém, há poucas vagas.

A média salarial desse profissional é de R$ 6.994,10 para uma carga horária semanal de 22 horas, segundo o site Salário.com.br. O valor pode variar de acordo com o tempo de experiência e região de atuação.

Para Sabrina Aroucha, o mercado para especialistas depende da cidade e dos serviços da região. “Mas a parte ambulatorial conta com poucos profissionais.

Portanto, consultório sempre tem déficit de profissional”. Em sua visão, investir em consultório é outra possibilidade, dependendo da localidade e do tempo para se tornar conhecido.

“Tanto o nefrologista clínico quanto o pediátrico estão em um mercado promissor, podendo atuar com foco em UTI, diálise aguda ou em distúrbios miccionais.

Ainda é possível focar em transplante renal, então pode ser feito o R5, que é a especialização em transplante”, comenta. 

Para o recém-formado, as clínicas de hemodiálise são vantajosas quando o assunto é mercado de trabalho em Nefrologia, diz Alexandre. A concorrência menor dessa especialidade em relação a outras é mais uma vantagem. “Justamente por ter menos profissionais, o mercado de trabalho é bom. As clínicas de hemodiálise precisam muito dele e a quantidade de pacientes que precisam do procedimento aumenta progressivamente”.

O nefrologista também acredita que o setor de transplante renal é uma área que tem crescido e com boa remuneração. Por fim, ele comenta sobre a nefrologia intervencionista, porém neste caso existe concorrência com o cirurgião vascular e cirurgião geral. “É uma área interessante, mas que não tem tanto espaço no serviço privado”, comenta.

Conclusão sobre a rotina da residência de Nefrologia

“Apesar das dificuldades encontradas no caminho, a residência médica em Nefrologia traz boas experiências. O crescimento pessoal também é muito grande. Existe a chance de aproveitar experiências incríveis, como o estágio que fiz nos Estados Unidos”, opina Sabrina. 

“Você conhece pessoas incríveis e estabelece laços com muitos pacientes. Olhar para uma pessoa de forma humana e próxima alivia muito a dor e sofrimento dessas pessoas. Muitas vezes, a força que precisamos nos momentos difíceis de residência vem dos pacientes”, reflete.

Para Alexandre, a residência de Nefrologia é uma experiência incrível que já começa bem para quem gostou da especialização anterior. “Se você gosta de Clínica Médica, tem grandes chances de gostar de Nefrologia. Além disso, se você gosta de trabalhar em hospital, cuidando de internados, vá fundo em Nefrologia. Você vai gostar”, finaliza.

Sanar-Residência-Médica-Trial-Extensivo-R1-2021

Confira o vídeo:

Posts relacionados: