Índice
- 1 A tecnologia da vacina de Oxford
- 2 O Adenovírus como vetor viral
- 3 O que acontece após as doses da vacina de Oxford
- 4 A produção da proteína Spike
- 5 Detectando o invasor
- 6 Próxima etapa: produção de anticorpos
- 7 Após vacinação, a resposta à infecção
- 8 A resposta imune celular provocada pela vacina de Oxford
- 9 Referências
Neste post vamos te explicar em detalhes como funciona a vacina de Oxford. Já falamos sobre a CoronaVac, agora é a vez da vacina criada pela parceria entre a Universidade de Oxford e a companhia AstraZeneca.
A vacina, também denominada de ChAdOx1 nCoV-19 ou AZD122, apresentou eficácia entre 62% a 90% nos ensaios clínicos.
Recentemente aprovada pela ANVISA para uso emergencial no Brasil, a vacina fará parte do programa de imunização contra o coronavírus em nosso País.
Vamos saber então, em detalhes, como a vacina foi formulada.
A tecnologia da vacina de Oxford
Como falamos no nosso post sobre a CoronaVac, a missão de uma vacina é “ensinar” ao sistema imune como se defender de um agente infeccioso.
Tanto a CoronaVac, como a vacina de Oxford, fazem isso ao estimular a produção de anticorpos que se ligam na proteína de superfície denominada proteína spike, peça chave para entrada do vírus na célula.
A vacina de Oxford é baseada nas instruções genéticas do vírus para sintetizar a proteína spike.
Temos outras vacinas que também utilizam-se da informação genética do vírus, como a vacina da Pfizer BioNTech e a da Moderna, mas, diferente destas que são vacinas de mRNA, a vacina de Oxford utiliza moléculas de DNA na sua composição.
A tecnologia utilizada para produzir a vacina de Oxford é baseada em vetores virais. Nesse tipo de vacina, um vírus como sarampo ou adenovírus é geneticamente modificado para carregar as informações necessárias para produzir proteínas do coronavírus.
No caso da Vacina de Oxford, o adenovírus do Chipanzé é utilizado para carregar DNA da proteína Spike do SARS-CoV-2, proteína chave no processo de infecção do vírus nas células humanas.
A versão do adenovírus utilizada é de tal forma modificada que este é capaz de adentrar a célula, mas não é capaz de replicar-se dentro dela.
Uma das vantagens da vacina de Oxford ao utilizar esta tecnologia é que anos de estudo já haviam se passado em pesquisas com vacinas baseadas em adenovírus.
Na verdade, uma vacina contra o vírus Ebola, utilizando esta mesma tecnologia, já havia sido aprovada em Julho. Vacinas para outras doenças como HIV e Zika também estão sendo estudadas.
Uma outra vantagem da Vacina de Oxford é a utilização da informação genética na molécula de DNA, que é uma molécula muito menos frágil que o RNA.
Além disso, a capa protéica do adenovírus contribui ainda mais para preservação do DNA íntegro. Tudo isto permite que a vacina não necessite permanecer congelada, podendo ser armazenada em temperaturas entre 2-8° C.
O que acontece após as doses da vacina de Oxford
Agora que já sabemos como a vacina foi construída, vamos analisar o que acontece após esta ser injetada no corpo humano. O Adenovírus atraca-se na superfície da célula e é endocitado para o seu interior.
Uma vez dentro da célula, o adenovírus deposita o seu DNA no interior do núcleo da célula. Apesar do adenovírus não ser capaz de replicar-se dentro da célula, o DNA por ele carregado pode ser lido e transcrito em uma molécula de RNAm.
A produção da proteína Spike
Após transcrito, o RNAm contendo a informação para produção da proteína Spike deixa o núcleo da célula e é transportado para o citoplasma celular (veja a figura acima). Nele, o RNAm é traduzido na proteína Spike.
Após isto, a proteína spike então migra para a membrana celular. Algumas destas proteínas também são quebradas e têm seus fragmentos expostos na superfície da célula. Agora, o sistema imune será capaz de reconhecê-las.
Além disso, a própria presença do Adenovírus provoca um sinal de alarme e ativação do sistema imune, o que resulta em uma reação mais forte das células do sistema imune contra a proteína spike.
Detectando o invasor
Quando a célula vacinada morre, a proteína spike e seus fragmentos entram em contato com a célula apresentadora de antígeno. Esta por sua vez apresenta os fragmentos endocitados em sua superfície.
Assim, quando as células T helper detectam estes fragmentos, dá-se início o sinal de alarme para que outras células do sistema imune lutem contra o possível invasor.
Próxima etapa: produção de anticorpos
A resposta imune não para por aí, não. Um outro tipo de célula, chamada célula B, ao entrar em contato com a superfície da célula vacinada, ou mesmo fragmentos da proteína spike flutuantes, tem seus anticorpos de superfície encaixados na proteína spike.
Este encaixe permite também à célula B que exponha fragmentos do vírus em sua superfície.
Quando o linfócito T helper ativado encontra-se com a célula B, esta também torna-se ativada, resultando em proliferação dos linfócitos B e de anticorpos que possuem o mesmo encaixe para as proteínas de superfície do vírus.
Pronto, a resposta imune foi belamente orquestrada.
Após vacinação, a resposta à infecção
Uma vez que o indivíduo tenha sido vacinado com a vacina de Oxford, seu sistema imune estará apto a responder contra a invasão do SARS-CoV-2.
Isto porque os anticorpos produzidos pelos linfócitos B irão se ligar na proteína de superfície do coronavírus, não permitindo que este adentre as células do hospedeiro.
A resposta imune celular provocada pela vacina de Oxford
A vacina de Oxford também mostrou-se capaz de ativar a resposta imune mediada por células. Quando a célula apresentadora de antígenos apresenta em sua superfície fragmentos da proteína Spike, um outro tipo de célula, chamada Linfócito T citotóxico, pode ser ativado.
O linfócito T citotóxico é capaz de detectar e destruir qualquer célula infectada com o coronavírus, que exiba fragmentos da proteína spike em sua superfície.
E assim, finalizamos este post que explica, em detalhes, como funciona a vacina de Oxford.
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Referências
How the Oxford-AstraZeneca Vaccine Works – The New York Times