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Saiba mais sobre a tênia do peixe | Colunistas

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O meio ambiente é o habitat de diversas formas de vida, não só humana, desde seres microscópicos até grandes animais. Entre os seres microscópicos podemos encontrar várias espécies de bactérias, fungos e parasitas, alguns dos quais são inofensivos ao homem, enquanto outros são capazes de desenvolver doenças com quadro que vão de moderadas a graves. (ARRAIS)

A difilobotríase é uma doença parasitária zoonótica que sempre esteve presente no meio ambiente, existem registros de séculos atrás coletados de estudos paleontológicos da época medieval, romana e moderna. Esta patologia também é conhecida como doença da tênia do peixe e é causada pela ingestão de peixe cru ou levemente defumado, infectado com larvas do gênero Diphyllobothrium spp. (ARRAIS)

Esse agente possui ampla distribuição geográfica, concentrada principalmente na Ásia, Oriente Médio, Europa, América do Sul e América do Norte. Fica claro que a infecção ocorre por via oral, considerando a expansão das comidas tradicionais japonesas, que incluem pratos de peixe cru, como sashimi e sushi. (ARRAIS)

Na América do Sul, duas espécies se destacam por serem as mais encontradas em pacientes, D. latum (que infecta peixes de água doce e também pode ser encontrada em trutas e salmão) e D. pacificum (que infecta peixes de água salgada). (ARRAIS)

Agente etiológico

O agente etiológico em questão pertence ao filo Platyhelminthes, à classe dos cestodes, à ordem Pseudophyllidea, à família Diphyllobothridae e ao gênero Diphyllobothrium (ARRAIS). Uma das características que mais chama a atenção é o seu tamanho, sendo considerado um dos maiores parasitas intestinais existentes, podendo atingir de 7 a 10 metros de comprimento. Além disso, o verme adulto tem uma forma achatada, que lembra uma fita. O ciclo desse parasita é heteroxênico, pois possui dois hospedeiros intermediários e um hospedeiro definitivo. (MURRAY)

Morfologia e ciclo biológico

Este parasita apresentara várias morfologias durante o seu desenvolvimento, incluindo: ovos, coracídios, procercóides e plerocercóides e larva adulta. Os ovos são de forma ovóide ou elipsóide, de tamanho variável, de 45 a 90 micrômetros de comprimento, a estrutura que se destaca no ovo de Diphyllobothrium é a presença de um opérculo em uma das extremidades, que pode ser imperceptível ou proeminente. Os ovos são liberados através das fezes dos hospedeiros e estão na forma não embrionária. Eles aparecem nas fezes 5 a 6 semanas após a infecção. (EDURADO)

No ambiente externo os ovos não são embrionários e necessitam de 2 a 4 semanas para se desenvolverem em uma forma ciliada, denominada coracídio. Esta forma tem a capacidade de nadar livremente dependendo da localização. Quando a fase de desenvolvimento do coracídio termina, ele sai do ovo através do opérculo e é então ingerido por crustáceos. Dentro dos crustáceos o coracídio evolui para uma forma larval chamada procercóide.

O ciclo biológico continua, o crustáceo infectado é ingerido por seu segundo hospedeiro intermediário, um peixe geralmente pequeno, onde as larvas se instalam em tecidos mais profundos e reevoluem em plerocercoides também chamados de espargãos.

Geralmente, os peixes que representam hospedeiros intermediários são atacados por outros, que atuarão apenas como hospedeiros paratênicos. Esses peixes são a maior fonte de infecção para os humanos, pois são os utilizados na maioria dos alimentos. (EDURADO)

Os seres humanos ingerem peixes infectados e formam o hospedeiro definitivo onde os plerocercoides se transformam em vermes adultos e se fixam no intestino delgado, nesta fase a vida útil desse parasita pode chegar a 25 anos. A fixação ocorre através de dois sulcos bilaterais, presentes no escólex. Nesse ambiente, o parasita se reproduz e recomeça o ciclo. (ARRAIS)

Manifestações clínicas

Do ponto de vista clínico, as manifestações são em sua maioria assintomáticas. Quando ocorrem são: dor epigástrica, cólicas abdominais, náuseas, vômitos e perda de peso. Com a parasitose crônica, há alteração da absorção da vitamina B12, de modo que uma pequena porcentagem de pessoas infectadas pode apresentar sintomas mais graves, como anemia megaloblástica e manifestações neurológicas. (MURRAY)

Diagnóstico e laboratório

O principal diagnóstico da difilobotríase é a visualização de ovos nas fezes, que apresentarão como característica específica a presença de opérculos e coloração natural da bile. Outro aspecto que podemos considerar é a presença de um botão, na extremidade traseira do opérculo. A visualização das proglótides revela uma estrutura de roseta uterina, o que também confirma o resultado. Não é necessário utilizar técnicas de concentração, tendo em vista que o número de ovos gerados pela fêmea é alto. (MURRAY)

Tratamento

A principal droga utilizada no tratamento é a niclosamida, o praziquantel e o antibiótico paramomicina também pode ser utilizado. Em pessoas com deficiência de vitamina b12, a suplementação adequada deve ser realizada. (MURRAY)

Prevenção

As medidas de prevenção incluem evitar o consumo de peixe cru ou mal cozido, implementar medidas de saneamento ambiental, focar no tratamento de águas residuais antes que retornem aos rios e lagos e tratar os pacientes precocemente para evitar a propagação de ovos. (MURRAY)

De acordo com um estudo da OMS de 2012, um investimento de US$ 1,00 em saneamento gera um retorno de US$ 5,00 em custos associados a menos tratamento, entre vários outros benefícios que o saneamento traz.

Referencias

Arrais, BR.; Cruz, CA.; Bartoli, RBM. Difilobotriasis: Revisão de literatura. Nucleus Animalium, v.9, n.1.2017. Disponível em: https://www.nucleus.feituverava.com.br/index.php/animalium/article/view/1797

Murray, PR.; Rosenthal, KS; Pfaller, MA. Microbiologia médica. 7. ed. ‑ Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

Edurado, MBP et al. Diphyllobothrium spp: um parasita emergente em São Paulo, associado ao consumo de peixe cru – sushis e sashimis. São Paulo, março de 2005. Boletim Epidemiológico Paulista, São Paulo, v. 2, n. 15, p. 1-5, mar. 2005. Disponível: https://www.nucleus.feituverava.com.br/index.php/animalium/article/view/1797

Worth Health Organization. Saneamento. Jun, 2019. Disponible en: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/sanitation 

Autora: Danieli Souza Coelho

Instagram: @danielicoelho2000


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.