Ciclo Clínico

Sarampo: uma importante doença exantemática

Sarampo: uma importante doença exantemática

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Entenda o que é o sarampo, como essa doença se manifesta, sua relevância clínica e a melhor abordagem ao paciente na atualidade. Bons estudos!

O sarampo é uma doença altamente contagiosa e de relevância para a saúde pública brasileira. Por isso, saber identificá-la e conduzir o manejo é fundamental para qualquer médico generalista.

Sarampo no Brasil: desafios atuais

O sarampo passou a ser uma doença de notificação compulsória no Brasil a partir de 1968, tendo sido sua vacina introduzida no país em 1960.

Infelizmente, ainda nos dias atuais, ainda existem desafios muito básicos a serem enfrentados. A baixa cobertura vacinal impacta diretamente na contaminação da doença, dando ao vírus a oportunidade de se espalhar rapidamente entre pessoas não vacinadas. Vale ressaltar que o sarampo é evitável por vacinação.

Ainda, a migração de pessoas de áreas com surtos para outras regiões contribuiu para a extensão de contaminação. As aglomerações são comuns em escolas, creches e centros de saúde, além de comunidades. Essas ações estão diretamente relacionadas à piora da condição relativa à doença no território brasileiro.

O que é o sarampo?

O sarampo é uma doença infecciosa e altamente contagiosa.

Tem como etiologia o vírus do sarampo, chamado Morbillivirus, da família dos Paramyxoviridae. É uma das doenças mais contagiosas que afetam os seres humanos e pode ser grave, especialmente em crianças pequenas, adultos mais velhos e pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos.

É reconhecida como doença exantemática associadas à maior morbimortalidade. Ou seja, tem como principal sintoma a formação de exantema – erupção cutânea generalizada em grande extensão da pele.

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Criança com sarampo. Fonte: Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Devido a sua gravidade, é considerada uma doença de notificação compulsória. Essa medida é adotada por diversos países como parte de uma estratégia de vigilância epidemiológica e controle de doenças transmissíveis.

Epidemiologia do sarampo: prevalência global e tendências recentes

Transmissão: como ocorre a contaminação pelo sarampo?

O sarampo é transmitido por gotículas respiratórias expelidas pelo doente à tosse, espirro ou mesmo fala.

O vírus do sarampo pode permanecer no ar e em superfícies por algumas horas, o que torna a transmissão bastante fácil em ambientes onde há aglomeração de pessoas.

Após a exposição ao vírus, o período de incubação do sarampo é de cerca de 10 a 14 dias, durante o qual a pessoa infectada não apresenta sintomas, mas já pode estar transmitindo o vírus para outras pessoas.

EPI’s hospitalares contra o sarampo

O uso dos protetores individuais são fundamentais no contato com pacientes com sarampo. Por isso, para os profissionais de saúde, os equipamentos necessários para proteção contra gotículas respiratórias são:

  • Máscaras N95 ou PFF2;
  • Luvas;
  • Aventais;
  • Óculos de proteção facial;
  • Higiene das mãos.

Ainda, os pacientes com sarampo devem ser mantidos em isolamento, em quartos individuais ou em áreas específicas para evitar a disseminação do vírus para outros pacientes e profissionais de saúde.

Fatores de risco e grupos mais vulneráveis para o sarampo

Manifestações clínicas típicas do sarampo

A infecção pelo vírus é subdivida de acordo com os estágios clínica sendo elas a incubação, pródromo, exantema e recuperação.

Incubação do sarampo

Esse período dura de 6 a 21 dias. É o período de contato com o vírus pela mucosa respiratória e conjuntiva.

Os indivíduos infectados são caracteristicamente assintomáticos durante o período de incubação, embora alguns tenham relatado sintomas respiratórios transitórios, febre ou erupção cutânea

Com a replicação e disseminação viral, a variedade de manifestações clínicas é explicada pela reação imunológica por monócitos e macrófagos.

Pródromo

Essa é a fase de aparecimento do exantema. Aproximadamente 2 dias antes do aparecimento desses achados, o paciente pode desenvolver um enantema caracterizado por manchas de Koplik.

Eles foram descritos como “grãos de sal sobre um fundo vermelho”, podem coalescer e geralmente duram de 12 a 72 horas. Ao aparecimento exantemático, começam a descamar. A pesquisa das manchas de Kolplik deve ser feita, uma vez que melhora a acurácia diagnóstica, consideradas um achado patognomônico do sarampo.

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Manchas de Kolpik aparecendo como minúsculas pápulas brancas na mucosa bucal.

Exantema

O exantema consiste em erupções cutâneas eritematosas, macopapulares e esbranquiçadas inicialmente, tomando aspecto eritematoso posteriormente.

De maneira geral, iniciam-se na face, se espalhando em sentido céfalo-caudal. Ainda, a extensão do exantema se correlaciona com a gravidade da doença. A gravidade costuma ser acompanhada de petéquias hemorrágicas.

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Exantema do sarampo. Fonte: Dr. Michael Bennish.

Recuperação

A tosse é um sintoma comum do sarampo e pode persistir por uma a duas semanas após a infecção. A ocorrência de febre após o terceiro ou quarto dia de aparecimento da erupção cutânea (exantema) pode sugerir uma complicação associada à infecção pelo vírus do sarampo.

A imunidade humoral e celular específica contra o sarampo são importantes para a eliminação viral e imunidade protetora duradoura. Sendo assim, acredita-se que a  imunidade após a infecção pelo vírus do sarampo seja vitalícia.

Diagnóstico: critérios diagnósticos para o sarampo

É importante ter em mente que, em caso de suspeita da doença, o paciente deve ser isolado. Por isso, embora os testes laboratoriais sejam importantes, como discutiremos, a clínica tem papel fundamental no diagnóstico.

Por isso, a suspeita da doença deve ocorrer em pacientes com:

  • Doença exantemática generalizada;
  • Febre;
  • Tosse, coriza e conjuntivite (compatíveis com o quadro);
  • Exposição recente ao vírus/contato com alguém sabidamente contaminado.

Diagnósticos diferenciais

Distinguir o sarampo de outras doenças dependerá do estágio clínico.

No período de aparecimento do exantema, a dengue costuma ser uma suspeita forte. Por isso, testes sorológicos que afastem essa doença devem ser feitos, e ainda deve ser investigado o cenário de exposição epidemiológica relevante.

Considerando as manifestações clínicas semelhantes à vírus respiratórios como citados acima, o rinovírus, parainfluenza, influenza e adenovírus devem ser descartados. Para isso, saiba que a febre devido à infecção por sarampo é tipicamente mais pronunciada do que a febre causada por outros vírus respiratórios

Exames laboratoriais e testes para confirmar a infecção

O método laboratorial mais comum utilizado é a sorologia anti-sarampo IgM. Ele é geralmente detectável três dias após o aparecimento do exantema.

Complementando o diagnóstico clínico, a cultura de vírus de células mononucleares do sangue periférico, secreções respiratórias, esfregaços conjuntivais ou urina também pode ser realizada para estabelecer o diagnóstico de sarampo.

A cultura viral a partir de diferentes amostras permite a detecção e isolamento do vírus do sarampo em laboratório, o que ajuda a confirmar o diagnóstico e a monitorar a disseminação da doença.

No entanto, vale ressaltar que esses testes laboratoriais são geralmente realizados em centros especializados e nem sempre são necessários para a tomada de decisão clínica, especialmente em regiões onde a doença é endêmico ou em meio a surtos já confirmados.

Independentemente dos exames laboratoriais, a avaliação clínica cuidadosa e o histórico de exposição ao vírus são cruciais para o diagnóstico e a abordagem adequada da doença.

Abordagem terapêutica para casos suspeitos e confirmados de sarampo

O tratamento do sarampo é de suporte. Isso porque não existe atualmente nenhuma terapia antiviral que seja específica e aprovada para o tratamento da doença.

A terapia de suporte, portanto, inclui:

  • Antipiréticos;
  • Fluidos e tratamentos de superinfecções bacterianas (devido à exposição de feridas);
  • Caso necessário, tratamento para convulsões e insuficiência respiratória.

A deficiência de vitamina A é um fator que prolonga o tempo de infecção, contribuindo também para as complicações associadas à doença. Somado à isso, os níveis de vitamina A costumam cair durante a infecção.

Dados de pesquisas sugerem que a administração de vitamina A a crianças com idade inferior a 2 anos, que contraíram o sarampo, pode estar associada a benefícios significativos, incluindo a redução da mortalidade. A sua administração consiste em via oral 1x ao dia durante dois dias, conforme o seguinte:

  • Lactentes <6 meses de idade − 50.000 unidades internacionais;
  • Bebês de 6 a 11 meses de idade − 100.000 unidades internacionais;
  • Crianças ≥12 meses − 200.000 unidades internacionais.

Vacina contra a doença: composição, tipos e eficácia

A prevenção da doença é essencial, e a vacinação é a maneira mais eficaz de evitar a doença.

A vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, é recomendada para todas as crianças e adultos que não tiveram a doença ou não foram adequadamente imunizados.

Ela é composta pelo vírus do sarampo enfraquecido, inativado ou ainda componentes do vírus que estimulam a resposta imunológica do corpo sem causar a doença.

A vacina é altamente eficaz, superior à 95% após a administração das duas doses recomendadas, na infância. A primeira dose deve ser administrada aos 12 meses enquanto que a segunda, aos 4-6 anos de idade.

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Perguntas frequentes

  1. O sarampo é uma doença viral?
    Sim, o sarampo é uma doença causada pelo vírus do sarampo.
  2. Como é transmitido?
    O sarampo é transmitido principalmente por gotículas respiratórias de uma pessoa infectada ao tossir, espirrar ou falar.
  3. Existe vacina para prevenir a doença?
    Sim, a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) é altamente eficaz na prevenção do sarampo e é recomendada para todas as crianças e adultos não imunizados.

Referências

  1. A evolução do sarampo no Brasil e a situação atual. Carla Magda Allan S. Domingues. Scielo
  2. Measles: Clinical manifestations, diagnosis, treatment, and prevention. Hayley Gans, MD. UpToDate