Alergologia e imunologia

Se a vacina é eficaz, por que peguei covid-19? | Colunistas

Se a vacina é eficaz, por que peguei covid-19? | Colunistas

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Imagem de perfil de Natália Paniágua Andrade

De fato, isso acontece porque nenhuma vacina disponível no mundo atualmente tem eficácia de 100% contra o vírus Sars-CoV-2, ou seja, não impede que o indivíduo seja infectado e passe a doença para outras pessoas. Mas elas são eficazes de evitar os casos graves da doença, que levam à intubação e à morte.

Brasil: eficácia das vacinas e dose de reforço

  • Coronavac: tem uma eficácia global de 50,7%, o que lhe confere esse percentual de chance de imunização. Isso pode não parecer tão alto, mas sua eficácia para casos graves e mortes chegou a 100% nas pessoas que tomaram as duas doses (com intervalo de 14 a 28 dias entre elas). Ou seja, pode haver chance de contrair, mas a de evoluir mal ou morrer é praticamente inexistente em quem toma as duas doses da vacina.
  • Oxford/AstraZeneca: conferiu eficácia de mais de 70% na primeira dose. Após a segunda dose, a eficácia chega a quase 100% para casos graves e mortes, desde que se tome as duas no período recomendado – 12 semanas. 
  • Pfizer: tem eficácia de 91,3% após as duas doses. O esquema para a imunização completa considera a aplicação de duas doses, com um intervalo de 21 dias, segundo a bula. No Brasil, no entanto, o Ministério da Saúde estabeleceu um prazo de até três meses entre as doses.
  • Janssen: o imunizante é aplicado em dose única e demonstrou, nos testes apresentados, 66,9% de eficácia para casos leves e moderados e 76,7% de eficácia para casos graves, após 14 dias da aplicação.

Com as novas variantes chegando, a dose de reforço já é uma realidade. A terceira dose poderá ser aplicada em qualquer pessoa maior de 18 anos que tenha recebido as duas doses de vacina, respeitando o prazo mínimo dos quatro meses após a segunda aplicação.

Sistema imunológico

Há dois tipos de imunidade: natural e adquirida. A seguir, um quadro didático de suas propriedades. 

Figura 1: Principais Propriedades dos Sistemas Imunológicos Natural e Adaptativo
Fonte: Imunologia. 6ª edição. COICO (2010).

As principais características da resposta imune adaptativa (vacinas) são:

  • Especificidade: capacidade de discriminar entre diferentes moléculas e responder apenas àquelas necessárias, em vez de formular, ao acaso, uma resposta indiferenciada.
  • Capacidade de Adaptação: capacidade de responder a moléculas previamente desconhecidas que podem, de fato, nunca ter existido naturalmente na terra.
  • Discriminação entre o próprio e o não próprio: é uma característica típica da especificidade da resposta imunológica; é a capacidade de reconhecer e responder a moléculas que são estranhas (não próprias) e evitar desenvolver esta resposta às moléculas que são próprias. Esta distinção, e o reconhecimento do antígeno, é realizada por células especializadas (linfócitos) que apresentam, em sua superfície, receptores antígeno específicos.
  • Memória: uma propriedade compartilhada com o sistema nervoso; é a capacidade de lembrar de contatos prévios com uma molécula estranha e responder a ela de uma maneira já conhecida – isto é, com uma resposta mais rápida e mais ampla.

Ação das vacinas no organismo

As vacinas são o meio mais seguro e eficaz de nos protegermos contra certas doenças infecciosas, e são obtidas a partir de partículas do próprio agente agressor, sempre na forma atenuada (enfraquecida) ou inativada (morta).

Quando nosso organismo é atacado por um vírus ou bactéria, nosso sistema imunológico — de defesa — dispara uma reação em cadeia com o objetivo de frear a ação desses agentes estranhos. Infelizmente, nem sempre essa ‘operação’ é bem-sucedida e, quando isso ocorre, ficamos doentes.

O que as vacinas fazem é se passarem por agentes infecciosos de forma a estimular a produção de nossas defesas, por meio de anticorpos específicos contra o “inimigo”. Assim, elas ensinam o nosso organismo a se defender de forma eficaz. Aí, quando o ataque de verdade acontece, a defesa é reativada por meio da memória do sistema imunológico. É isso que vai fazer com que a ação inimiga seja muito limitada ou, como acontece na maioria das vezes, totalmente eliminada, antes que a doença se instale.

O sistema imune também tem a capacidade de se lembrar das ameaças já combatidas, por isso, sempre que os mesmos agentes infecciosos entram em contato com nosso organismo, o complexo processo de proteção é reativado. Em alguns casos, a memória imunológica é tão eficiente que não deixa uma doença ocorrer mais de uma vez na mesma pessoa.

Figura 2: Ação das vacinas no organismo
Fonte: https://familia.sbim.org.br/vacinas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que de 2 a 3 milhões de mortes a cada ano sejam evitadas pela vacinação e garante ser a imunização um dos investimentos em saúde que oferecem o melhor custo-efetividade para as nações. Isso significa que as vacinas possibilitam excelente resultado de prevenção a baixo custo, quando comparadas com outras medidas, o que é muito importante, principalmente nos países sem condições adequadas para realizar diagnóstico e tratamento de doenças.

Conclusão

Conclui-se, portanto, que, mesmo com as vacinas em dia, ainda é possível a contaminação pelo coronavírus. Dessa forma, a fala da Dra. Leane Wen, analista médica da CNN, explicita o que vimos no decorrer do texto: “o principal benefício da vacinação é que ela reduz a probabilidade de doenças graves. Os vacinados que ainda contraem o coronavírus têm probabilidade muito maior de apresentar sintomas leves do que se não tivessem sido vacinados. Um indivíduo que, antes (sem vacina), podia ter ficado muito doente, com febre alta, tosse forte e tanta dificuldade para respirar que precisaria de oxigênio ou de um respirador, agora pode ter só dores no corpo, fadiga e uma tipo de resfriado. Esse é o poder da vacinação: reduzir a gravidade da doença.” 

Logo, quanto mais pessoas são vacinadas, menor é a circulação de vírus e bactérias entre a população, assim, menos pessoas adoecem.

Autora: Natália Paniágua de Andrade

Instagram: @natipaniagua_

Referências

O que fazer se você pegar Covid-19 mesmo vacinado? Especialista explica. https://www.cnnbrasil.com.br/saude/o-que-fazer-se-voce-pegar-covid-19-mesmo-vacinado-especialista-explica/

Vacina não impede de contrair Covid-19, mas evita gravidade e morte; entenda. https://www.cnnbrasil.com.br/saude/vacina-nao-impede-de-contrair-covid-19-mas-evita-gravidade-e-morte-entenda/

Ministério da Saúde antecipa de cinco para quatro meses a aplicação da dose de reforço. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021-1/dezembro/ministerio-da-saude-antecipa-de-cinco-para-quatro-meses-a-aplicacao-da-dose-de-reforco

Anvisa aprova uso emergencial da vacina da Janssen. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-aprova-uso-emergencial-da-vacina-da-janssen

O que são vacinas e como agem no organismo? https://familia.sbim.org.br/vacinas/perguntas-e-respostas/o-que-sao-vacinas-e-como-agem-no-organismo

Imunologia. 6ª edição. COICO (2010). 

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

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