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Serotonina: para que serve e como identificar a sua baixa

Serotonina: para que serve e como identificar a sua baixa

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Entenda o que é a serotonina, qual sua importância e as consequências da baixa desse hormônio, e o que fazer diante desse quadro. Bons estudos!

A serotonina é um neurotransmissor atuante no cérebro. Conhecido como “hormônio da felicidade”, é muito importante para a regulação diária do bom humor e do sono. Por isso, o médico deve estar familiarizado com os sinais de baixa desse hormônio, a fim de saber abordar o bem do paciente.

O que é serotonina?

A serotonina, também conhecida como 5-hidroxitriptina ou 5-HT é uma monoamina neurotransmissora sintetizada nos neurônios serotoninérgicos do SNC.

Elas fazem patê das aminas biogênicas, assim como a dopamina, norepinefrina, epinefrina e histamina. Esses neurotransmissores são conhecidos por desempenharem outras funções fora do sistema nervoso, frequentemente como hormônios.

Serotonina vs Dopamina: entenda a diferença entre ela e outros hormônios

A principal diferença entre a serotonina e a dopamina é que a serotonina não é um hormônio. Por outro lado, a dopamina é conhecido como “hormônio do prazer”.

A serotonina é um neurotransmissor liberado após atividades geradoreas do prazer, como a relação sexual. Quanto à dopamina, é liberada quando uma meta é alcançada. Assim, exercícios físicos, leitura e atividades prazerosas para o indivíduo são capazes de liverar a dopamina.

Pensando em outros hormônios, como a ocitocina, é considerado o “do amor”. Em situações de alegria e amor, além de afetividade são as que estimulam a liberação da ocitocina. Além disso, ajuda a reduzir a pressão arterial e os níveis de cortisol.

Como a serotonina foi descoberta?

Em 1935 Vittorino Erspamer demonstrou uma substancia produzida pelas células enterocromafins do intestino que era responsável por estimular a contração intestinal. A esta substancia ele deu o nome de Enteramina.

Em 1948, um conjunto de pesquisadores de Cleveland conseguiram então isolar e designar pela primeira vez a serotonina, que recebeu este nome porque foi inicialmente identificada como uma substância vasoconstritora no plasma sanguíneo.

Este agente foi posteriormente identificado quimicamente como 5-hidroxitriptamina, e desde então foi associado a um grande número de propriedades fisiológicas.

Síntese da serotonina: como acontece?

A serotonina é sintetizada a partir do aminoácido triptofano, que sofre ação de duas enzimas a Triptofano hidroxilase (TPH) e a L-aminoácido aromático descarboxílase (DDC), em uma via metabólica curta.

Resumidamente, a 5-HT é uma indolamina resultante da hidroxilação e carboxilação do aminoácido L-triptofano.

serotonina
Figura 1: Síntese da serotonina.

O TPH foi visto em duas formas existentes na natureza: TPH1, encontrada em vários tecidos, e a TPH2, que é uma isoforma cerebral específica. Alguns polimorfimos genéticos nessa enzima estão associados a alterações da suscetibilidade para ansiedade e depressão.

A serotonina pode ser produzida no sistema nervoso central, mas também em outras áreas como nas células enterocromafins, plaquetas e mastócitos. Essas células captam o Triptofano, que provém principalmente da dieta proteica, e é transportado ativamente.

O L-triptofano passa por uma ação da enzima triptofano-hidroxilase, passando para a forma de L-5 hidroxitriptofano. Por conseguinte, ocorre a transformação dessa última forma em serotonina, pela ação da L-amina ácido descarboxilase.

Biotransformação da serotonina: como ela se torna ativa?

A biotransformação acontece no fígado em um processo que ocorre em duas etapas e envolve a enzima monoaminoxidase (MAO).

  1. Serotonina sofre desaminação oxidativa pela ação da MAO, resultando no 5-hidroxindol acetildeído;
  2. O 5-hidroxindol acetildeído é então oxidado pela enzima aldeído desidrogenase a acido 5-hidroxindol acético (5-HIAA), seu principal metabólito, ou sofre redução pela aldeído redutase a 5-hidroxitriptofol (5-HTOL).

Estes metabólitos podem sofrer alterações e serem eliminados junto com a urina.

Receptores da serotonina

Este neurotransmissor desempenha seu papel por meio da interação com diversos receptores 5-HT que se encontram subdivididos em sete classes diferentes (5-HT1 a 5-HT7), sendo identificados 14 subtipos.

Esses receptores estão presentes na membrana celular das células nervosas e com exceção do 5-HT3, todos estão associados a Proteína G. Eles ativam uma séria de mensageiros secundários intracelulares. Assim, os receptores de serotonina podem ser:

  • 5-HT1: O subtipo B e D modulam a liberação do neurotransmissor e de outros neurotransmissores como a acetilcolina;
  • 5-HT2: Está ligado ao córtex visual, modulação de comportamento alimentar e mediação da vasocontrição;
  • 5-HT3: É responsável pela modulação da liberação de 5-HT e aparentemente está relacionado com mecanismos de percepção da dor, liberação de acetilcolina e dopamina, assim como motilidade gástrica e secreção de fluídos entéricos;
  • 5-HT4: Também parece estar ligado a motilidade gastrointestinal;
  • 5-HT6: Parece regular a atividade gabaérgica, glutamatérgica e colinérgica. Está envolvido na cognição, peso corporal, alimentação, ansiedade, memória, convulsões e estado afetivo.

Funções da serotonina: porque tão importante?

A 5-HT influencia diversos processos fisiológicos fundamentais à boa qualidade de vida.

Algumas das repercussões de um bom nível desse neurotransmissor no organizo incluem a modulação do humor, no ciclo de sono-vigília, na termorregulação e na percepção da dor.

Ainda, atua como precursora da melatonina, além de estar envolvida em alterações como depressão, ansiedade, transtornos obsessivos compulsivos, cefaleia, esquizofrenia, autismo, abuso de fármacos.

Baixa de serotonina: quais são os sintomas?

Considerando as funções da serotonina, entendemos que, em baixos níveis, diversas são as repercussões orgânicas.

Em primeiro lugar, vimos a forte relação entre ela e bom humor e regulação do sono-vigília. Assim sendo, baixos níveis se associam fortemente à depressão. Essa doença costuma apresentar não apenas a sua baixa, mas por vezes também de seus receptores (5HT). No entanto, seria um erro aliar essa doença exclusivamente à baixa dessa substância.

Em vista disso, outras repercussões dessa baixa podem ser:

  • Aumento de sensações desagradáveis, como a tristeza;
  • Desejo de isolamento, evitação de situações sociais;
  • Perda de interesse pelas situações rotineiras da vida e pequenos prazeres;
  • Maior tendência à transtornos mentais emocionais, como a ansiedade.

O que pode reduzir a serotonina?

Como veremos adiante, a alimentação possui forte relação com a produção da serotonina.

Apesar disso, o fator genético parece também ter um impacto significativo com a baixa dosagem desse neurotransmissor. Nesse caso, a genética pode levar à diminuição da produção do neurotransmissor, mas também à diminuição de seus receptores.

A partir disso, é possível realizar a dosagem da serotonina sérica. Esse exame permite avaliar se a concentração do neurotransmissor é adequada. Não sendo esse o caso, são recomendadas uma dieta direcionada, além de medicações e suplementos que aumentem a dosagem.

Alimentação e serotonina

Como vimos, a serotonina é sintetizada a partir do aminoácido triptofano. Por se tratar de um aminoácido essencial, o organismo humano é incapaz de produzi-lo.

Por esse motivo, a alimentação se torna uma fonte importante dessa matéria prima, para que os níveis de serotonina estejam adequados. Alguns alimentos ricos em triptofano e, portanto, colaboradores da síntese da serotonina são:

  • Leite;
  • Cereais integrais;
  • Espinafres;
  • Ovo;
  • Banana;
  • Chocolate preto.

Ainda, alimentos ricos em ômega-3, como os frutos-do-mar, podem ser incluídos na dieta de pessoas com baixa serotonina. Apesar dessas informações, é importante que o paciente faça acompanhamento com nutricionista, a fim de equilibrar uma dieta direcionada.

Hábitos diários para aumentar a produção de serotonina

Além da alimentação, alguns hábitos diários podem ser desenvolvidos para aumentar a produção da serotonina.

De maneira geral, a prática de atividades físicas é o principal estímulo para otimizar a produção desse neurotransmissor. Estudos recentes mostram que a capacidade do exercício físico em melhorar sintomas de depressão chegam a ser 1,5x mais potentes do que fármacos.

Além disso, o contato com a luz solar, por cerca de 15 a 30 minutos diários, além do contato com a natureza, também favorecem uma melhora do quadro.

Considerando ainda a forte relação entre o sistema nervoso central e entérico, a saúde da microbiota intestinal também merece atenção. Assim, segundo recomendações profissionais, alimentos com probióticos podem favorecer.

Serotonina como fármaco: melhora da qualidade de vida

A serotonina ingerida por via oral não passa pelas vias serotoninérgicas do sistema nervoso central, porque esta não cruza a barreira hematoencefálica.

Porém, o triptofano e os seus metabolitos 5-Hidroxitriptofano (5-HTP), com os quais a serotonina é sintetizada, podem e cruzam a barreira hematoencefálica. Estes agentes estão disponíveis como suplementos dietéticos e podem ser agentes serotoninérgicos eficazes.

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Perguntas frequentes

  1. O que é a serotonina?
    Um neurotransmissor associado à funções orgânicas como regulação do humor e do sono, dentre outros.
  2. Qual a repercussão de baixos níveis de serotonina?
    Dentre muitos, se relaciona fortemente à sintomas depressivos, além de ansiedade.
  3. A relação entre a produção do neurotransmissor e o triptofano se dá de que forma?
    O triptofano é um aminoácido essencial, matéria prima para a produção do neurotransmissor em foco. Assim sendo, a partir dele ela é produzida, sendo reconhecida pelos receptores 5HT.

Referências

  1. RANG, H. P.; RITTER, J. M.; FLOWER, R. J.; HENDERSON, G. Farmacologia. 8 ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
  2. CHEMSYNTHESIS. 5-Hydroxytryptamine CAS 50-67-9. Disponível em: http://www.chemsynthesis.com/base/chemical-structure-1513.html.