Endocrinologia

Síndrome metabólica: simplificando seus conceitos

Síndrome metabólica: simplificando seus conceitos

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Entenda de maneira simplificada a síndrome metabólica, os parâmetros para o seu diagnóstico e a condução terapêutica do paciente! Bons estudos!

A síndrome metabólica é considerada uma das entidades clínicas mais frequentes em todo o mundo. Com isso, é importante que o médico esteja familiarizado com a questão, conduzindo da melhor maneira o controle de fatores.

O que é a síndrome metabólica?

A SM é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. 

Como comentamos acima, a síndrome metabólica tem se tornado uma preocupação de saúde pública. Isso se justifica pelos muitos fatores de risco para outras doenças, além do aumento do risco cardiovascular. Somado à isso, as estatísticas de obesidade no mundo tem ganhado cada vez mais relevância.

Epidemiologia da síndrome metabólica

Os dados acerca da síndrome metabólica mostram que a prevalência da doença aumenta com o avançar da idade, chegando até 40% em idosos.

Ainda, as crianças e adolescentes também tem apresentado cada vez mais a doença, especialmente devido a alimentação hipercalórica e hiper-açucarada.

No Brasil, estima-se que na Bahia e no Espírito Santo haja uma prevalência de 30% de adultos com síndrome metabólica. Outro dado interessante é de que os descendentes japoneses que residem no Brasil, em especial em Bauru, essa estimativa chegue a 57%.

Quais marcadores são considerados na avaliação da síndrome metabólica?

Para entender o diagnóstico da síndrome metabólica precisamos, antes, saber quais fatores devem ser considerados para constatá-la.

Com isso, os marcadores que são considerados para a síndrome metabólica são:

  • Distúrbios do metabolismo da glicose;
  • Obesidade central;
  • Baixo colesterol HDL;
  • Hipertrigliceridemia;
  • Hipertensão arterial;

Como síndrome, os valores de corte são essenciais para avaliar a condição de saúde e o risco cardiovascular do paciente. Esses parâmetros favorecem mais ainda o acúmulo de gordura visceral.

Porque a gordura visceral favorece a síndrome metabólica?

Como comentamos, a síndrome metabólica é uma doença multifatorial. Assim sendo, todos os parâmetros usados para diagnosticá-la, quando presentes, colaboram para o agravo da doença, em especial, a gordura visceral.

A gordura visceral repercute tão intensamente na síndrome metabólica por liberar muitas citocinas inflamatórias para a circulação. No sangue e atingindo todos os órgãos, o paciente encontra-se “inflamado” sistematicamente. Essa inflamação favorece os outros parâmetros da síndrome metabólica, como a resistência insulínica.

As citocinas são hormônios proteicos, com funcionalidade de mediação e regulação das respostas imunes e inflamatórias. Quando pensamos nas adipocinas relacionadas com os processos inflamatórios, os destaques são a IL-6, o TNF-alfa, , a leptina e a adiponectina. Essas últimas duas são, sem dúvidas, as mais secretadas pelo tecido adiposo.

Pensando nisso, uma maneira eficaz de investigar a gordura visceral é realizar a medição da circunferência abdominal do paciente.

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Medição da circunferência abdominal. Fonte: Andrey Popov.

Diagnóstico da síndrome metabólica

Por ser uma síndrome, o diagnóstico da SM é clínico, considerando parâmetros para concluir sua instalação.

Segundo NCEP-ATP III, a SM representa a combinação de pelo menos três componentes dos apresentados no Quadro 1.

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Quadro 1. Fonte: I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica.

Apesar de não fazerem parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, várias condições clínicas e fisiopatológicas estão frequentemente associadas, tais como: síndrome de ovários policísticos, acanthosis nigricans

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Acanthosis nigricans. Fonte: Organização Panamericana de Saúde

Investigação da síndrome metabólica

Identificar a SM envolve uma investigação dos parâmetros citados acima. Para isso, é necessário:

  • Boa anamnese, com coleta cuidadosa da história clínica do paciente;
  • Exame físico bem realizado, com todos os materiais necessários para tal;
  • Avaliações laboratoriais detalhadas.

Ter o máximo de informações possíveis é reforçado pelo risco de doença cardiovascular que o paciente com SM possui. Assim, é possível que dentre os resultados que diagnostiquem a doença, encontremos, ainda, outras comorbidades a tratar.

História clínica na síndrome metabólica

Uma anamnese de qualquer paciente merece ser muito bem colhida, independente da causa que o trouxe ao consultório.

Apesar disso, como a SM é retroalimentada pelo estilo de vida do paciente e seus hábitos. Por isso, explorar todas as perguntas envolvendo esses pontos são indispensáveis, não apenas para o diagnóstico, mas uma orientação adequada.

Alguns dados que não podem ser negligenciados em uma história completa são:

  • Hábitos alimentares detalhados;
  • Ingestão hídrica;
  • Prática de atividade física;
  • História de doenças crônicas;
  • Uso de medicações regulares, como hiperglicemiantes, por exemplo;
  • Abuso de álcool e outras drogas.

Considerando o perfil dos pacientes que avançam para uma SM, fazer perguntas claras e até repetitivas pode ser valioso. Isso porque, a exemplo, em muitos casos o paciente faz uso de uma medicação regular, como orientado pelo médico, mas não sabe dizer para qual finalidade.

Assim, além de apenas perguntar sobre histórico de uma doença hipertensiva, indague qual medicação exatamente o paciente faz uso. A partir disso, perguntar sobre a regularidade do uso da medicação e como ele se sente quanto ao tratamento.

No caso de mulheres, vale a pena ainda investigar informações acerca da menstruação e regularidade do ciclo. Somado a isso, indagar sobre sinais que podem sugerir a SOP, como hirsutismo e ganho de peso.

Exame físico na síndrome metabólica

Como comentamos, a síndrome metabólica pode dar sinais importantes. Muitas vezes, é através do exame físico que conseguiremos detectar alguns dos fatores que fazem parte do diagnóstico da doença.

  • Medida da circunferência abdominal;  
  • Níveis de pressão arterial;
  • IMC;
  • Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans; 
  • Investigação cardiovascular. 

Avaliação laboratorial a solicitar na síndrome metabólica

Considerando os parâmetros da doença, os testes laboratoriais fornecem as informações que complementam o raciocínio médico acerca da SM.

  • Glicemia de jejum;
  • Dosagem do HDL-colesterol;
  • Triglicerídeos.

Assim como a investigação de uma história completa, sendo possível e havendo sinais clínicos que justifiquem, recomenda-se solicitar um hemograma completo.

Síndrome dos Ovários Poliscísticos (SOP) e a síndrome metabólica

A relação entre a SOP e a síndrome metabólica tem sido cada vez mais estudada pela medicina nos últimos anos.

Por apresentar diversos fatores comuns à SM, a SOP é considerada uma encocrinopatia comum em mulheres na idade reprodutiva. Ela se associa a manifestações de resistência insulínica, além, levando a níveis elevados do hormônio.

Outros fatores que se manifestam são a dislipidemia aterogênica, o acúmulo de gordura abdominal, risco aumentado de hipertensão.

Ainda, cerca de 50% das mulheres com SOP possuem excesso de gordura corporal, em geral acumuladas no tronco.

Tratamento não medicamentoso da síndrome metabólica

Um adequação alimentar para a síndrome metabólica deve estar direcionada para a perda de peso e da gordura visceral. A dieta do tipo Mediterrâneo mostrou-se capaz de reduzir eventos cardiovasculares.

O médico atendente deve ser enfático quanto ao estimulo à prática de atividades físicas. A prática de exercícios moderados, 30 a 40 minutos por dia, está associada ao benefício cardiovascular. Atividades físicas mais intensas são em geral necessárias para induzir maior perda de peso.

O tratamento medicamentoso na síndrome metabólica estará sempre indicado na ausência de resultado com as medidas de MEV.

Hipertensão: tratamento medicamentoso da síndrome metabólica

Assim como comentamos, para o diagnóstico da síndrome metabólica são necessários, pelo menos, 3 parâmetros existentes. Por isso, nem sempre a hipertensão será um deles.

É possível que a hipertensão seja diagnosticada juntamente com a avaliação para outros parâmetros da SM. Sendo esse o caso, vale a pena a realização de um MAPA ou MRPA, para uma avaliação detalhada.

É necessário a redução da pressão arterial para valores inferiores a 130/85mmHg. Essa meta deve ser individualizada, considerando idade e perfil do paciente. Para isso, considerar as melhores escolhas medicamentosas para o controle pressórico deve ser feito também individualmente.

Diabetes: terapêutica na síndrome metabólico?

Grande parte dos pacientes com hiperglicemia não responde ou deixa de responder adequadamente ao tratamento não-medicamentoso. Assim, nesses casos, devem ser iniciados um ou mais agentes hipoglicemiantes.

Como toda terapia farmacológica, ela deve ser individualizado para cada paciente. Considerando a idade do paciente, pode ser necessário aliviar o trabalho pancreático, iniciando logo a insulina.

Dislipidemia, como e o que medicar?

Tratar a dislipidemia também é fundamental para conduzir a terapêutica da SM.

As estatinas são os medicamentos de escolha para reduzir o LDL-C em adultos. Além delas, os fibratos demonstraram benefício na redução de eventos cardiovasculares em indivíduos com HDL-C abaixo de 40mg/dL.

A terapêutica combinada de estatinas com fibratos e ácido nicotínico pode ser uma opção atrativa nos indivíduos com síndrome metabólica. Ela deve ser recomendada aos que apresentem elevação do LDL-colesterol e dos triglicerídeos e redução do HDL-colesterol. 

Obesidade e seu tratamento na síndrome metabólica

Caso as medidas não-medicamentosas recomendadas não consigam induzir à perda de pelo menos 1% do peso inicial por mês, após um a três meses, deve-se considerar a introdução de drogas adjuvantes da dieta.

Essa recomendação é dada aos indivíduos com IMC ≥30kg/m² ou ainda naqueles com IMC entre 25 kg/m²-30kg/m², desde que acompanhado de comorbidades. As drogas mais indicadas são a sibutramina e o orlistat.

Tratamento cirúrgico para a obesidade em pacientes com síndrome metabólica

A cirurgia bariátrica é o método mais eficaz e duradouro para a perda de peso. Com ela é possível uma melhora nítida dos componentes da síndrome metabólica. O sucesso e a efetividade da cirurgia bariátrica é definido por um IMC <35kg/m² ou por uma perda maior que 50% do excesso de peso pré-operatório. 

Existem três tipos básicos de cirurgias bariátricas: restritivas, mistas e disabsortivas. As cirurgias que apenas diminuem o tamanho do estômago são chamadas do tipo restritivo:

  • Banda Gástrica Ajustável;
  • Gastroplastia Vertical com Bandagem;
  • Cirurgia de Mason e a Gastroplastia Vertical em “Sleeve”.

Ainda, tem-se as cirurgias mistas, nas quais há a redução do tamanho do estômago e um desvio do trânsito intestinal. As cirurgias mistas podem ser predominantemente restritivas (derivação Gástrica com e sem anel) e predominantemente disabsortivas (derivações biliopancreáticas).

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Perguntas frequentes

  1. Qual é a relevância da síndrome metabólica na atualidade?
    Estudos epidemiológicos mostram que o avanço da síndrome metabólica tem avançado consideravelmente. Atualmente, estima-se que 40% da população idosa tem síndrome metabólica.
  2. Cite os parâmetros são considerados para a SM?
  • Medida da circunferência abdominal;  
  • Níveis de pressão arterial;
  • IMC;
  • Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans; 
  • Avaliação cardiovascular. 

3. A recomendação da meta pressórica para o paciente com SM é quanto?
Os valores inferiores a 130/85mmHg são recomendados.

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Referências

  1. 10 Coisas que Você Precisa Saber sobre Cirurgia Bariátrica. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Disponível <10 Coisas que Você Precisa Saber sobre Cirurgia Bariátrica (endocrino.org.br> Acesso  em: 03/05/2021
  2. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Arq. Bras. Cardiol.,  São Paulo ,  v. 84, supl. 1, p. 3-28,  Apr.  2005 .   Available from . access on  03  May  2021.  https://doi.org/10.1590/S0066-782X2005000700001.
  3. Obesity and Inflammatory Adipokines: Practical Implications for Exercise Prescription. Wagner Luiz do Prado.