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Sinal do Halo: o que devo saber? | Colunistas

Sinal do Halo: o que devo saber? | Colunistas

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O sinal do halo foi descrito pela primeira vez em 1985 por Kuhlman et al., que revisaram os exames de tomografia computadorizada (TC) do tórax disponíveis de nove pacientes com diagnóstico documentado de leucemia aguda e aspergilose pulmonar invasiva. Algumas imagens obtidas no início do curso da infecção demonstraram um sinal, que precedeu o desenvolvimento de cavitação ou formação de crescente aéreo em 2 a 3 semanas.

Anatomia patológica

O halo em vidro fosco formado ao redor da lesão pulmonar pode ser constituído por células tumorais, infiltrados inflamatórios e, mais comumente, hemorragia alveolar. Em pacientes com neutropenia grave, especialmente naqueles com leucemia aguda, o sinal do halo é altamente sugestivo de aspergilose pulmonar invasiva. A invasão vascular por esse fungo resulta em trombose de vasos de pequeno e médio calibre, o que causa necrose isquêmica, representada por nódulos com focos de infarto, e o halo de atenuação em vidro fosco é resultante da hemorragia alveolar (Figura 1).

Figura 1. Corte sagital macroscópico do pulmão mostrando uma lesão necrótica arredondada (asterisco) circundada por um halo hemorrágico (pontas de seta), correspondendo a aspergilose pulmonar invasiva.
Fonte: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18727892/.

Características radiológicas

Segundo os critérios definidos no Glossário de Termos da Sociedade Fleischner, o Sinal do Halo é caracterizado como a presença de um halo de opacidade em vidro fosco, região de menor atenuação, circundando uma área de maior atenuação, que, geralmente, é um nódulo ou, menos frequentemente, uma massa ou uma área de consolidação arredondada (Figura 2). Lembrando que opacidades em vidro fosco são áreas turvas dentro da qual as margens dos vasos pulmonares podem ser indistintas, já um nódulo é uma opacidade arredondada ou irregular, bem ou mal definida, com diâmetro ≤ 3 cm, e uma massa é uma opacidade  > 3 cm, enquanto uma  consolidação é uma opacificação homogênea do parênquima, onde não se visualiza vasos subjacentes. A literatura mostra que halos mais espessos estão relacionados com doenças infecciosas, já os halos mais finos estão associados com doenças neoplásicas.

Figura 2. Tomografia computadorizada de tórax evidenciando o Sinal no Halo em pulmão esquerdo. Nota-se um nódulo central circundado por um halo em vidro fosco.
Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4075861/,

Patologias relacionadas

O sinal do halo, isoladamente, é inespecífico e pode ser observado em uma variedade de doenças infecciosas (fúngicas, bacterianas, virais e parasitárias), inflamatórias e neoplásicas. Em pacientes imunocomprometidos, a Aspergilose Pulmonar Invasiva (API) é a infecção fúngica mais comum que apresenta o sinal do halo na TC de tórax. A frequência em pacientes com API é relativamente alta nos estágios iniciais da doença, mas se torna progressivamente menos frequente com o tempo. O achado do sinal do halo é considerado uma evidência precoce da doença, podendo ser encontrado mesmo antes da positivação dos testes sorológicos. O reconhecimento precoce desta complicação é fundamental, pois a API está associada a uma alta taxa de mortalidade.

Além da aspergilose [Pacheco1] o sinal também foi observado na mucormicose, candidíase, coccidioidomicose e criptococose. Já foi documentada a presença do sinal do halo em pacientes com infecções virais por citomegalovírus, vírus do herpes simplex e mixovírus, como também em pacientes com infecções bacterianas provocadas por micobactérias, estafilococos, pseudomonas, nocardia, Coxiella burnetii, Chlamydia psittaci e espécies de Actinomyces, porém a maioria desses estudos eram relatos de pacientes individuais ou envolviam um número limitado de pacientes.

Metástases [Pacheco2] pulmonares de tumores hipervasculares podem se manifestar com o sinal do halo, que provavelmente resulta de hemorragia perilesional secundária à fragilidade do tecido neovascular. Embora seja um sinal inespecífico, a associação com cenários clínicos específicos podem auxiliar no diagnóstico diferencial. Em um paciente imunocomprometido, pode sugerir infecção, sarcoma de Kaposi ou um distúrbio linfoproliferativo, se o paciente for neutropênico, isso sugere fortemente aspergilose angioinvasiva pulmonar. Já em pacientes imunocompetentes, o adenocarcinoma pulmonar primário é a causa mais frequente. Além disso, várias doenças sistêmicas, como granulomatose de Wegener, sarcoidose, amiloidose, podem causar nódulos pulmonares ocasionalmente circundados por um halo.

Recentemente[Pacheco3] , o sinal do halo foi descrito também em pacientes com COVID-19, como um padrão radiológico atípico que pode representar um dano trombótico da microcirculação pulmonar.

Pontos-chave

  • É um sinal radiológico caracterizado por um halo em vidro fosco circundando um nódulo, e em menor frequência uma massa ou consolidação.
  • A presença de halos mais espessos está mais relacionada com doenças infecciosas. Em contrapartida, os halos mais finos estão mais associados com doenças neoplásicas.
  • Achados anatomopatológicos de células tumorais, infiltrados inflamatórios e, mais comumente, hemorragia alveolar são os responsáveis pelas opacidades em vidro fosco ao redor de lesões pulmonares.
  • O sinal do halo pode ser visualizado em um amplo espectro de doenças pulmonares, porém, na presença de um ambiente clínico apropriado, pode ser a primeira evidência de infecção fúngica pulmonar.
  • Em pacientes com neutropenia grave, especialmente naqueles com leucemia aguda, o sinal do halo é altamente sugestivo de aspergilose pulmonar invasiva.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


Referências: