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A Síndrome de Burnout é um assunto de extrema importância na saúde pública. Na classe médica as repercussões são muito grandes no contexto pessoal e profissional, podendo interferir na qualidade de vida do médico e na qualidade do seu atendimento. Populações que convivem com estresse contínuo tendem a apresentar mais prevalência da condição, dessa forma, observou-se que as especialidades médicas com maiores taxas de SB foram Medicina Intensiva, Medicina de Família e Medicina de Emergência.
Definição e critérios
A Síndrome de Burnout (SB) foi descrita pela primeira vez no ano de 1974 pelo psicanalista Herbert Freudenberger, o qual passou a observar que o seu trabalho não lhe rendia mais a satisfação de outrora, além de que passou a apresentar falta de motivação e energia para as suas atividades profissionais. Com o passar dos anos e avanços nos estudos da área, em 1999, Christina Maslach e Michael Leiter cunharam a definição usada atualmente, na qual determina que a Síndrome de Burnout é composta pelo tripé: exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal.
Por exaustão emocional entende-se um que o paciente apresenta cansaço mental que pode, inclusive, se manifestar como um cansaço físico que compromete as atividades. A despersonalização define um quadro no qual observa-se um declínio na capacidade comunicativa e de sentir empatia pelos colegas de trabalho, podendo resultar em isolamento. Por último, a falta de realização pessoal está estritamente ligada à sensação de incapacidade produtiva.

Burnout na área médica
Tem-se que, profissões que submetem essa população a níveis de estresse muito altos e/ou constantes apresentam risco elevado de desenvolverem a Síndrome de Burnout. Sendo assim, profissionais da saúde continuamente são colocados sob ambientes de estresse. Estudos já demonstraram uma alta incidência da Síndrome em médicos. O Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2007 identificou que 23,1% dos médicos apresentavam alto grau de SB numa amostra de 7,7 mil profissionais.
Fatores desencadeantes da medicina
Diversos fatores têm sido observados e relacionados ao surgimento e/ou piora do quadro de Burnout nos médicos brasileiros.
Os crescentes números de processos judiciais contra os médicos devido à insatisfação no atendimento tem sido relatado como determinante na tensão dos médicos durante o exercício do trabalho.
Especialmente nos últimos meses, em decorrência da pandemia do COVID-19, acredita-se que a insegurança gerada pelo risco de infecção e morte tem impacto importante na saúde mental desses trabalhadores, sobretudo se tratando da carga excessiva de trabalho associada com esse risco de infectar-se pelo vírus.
O contato próximo dos médicos com pacientes graves ou terminais pode ser um fator estressante tendo em vista a dificuldade de comunicar-se adequadamente com o próprio enfermo e com seus familiares, trazendo ansiedade e angústia para o profissional. Vale ressaltar os casos em que essas doenças não têm tratamento específico ou apenas são paliativos.
A carga de trabalho associada a turnos exaustivos trazem risco aos profissionais médicos, sobretudo aqueles que trabalham por turnos mais longos ou que se dedicam aos plantões noturnos.
A cobrança por excelência também é presente no cotidiano desses profissionais, de modo que a pressão sobre eles é grande, onde a taxa de erro é praticamente inaceitável.
Especialidades médicas versus Síndrome de Burnout
Como já mencionado, a Síndrome de Burnout é desencadeada por eventos estressantes. Sendo assim, um estudo conduzido por Moreira, Souza e Yamaguchi (2018) buscou, através de uma revisão de literatura, elencar as especialidades médicas com as maiores prevalências de SB no Brasil e em outros países.O resultado encontrado foi de maior prevalência de SB na Medicina de UTI, chegando a 22%. Segundo os autores, dentre as justificativas, estão a falta de equipe fixa, a idade avançada, o tempo de atuação em UTIs, conflitos profissionais e assistência a pacientes graves.
Em segundo lugar ficou a Medicina de Família (17,1%), cujos fatores mais relevantes foram as altas cargas de trabalho, a escassez de recursos e infraestrutura adequada e a quebra de expectativa versus realidade vivenciada (despersonalização).
Em terceiro lugar ficou a Medicina de Emergência (17%), valendo ressaltar que nesse grupo merece destaque os profissionais que trabalham por 13 a 15 turnos/mês com maiores chances de desenvolver SB.
Outras especialidades que merecem destaque são: psiquiatria (7,5%), cirurgia (12%), clínica geral (12,4%) e infectologia (14,3%). Dentre as 22 especialidades pesquisadas, a oncologia apresentou a menor prevalência de SB, com apenas 3%.
Conclusão
A classe médica apresenta altas taxas de Síndrome de Burnout, sobretudo aquelas especialidades que convivem com situações estressantes constantemente (pacientes graves, falta de reconhecimento, falta de recursos e infraestrutura, entre outros fatores). Contra a SB,o melhor que se tem a fazer ainda é a prevenção, e, por isso, saber reconhecer eventos ou ambientes que apresentam maiores riscos para esses trabalhadores é essencial para servir de “ponto de partida” para desenvolvimento de leis, campanhas e estudos voltados ao assunto.
Autor: Víctor Miranda Lucas
Instagram: @victormirandalucas
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
Referências:
MOREIRA, H.A; SOUZA, K.N.; YAMAGUCHI, M.U. Síndrome de Burnout em médicos: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, V.43, N.3, P.1-11, 2018.
LUCAS, V.M. Agravantes da pandemia na saúde mental dos profissionais da saúde | Colunistas. Sanarmed, 2021. Disponível em: <https://www.sanarmed.com/agravantes-da-pandemia-na-saude-mental-dos-profissionais-da-saude-colunistas>. Acesso em 07/08/2021.