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A síndrome de Down (SD) é uma desordem genética devido a uma divisão celular anormal que produz uma cópia extra total ou parcial do cromossomo 21. Este cromossomo extra produz alterações de desenvolvimento e fenótipos característicos que definem a síndrome de Down.
Pessoas com síndrome de Down podem ter uma variedade de complicações, as quais se tornam mais evidentes com o passar dos anos. Igualmente, elas têm maiores tendências de desenvolver determinadas doenças.
Etiologia
Existem diferentes hipóteses para a síndrome de Down, todas associadas com a base genética. Podemos citar:
- Desequilíbrio na dosagem de genes
Há um aumento da dosagem ou do número de genes de Hsa21, que resulta numa maior expansão dos genes. Pode haver a associação de diferentes genes com diferentes fenótipos da síndrome de Down.
- Instabilidade de desenvolvimento amplificada
Segundo esta hipótese, há um desequilíbrio genético criado por um número de genes trisómicos que produz um maior impacto na expressão e regulação de muitos genes
- Região crítica
As Regiões Críticas da Síndrome de Down (DSCR) são algumas regiões cromossómicas que estão mais associadas à trissomia parcial de Has21. A DSCR em 21q21.22 é responsável por muitas características clínicas da síndrome de Down. Acredita-se que um único gene de região crítica não pode causar todas as características fenotípicas associadas à trissomia do cromossomo 21. É mais provável que várias regiões críticas atuam juntas neste evento.
Fisiopatologia
Quando o cromossomo 21 não consegue se separar durante a gametogênese, todas as células do organismo terão um cromossomo extra. E essa não disjunção que está associada à SD e suas complicações. Outra forma de acontecer isso é através da translocação robertsoniana e o isocromossomo ou cromossomo anular. Ambas também podem fazer aparecer a trissomia do 21.
Estima-se que em 2-4 % dos pacientes isso foi o que aconteceu. O isocromossomo ocorre quando 2 braços longos se separam juntos em vez do braço longo e curto durante o rearranjo cromossômico robertsoniano. O braço longo do cromossomo 21 está ligado a outro cromossomo, normalmente o cromossoma 14.
Complicações / Doenças associadas
Defeitos cardíacos congênitos
Estima-se que quase metade dos bebés com síndrome de Down têm doenças cardíacas congénitas (CHD). É de longe a causa mais comum associada à morbilidade e mortalidade de pessoas com síndrome de Down, especialmente nos primeiros 2 anos de vida.
Essas doenças cardíacas podem aumentar a tensão arterial nos pulmões e deixar o coração incapaz de bombear o sangue de forma eficaz. Devido a esta prevalência tão elevada de CHD em pessoas com síndrome de Down, foi recomendado que todos os doentes recebessem um ecocardiograma nas primeiras semanas de vida. Os testes após o nascimento são mais precisos, se bem que os defeitos cardíacos, muitas vezes, podem ser detectados antes do nascimento.
Anormalidades do trato gastrointestinal
Estas anormalidades podem variar desde defeitos estruturais até problemas de digestão. Às vezes se restringem a dificuldades de absorção de certos alimentos, como o glúten. Alguns defeitos estruturais requerem cirurgia. Algumas pessoas com síndrome de Down têm de fazer uma dieta especial durante toda a sua vida.
Dentre as doenças digestivas podemos citar a doença celíaca como uma das mais comuns nestes pacientes. Por isso se recomenda testar as crianças com 2 anos de idade, ou antes, se apresentarem sintomas relacionados.

Várias são as complicações visuais que podem estar presentes em pacientes com síndrome de Down. Podemos citar: blefarite (2-7%), catarata (25% a 85%), glaucoma (menos de 1%), nistagmo (5% a 30%), anomalias da retina (0% a 38%), estrabismo (23% a 44%), ceratocone (5-8%), ambliopia (10% a 26%), erros de refração (18% a 58%), anomalias da íris (38% a 90%).
Novamente, essa predisposição à doenças visuais leva à indicação de um exame oftalmológico para todos os pacientes com síndrome de Down nos primeiros 6 meses e, depois, anualmente.
Complicações com a audição
Até 70% das crianças com Síndrome de Down sofrem com algum déficit auditivo. Muitas vezes é por alguma alteração estrutural do ouvido. Muitos problemas auditivos herdados podem ser corrigidos. As crianças com síndrome de Down também tendem a ter muitas infecções auditivas. Por estas razões se recomenda um screening para problemas auditivos ainda no período neonatal.
Doenças hematológicas
No recém-nascido com SD é comum encontrar neutrofilia, trombocitopenia e policitemia. Normalmente é de resolução espontânea em poucas semanas. As crianças com síndrome de Down são muito mais suscetíveis do que outras crianças de desenvolver leucemia.
Hipotireoidismo
Pode ser congênito ou adquirido. O rastreio de rotina dos recém-nascidos pode detectar o hipotiroidismo no nascimento. Este rastreio deve buscar tanto os níveis de T4 sérico como os níveis de TSH, pois muitos pacientes apresentam níveis de T4 normal.
Epilepsia
O risco de epilepsia aumenta com a idade, mas as convulsões ocorrem geralmente durante os primeiros 2 anos de vida ou após a terceira década de vida. Quase metade das pessoas com síndrome de Down, com mais de 50 anos de idade, têm epilepsia. As convulsões podem normalmente ser tratadas e controladas bem com medicação. As crianças com síndrome de Down respondem melhor aos antiepilépticos em comparação com outras crianças e, portanto, a intervenção e o tratamento precoces melhoram o resultado do desenvolvimento
Hipotonia
Pessoas com síndrome de Down tem um maior risco de padecerem de hipotonia muscular e consequente frouxidão dos ligamentos. Isso pode levar a um atraso no aprendizado de habilidades motoras e até mesmo luxação articular. Como já mencionado, devido à doença celíaca, crianças com esta síndrome apresentam déficit na absorção e ativação de vitamina D. Isso também diminui a massa óssea e as predispõe a fraturas recorrentes.
Distúrbios do sono
Frequentemente as pessoas com síndrome de Down têm apneia obstrutiva do sono. Às vezes é necessário remover as amígdalas para criar um fluxo de ar contínuo durante o sono.
Infecções
Crianças com SD possuem essas anormalidades citadas como as alterações do fluxo de ar, apneias obstrutivas, refluxo gastroesofágico e defeitos anatômicos no aparelho auditivo. Tudo isso traz comorbidades que enfraquecem as barreiras mucosas predispondo a infecções.
Associado a isso sabe-se que há defeitos intrínsecos do sistema imune de tais pessoas. Estes incluem linfopenia de células T e B leve a moderada, com acentuada diminuição de linfócitos, proliferação celular T, redução das respostas de anticorpos específicos às imunizações e defeitos da quimiotaxia de neutrófilos. Mesmo infecções aparentemente menores devem ser tratadas rapidamente e monitoradas continuamente, com ênfase nas infecções do trato respiratório.
Prognóstico
São escassas as pesquisas sobre a qualidade de vida, doenças associadas e complicações dos indivíduos com síndrome de Down. Ainda há pouca interação da comunidade em geral com estas pessoas, seja por estigmas ou barreiras culturais. Indivíduos com síndrome de Down podem viver de maneira bastante independente. Apenas necessitam um bom e adequado apoio durante a infância e juventude. Investigações tem sido feitas com parentes e amigos de família para conhecer mais sobre as perspectivas e dificuldades desta doença. Já existem muitas redes de apoio que fornecem informações valiosas. Familiares e amigos de crianças com SD.
Embora a vida dos indivíduos com DS tenha sido muito melhorada pela evolução dos cuidados médicos e os benefícios das mudanças sociais, não há atualmente nenhum tratamento para a SD que se baseie na atual compreensão da fisiopatologia molecular da doença.
Qualidade de vida
Com diversas complicações no horizonte e doenças associadas à Síndrome de Down, faz-se necessário o diagnóstico precoce e tratamento oportuno dessas comorbidades, para que os indivíduos tenham maiores chances de se desenvolver de forma mais saudável.

A saúde física afeta a qualidade de vida. Programas de triagem e intervenção precoce podem reduzir o efeito negativo de hospitalizações prolongadas. Obesidade, problemas na coluna cervical e alterações musculares contribuem para a diminuição da atividade física dessas crianças.
Elas têm níveis de atividade física inferiores a outras da mesma idade. Porém, a maioria poderia participar de programas de exercícios se disponíveis, o que pode ter um efeito positivo sobre a saúde e o bem-estar. Reconhecer e corrigir os problemas auditivos e visuais podem melhorariam a comunicação e o desenvolvimento.
Um apoio proativo adequado, a reavaliação regular das necessidades e serviços criados podem antecipar as complicações e doenças associadas da SD, e é crucial para sua qualidade de vida.
Autor: Jairo André
Instagram: @drjairoandre
Referências:
Down Syndrome – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK526016/
What conditions or disorders are commonly associated with Down syndrome? –https://www.nichd.nih.gov/health/topics/down/conditioninfo/associated Infections and immunodeficiency in Down syndrome, Clinical and Experimental Immunology – https://doi.org/10.1111/j.1365-2249.2011.04335.x
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.