Índice
- 1 Introdução
- 2 Corrente da sobrevivência
- 3 Como identificar uma PCR
- 4 Quando não fazer ou continuar uma RCP
- 5 Atendimento do adulto em PCR
- 6 Técnica para a reanimação efetiva
- 7 Ressuscitação cardiorrespiratória no público pediátrico
- 8 Quando suspeitar do retorno da circulação espontânea?
- 9 Quando interromper a RCP?
- 10 Referências:
Introdução
O Suporte Básico de Vida (SBV) é um protocolo que visa o atendimento rápido e de qualidade para uma pessoa que apresenta agudamente um problema cardiovascular ou respiratório. Assim, com esse protocolo, o socorrista aprende a avaliar a condição da vítima e como reconhecer uma possível parada cardiorrespiratória (PCR) e uma parada respiratória (PR), além de qual conduta adotar a partir disso.
Mas o que é a Parada Cardiorrespiratória? É a parada da função bomba do coração, de forma a interromper a circulação sistêmica de sangue, causando falência no organismo.
Já a RCP, Ressuscitação Cardiopulmonar, será a técnica utilizada pelos socorristas para manter (artificialmente) a função bomba do coração, de forma a garantir uma circulação basal para o corpo.
Corrente da sobrevivência
A Corrente da Sobrevivência é basicamente um passo-a-passo do que o socorrista deve fazer para otimizar o tempo e, dessa forma, ofertar a melhor ajuda possível para a vítima. Essa corrente é composta pelos 6 passos a seguir:
- Reconhecimento precoce do problema do paciente e acionar imediatamente o serviço de emergência do local em que a cena está acontecendo (SAMU 192 ou SALVAR 193).
- OBS: É de suma importância, nessa ligação, que o socorrista se identifique, explique com detalhes o quadro clínico do paciente, o contexto da cena, bem como indicar o local em que está. Ademais, é essencial solicitar um DEA (Desfibrilador Externo Automático) imediatamente, uma vez que ele poderá reverter o ritmo cardíaco caótico que se instala, caso este seja chocável.
- RCP imediato de alta qualidade
- Desfibrilação (com o DEA)
- Chegada do serviço básico/avançado de emergência (equipe médica da ambulância)
- Suporte avançado de vida e cuidados pós-PCR
- OBS: Essa parte será realizada já no intra-hospitalar
- Recuperação humanizada com a equipe médica multiprofissional e atenção personalizada para o paciente

Fonte: encurtador.com.br/nSW58
Como identificar uma PCR
A PCR terá seu diagnóstico de maneira diferente para adultos e para crianças. Portanto, elucidaremos a seguir essas diferenças:
- Adultos: a PCR pode ser reconhecida através da ausência de respiração (ou respiração em gasping) e, principalmente, pela ausência de pulso carotídeo. Para indivíduos leigos, não é necessário identificar a ausência de pulso para iniciar a reanimação.
- Crianças: o diagnóstico é dado através da detecção de uma respiração atípica (em gasping) ou ausente, e de um pulso central ausente ou inferior a 60 bpm. Pode parecer pouco intuitivo, mas consideramos que uma criança está em PCR mesmo ainda com a presença de pulso. Isso se dá porque uma frequência cardíaca menor que 60 bpm é, nesses pacientes, incompatível com a vida.
Quando não fazer ou continuar uma RCP
O RCP terá algumas contraindicações para sua realização, tais como: a) perigo real ou em potencial para o socorrista e sua equipe; b) exaustão do socorrista que está realizando a reanimação; c) vítima que apresentou retorno à circulação espontânea (pulso e respiração presentes); d) vítimas em rigor mortis; e) vítimas decapitadas; f) vítimas carbonizadas
Atendimento do adulto em PCR
Primeiramente, os socorristas devem prontamente identificar se há ou não uma PCR e, uma vez que a identificar, deve iniciar a sequência da cadeia de sobrevivência. Nesse momento, existem três situações:
- Socorrista sozinho e com celular: deve-se ligar, colocar o celular no viva-voz e pedir ajuda, enquanto simultaneamente se iniciam as compressões.
- Socorrista sozinho e sem celular: deve-se sair para buscar ajuda o mais rápido possível e, assim que a conseguir, retornar e iniciar as compressões.
- Socorrista acompanhado: o socorrista mais experiente deve iniciar as compressões, enquanto o menos experiente deve buscar ajuda.
Uma vez iniciada a reanimação, os ciclos devem ser de 30 compressões para 2 insuflações. Não se deve interromper as compressões para checar o pulso e/ou respiração da vítima. Isso deve ser feito somente se a vítima se movimentar, tossir ou falar.
Caso haja a presença de um segundo socorrista, os ciclos devem também de 30 compressões para 2 insuflações. No entanto, a cada 2 ciclos os socorristas devem trocar de posição, de modo a evitar a exaustão.
Técnica para a reanimação efetiva
Inicialmente, o socorrista deve expor o tórax da vítima e posicioná-la sobre uma superfície rígida, se possível, e em decúbito dorsal. Quanto à posição do socorrista, ele deve ficar apoiado sobre os joelhos e com os joelhos afastados. Os braços devem estar completamente estendidos e perpendiculares ao tórax da vítima. Toda a força das compressões deve vir do tronco do socorrista, e não da flexão dos braços. Utilizar a região hipotênar das mãos (parte de baixo da palma da mão), com a mão de cima apoiada sobre a mão de baixo, para comprimir o tórax da vítima. Dessa forma, a mão de baixo deve estar com os dedos esticados e a mão de cima com os dedos entrelaçando os dedos da mão de baixo.
As compressões devem ser feitas sobre a metade inferior do esterno, na altura da linha mamilar, com profundidade de 5-6cm. A frequência delas deve ser de 100-120 compressões por minuto.
Quanto às insuflações, prioriza-se o uso de equipamentos profissionais de ventilação, como um dispositivo bolsa-válvula-máscara ou uma pocket-mask. Caso o socorrista se sinta confortável, na ausência de outros dispositivos, pode fazer respiração boca-a-boca.

Fonte: encurtador.com.br/hpLRY
Ressuscitação cardiorrespiratória no público pediátrico
Segundo a American Heart Association, estima-se que mais de 20.000 bebês e crianças têm uma parada cardiorrespiratória anualmente nos Estados Unidos da América (EUA) e, apesar do aumento da sobrevida nos casos de PCR intra-hospitalar (PCRIH), as taxas de sobrevivência para PCR extra-hospitalar (PCREH), foco do suporte básico de vida (SBV), ainda são deficientes, o que faz necessário a capacitação de profissionais de saúde e leigos para uma assistência rápida e de qualidade. Tendo isso em mente, na diretriz de 2020, a AHA propõe a seguinte cadeia de sobrevivência (figura 3) para o suporte do público pediátrico:

Disponível em: https://cpr.heart.org/-/media/CPR-Files/CPR-Guidelines-Files/Highlights/Hghlghts_2020ECCGuidelines_Portuguese.pdf
Observando a cadeia proposta, observamos que o primeiro elo é a prevenção e, nesse sentido, devemos entender que a principal causa de parada cardiorrespiratória em crianças difere das causas de PCR em adultos, sendo a hipóxia causada por obstrução das vias aéreas por corpo estranho a principal causa de PCR em crianças.
O elo seguinte é a identificação rápida da PCR e acionamento do serviço médico de emergência (SME). Como dito anteriormente, determinamos que uma criança está em parada cardiorrespiratória quando ela não apresenta pulso nem respiração ou quando apresenta pulso < 60 bpm, mas não respira ou apresenta respiração agônica (ex.: gasping). A checagem do pulso pode ser feita na artéria braquial em bebês (29 dias de vida a 1 ano) e neonatos (nascidos até 28 dias de vida), e, no caso de crianças de 1 ano em diante, podemos avaliar o pulso carotídeo. Essa etapa da checagem do pulso é recomendada para socorristas treinados e profissionais de saúde, pois, no caso de leigos, há uma grande chance de eles confundirem o próprio pulso com o da criança e deixar de prestar socorro ou identificar erroneamente uma PCR e iniciar medidas danosas. Assim, um socorrista inexperiente pode suspeitar de uma PCR quando a criança fica subitamente desacordada, apresenta a respiração agônica, quando já a encontra desacordada e não consegue uma resposta ao estímulo de pressão. PCR identificada, deve-se acionar o SME, que no Brasil é, principalmente, o SAMU 192 (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O terceiro elo é iniciar a ressuscitação cardiorrespiratória de qualidade.
RCP em crianças com 1 a 12 anos de vida:
- PCR presenciada:
- Quando se tem apenas 1 socorrista, ele deve fazer ciclos de 30 compressões torácicas e 2 ventilações (30X2). O local das compressões é no meio tórax, na linha imaginária que traçamos entre os dois mamilos. As compressões devem atingir uma profundidade de pelo menos 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, ou seja, algo entre 4 e 5 cm de profundidade. É de extrema importância, como dito anteriormente, permitir o retorno completo do tórax entre uma compressão e outra, pois isso simula a diástole cardíaca. Ademais, assim que o desfibrilador externo automático estiver disponível, o socorrista deve usá-lo.
- Quando se tem 2 socorristas ou mais, os ciclos que serão realizados são de 15 compressões e 2 ventilações (15X2), podendo haver a troca de compressor a cada 2 minutos ou quando houver cansaço de quem estiver nessa função, segundo as novas recomendações da AHA. Isso ocorre porque queremos priorizar a qualidade das compressões e fornecer uma boa ventilação. Os cuidados na hora de realizar as compressões são os mesmos que devemos ter com apenas um socorrista e, como dito anteriormente, o DEA deve ser usado o mais precoce possível.
- PCR não presenciada:
- Havendo um único socorrista, ele deve realizar 5 ciclos de compressão com ventilação, o que equivale a 2 minutos de reanimação, antes de acionar o serviço de emergência ou ir buscar ajuda.
- Havendo 2 socorristas, um irá iniciar a RCP enquanto o outro aciona o serviço de emergência.
RCP em bebês
Segue os mesmos princípios da RCP feita em crianças maiores, mudando-se apenas a técnica para realização das compressões torácicas, sendo recomendado o uso do 2° e 3° quirodáctilo (dedos) para realização das compressões quando se tem apenas um socorrista – técnica dos dois dedos (figura 4). Quando se tem 2 socorristas, o responsável pelas compressões irá envolver o tórax do bebê com as duas mãos de forma a usar os polegares para comprimir (figura 4).

Independentemente do número de socorristas ou do contexto, devemos lembrar que as compressões devem ser realizadas em uma velocidade que alcance de 100 a 120 compressões por minuto. Ademais, em bebês e crianças com idade inferior a 8 anos, deve-se usar o DEA com pás pediátricas. Caso isso não seja possível, adotar a colocação anteroposterior (figura 5).

Observação!!
Dentre as atualizações feitas pela AHA, hoje é recomendado que em bebês e crianças com pulso, porém sem respirar ou com respiração inadequada, realize-se ventilações de resgate em uma taxa de 1 ventilação a cada 2 ou 3 segundos, ou seja, cerca de 20 a 30 ventilações por minuto. Essa mudança também se aplica para ressuscitação cardiopulmonar (RCP) em bebês e crianças com via área avançada.
Quando suspeitar do retorno da circulação espontânea?
Pode-se suspeitar de que o paciente retornou à circulação espontânea caso tussa, retome a respiração espontânea não agônica ou mecha-se (mnemônico TRM) e, para não haver a interrupção do resgate por uma identificação errônea de uma dessas respostas, o socorrista deve checar o pulso e observá-lo se está presente.
Quando interromper a RCP?
O(s) socorrista (as) pode interromper as medidas caso estejam em exaustão ou quando for constatado óbito do paciente por um médico ou, no cenário de uma equipe de APH, havendo mudanças de prioridades (risco imediato à vida dos socorristas ou outro paciente em PCR com mais chances de sobrevida).
Os demais elos da corrente de sobrevivência, tanto adulta quanto pediátrica, envolvem o suporte avançado de vida, cuidados pós PCR e recuperação, tópicos que não serão abordados nesse resumo.
Autores, revisores e orientador
Autor(a): João Gabriel Correia Torres
Coautor(a): Maria Eduarda Lehubach Ferreira Prates
Revisor(a): Larissa Melo Targino
Orientadores: Epaminondas Mendes Junior, Tauá Vieira Bahia, Iura Gonzalez Nogueira Alves, Ivan Mattos Paiva Filho
Liga: Liga Acadêmica de Emergências Pré-Hospitalares – LAEPH
Instagram: @laephbahiana
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Referências:
AHA. Adult Basic Life Support. 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment. Recommendations. Circulation. 2020;142 (suppl 1):S41–S91. DOI: 10.1161/CIR.0000000000000892.
Acesso em: 26/10/2021. Disponível em: https://cpr.heart.org/en/resuscitation-science/cpr-and-ecc-guidelines
Protocolo de Suporte Básico de Vida: Protocolo SAMU 192, 2014.
Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da
Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2013.
PALS, Peditrician Advanced Life Support, 2017.
BLS, Basic Life Support, 2015