Tuberculose (TB): definição, epidemiologia e transmissão

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Confira um artigo completo que falamos sobre a Tuberculose para esclarecer todas as suas dúvidas. Ao final, confira alguns materiais educativos para complementar ainda mais os seus estudos.

Boa leitura!

Tuberculose: Manuel Bandeira

“Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

– Diga trinta e três. – Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

– Respire

– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”

Manuel Bandeira foi um dos vários artistas brasileiros atingidos e, ironicamente, inspirados, pela tuberculose na sua época. Sobrevivente, obteve a cura para essa doença que não poupou muita gente no século XX: Castro Alves, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo… Todos, infelizmente, sucumbiram à tuberculose na flor da idade.

De fato, essa doença marcou a vida e esteve presente em muitas obras da literatura, mas o que de fato é a tuberculose e qual a relevância dela no nosso meio? Iremos falar dela nas próximas páginas!

Definição de Tuberculose

A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa, crônica, granulomatosa e necrosante causada pelo bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR) Mycobacterium tuberculosis ou por qualquer patógeno do complexo: Mycobacterium bovis, Mycobacterium africanum, Mycobacterium canetti, Mycobacterium pinnipedi, Mycobaxterium microti e Mycobacterium caprae. No entanto, o patógeno principal é o M. tucerbulosis, também chamado de Bacilo de Koch (BK).

A forma mais comum da doença é a forma pulmonar, mas acometimentos extra-pulmonares também são frequentes e dignos de atenção da saúde pública, como as formas pleural, ganglionar, miliar, osteomuscular, etc.

Epidemiologia da Tuberculose

A tuberculose segue como uma das principais ameaças a saúde pública mundial. Em 2015, cerca de 10,4 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose, 580 mil delas na sua forma multirresistente ou resistente a rifampicina, com 1,4 milhão de mortes.

O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV considerados prioritários para o controle da tuberculose globalmente. Foram 72 mil casos notificados em 2017, e a incidência variou de 10 a 74,7 casos por 100 mil habitantes entre as unidades federais, com um coeficiente de mortalidade de 2,2 mortes por 100 mil habitantes.

Não há uma epidemia de tuberculose no Brasil, mas concentrações dos casos da doença. Pessoas vivendo com HIV, em situações de rua e privadas de liberdade, população indígena, pessoas vivendo em aglomerados ou em situação de pobreza são as mais acometidas pela doença no país.

Agente Etiológico e Transmissão

O M. tuberculosis é fino e ligeiramente curvo. É um bacilo álcool-ácido-resistente, ou seja, retêm coloração mesmo com mistura de álcool e ácido, aeróbio, com parede celular rica em lipídeos (como o ácido micólico), sua parede celular diminui sua permeabilidade aos antibióticos e aumenta sua sobrevivência no interior de macrófagos, o que dificulta sua eliminação.

É transmitido por via aérea de uma pessoa “bacilífera” com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente e estes podem ficar suspensos em pequenas partículas no ar. O termo “bacilífero” se refere a uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea e com amostra positiva no exame de escarro.

Essa transmissão ocorre por via respiratória, por meio da inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro. As partículas menores de bacilos (núcleos de Wells) contêm um a dois bacilos que podem ficar suspensas no ar por horas, capazes de infectar outros indivíduos.

M.Tuberculosis visto no microscópio.

Imagem: M.Tuberculosis visto no microscópio. Fonte: Google imagens.

É por isso que, embora a tuberculose possa se apresentar de diversas formas, a forma pulmonar tem maior relevância no contexto epidemiológico, por ser a que mais frequentemente torna o paciente capaz de transmitir o bacilo.

A pessoa bacilífera pode infectar até 10 a 15 pessoas, em média, de uma comunidade, no período de um ano. Após o início do tratamento, a transmissão cai gradualmente, tornando-se muito baixa após cerca de quinze dias, tornando importante a boa adesão e o acompanhamento por baciloscopia de controle.

Fisiopatologia da Tuberculose

Inicialmente, o M. tuberculosis infecta o organismo e entra nos macrófagos pela fagocitose. A partir daí, ele inibe a maturação do fagossomo e a formação do fagolisossoma, permitindo sua multiplicação dentro desta célula incontroladamente, protegida da ação dos lisossomos. Logo, a infecção primária ocorre ao primeiro contato com o bacilo de Koch, havendo uma reação do sistema imunológico do indivíduo, particularmente por meio da fagocitose, como forma de controlar a infecção.

No entanto, a bactéria é extremamente resistente ao fagossomo e inibe sua maturação, impedindo sua destruição e ficando em sua forma latente. Assim, durante essa infecção primária, ocorre grande disseminação do bacilo pelo corpo de forma oculta.

A infecção pelo M. tuberculosis cursa em etapas, desde a infecção inicial, com ataque aos macrófagos, à ativação de células Th1. Essas células T tanto controlam a infecção ao hospedeiro, como também são causa do dano causado pela doença, gerando granuloma e cavitação.

Há então posterior ativação dos receptores da imunidade inata, iniciando e aumentando este tipo de resposta ao bacilo. Uma resposta Th1 é montada após 3 semanas, e essa resposta Th1 irá produzir o IFN-gama. Este, por sua vez, através de um conjunto de processos, estimula a destruição do macrófago infectado, destruindo organelas danificadas e patógenos intracelulares, como o M. tuberculosis.

Porém, essa mesma resposta Th1 que estimula os macrófagos e destrói micobactérias, gera a formação de granuloma e necrose caseosa. Estes macrófagos, incentivados pelo IFN-gama, se diferenciam em “histiócitos epitelioides”, que se agregam a formam granulomas.

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