Alergologia e imunologia

TESTES PARA COVID-19: QUAIS, QUANDO E PARA QUEM? | Colunistas

TESTES PARA COVID-19: QUAIS, QUANDO E PARA QUEM? | Colunistas

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INTRODUÇÃO

Neste período de pandemia, tenho certeza que você já viu ou ouviu algum colega se desesperando com a notícia de um possível contato com alguém que positivou para covid-19. Geralmente essa pessoa corre para fazer algum teste, mesmo que seja na farmácia, sem nem mesmo entender se esse teste vai conseguir verificar uma possível contaminação, apenas para aliviar a consciência. Outra situação bastante comum é o ponto de interrogação que fica na mente de quem pega os resultados de um teste para covid-19 e não sabe como interpretar. Mas, primeiramente, calma. Vamos falar um pouco nesse texto sobre quais são os possíveis testes para identificar a covid-19, quando eles devem ser feitos, para quem são indicados e como interpretar os resultados.

OS TIPOS DE TESTES PARA COVID-19 EXISTENTES

Nós utilizamos dois tipos de testes: o molecular e o sorológico. O teste molecular, chamado de RT-PCR, identifica a presença do ácido ribonucleico (RNA) do vírus, o material genético do SARS-COV-2, em alguma amostra colhida por meio do swab de nasofaringe (o famoso “cotonetão”). Esse teste é feito em laboratório e o resultado sai em duas horas, porém, como é necessário infraestrutura, pode ser que o resultado demore alguns dias para sair. O outro tipo de teste, o sorológico, é feito com amostras de sangue e pesquisa a presença de anticorpos. Ele pode ser no formato de teste rápido, no qual o resultado sai em alguns minutos, ou com análise laboratorial, que leva mais tempo para ser realizada.

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O TESTE DE BIOLOGIA MOLECULAR (RT-PCR)

O teste considerado como “padrão ouro” para identificar a covid-19, deve ser feito no início da doença, sobretudo na primeira semana, quando a pessoa apresenta grande quantidade de SARS-COV-2 no organismo, preferencialmente entre o 3º e o 7º dia de sintomas. Algumas evidências mostram que ele pode positivar em período anteriores e posteriores a esse, mas isso aumenta a possibilidade de ocorrer um falso negativo (quando a pessoa está com o vírus, mas o teste não identifica). Assim, se você está assintomático mas ainda não está no terceiro dia de sintomas ou já passou do sétimo dia de sintomas, não vale a pena optar pelo RT-PCR pois a carga viral pode estar muito baixa no organismo, o que impossibilitaria a identificação de material genético.

A testagem ocorre por meio de uma amostra coletada via swab de nasofaringe e de orofaringe, ou seja, com um cotonete bem comprido que coleta muco no fundo do nariz e na garganta da pessoa, como mostra a figura 1.

O PCR busca escolher uma parte, um pedacinho, da sequência do RNA do vírus e multiplicá-la no laboratório até que seja possível sua visualização por meio de equipamentos específicos que detectam um sinal luminoso gerado a cada cópia do material genético do vírus durante o PCR. Quando essa luz gerada ultrapassa um valor mínimo, o teste é considerado positivo.

Como o RT-PCR tem um mecanismo complexo, exige conhecimento técnico, equipamentos específicos e infraestrutura e é um pouco caro, ele não pode ser recomendado para todos. Contudo, esse teste é o indicado pela OMS para a prática clínica, visto que permite um diagnóstico ainda na fase aguda da doença, proporcionando uma intervenção clínica e a interrupção da transmissão com medidas de isolamento.

Figura 1 – Coleta de amostra para RT-PCR para covid-19.

OS TESTES SOROLÓGICOS

Os testes sorológicos pesquisam a presença de anticorpos em uma amostra de sangue da pessoa e são feitos a partir da segunda semana de sintomas, quando a quantidade de vírus diminuiu e o organismo começou a produzir anticorpos, principalmente IgM e IgG. Assim, a versão tradicional é feita com uma amostra de punção venosa (um exame de sangue comum) e análise laboratorial. Já a versão de “teste rápido” encontrado em farmácias é feita com sangue capilar, por meio de punção digital (uma picadinha no dedo).

Os primeiros anticorpos produzidos pelo organismo são da classe IgM e, geralmente, podem ser identificados a partir da segunda semana de infecção, sendo produzidos apenas no início da resposta imunológica (fase aguda da doença). Dessa forma, um teste sorológico realizado antes desse período tem grandes chances de ter um resultado negativo, mesmo numa pessoa infectada, porque não houve tempo de o organismo iniciar a produção de anticorpos. Já os anticorpos da classe IgG normalmente aparecem após 11-14 dias de infecção (fase convalescente da doença) e persistem no organismo por mais tempo. Quando um teste sorológico indicar presença de IgM, significa que aquela pessoa está com uma infecção inicial, e quando o teste indicar a presença de IgG, significa que em algum momento apresentou a contaminação. A figura 2 explica um pouco melhor como o resultado do teste sorológico deve ser interpretado.

Esses testes pretendem detectar a presença de anticorpos que reconheçam apenas proteínas da covid-19, assim, consistem em deixar o soro do sangue em contato direto com essas proteínas por um determinado período de tempo. Depois disso, um segundo anticorpo reagente que se liga a IgM ou IgM é adicionado, o qual muda a coloração do ensaio com esta ligação. Dessa maneira, dependendo da intensidade dessa coloração, é possível saber a proporção de anticorpos presentes.

É importante lembrar que a presença desses anticorpos não garante que a pessoa esteja imunologicamente protegida, sendo necessários maiores estudos para evidenciar isso.

Esse tipo de teste não é o mais indicado pela OMS para a prática clínica porque identifica a infecção apenas na fase de recuperação da doença, o que pode ser tarde para uma intervenção clínica ou para interromper a transmissão para outras pessoas. Todavia, o uso desses testes pode auxiliar na identificação de grupos e populações que já tiveram contato com o vírus, permitindo ao gestor de saúde a avaliação da população e a adoção de medidas de controle.

Figura 2 – Interpretação do teste sorológico para covid-19.
Fonte: https://cerpe.com.br/saude/exame-sorologia-covid-19 Acesso: 20/01/2021

QUANDO OS EXAMES DEVEM SER REPETIDOS?

Os testes apresentam uma porcentagem de falha sempre e isso é normal. Todos eles têm uma porcentagem de especificidade, que é a capacidade de identificar APENAS o que deseja ser identificado, e uma porcentagem de sensibilidade, que é a capacidade do teste identificar O QUE deseja ser identificado.

Dessa maneira, podem ocorrer resultados falso-negativos, quando uma pessoa está contaminada, mas o teste não aponta e também podem ocorrer resultados falso-positivos, quando não se possui o vírus, mas o teste identifica isso. Os falso-negativos se mostram quando a testagem é feita num período de tempo indevido para o tipo de teste ou quando há uma falha na identificação dos anticorpos ou do material genético, ou seja, não foi sensível o suficiente. Os falso-positivos são presentes quando o teste identifica outras substâncias que não deveria, ou seja, ele não foi específico o suficiente.

No entanto, os resultados devem ser sempre correlacionados à história clínica do paciente para definição de uma conduta e para a escolha de repetição ou não da testagem por um profissional da saúde.

INDICAÇÃO PARA TESTAGEM DE COVID-19

Como pudemos perceber ao longo desse texto, nem todos são indicados para fazer um teste de covid-19, bem como os tipos diferentes de teste tem indicações diferentes. Assim, podemos dizer que:

  • Se você teve contato com alguém que positivou, mas está assintomático: Não é recomendado fazer nenhum teste ainda. Porém, é importante iniciar um isolamento e esperar a manifestação de sintomas por no mínimo 5-7 dias, visto que é possível contaminar outras pessoas mesmo antes do início dos sintomas.
  • Se você está sintomático, com suspeita de covid-19, mas ainda não passou de 3 dias de sintomas: vale a pena esperar um pouco antes de fazer algum teste, visto que há chances de o RT-PCR ainda não conseguir identificar material genético do vírus e de não haver iniciado a produção de anticorpos, impossibilitando um teste sorológico. Independente disso, o isolamento social é importante e a procura de assistência médica deve acontecer em caso de agravamento dos sintomas.
  • Se você está sintomático, entre o terceiro e o sétimo dia de sintomas: vale a pena fazer o RT-PCR, pois nesse período é possível identificar o vírus. Porém, ainda não é recomendado realizar um teste sorológico, visto que a produção de anticorpos pode não ter começado.
  • Se você esteve sintomático por mais de 7 dias: vale a pena fazer o  teste sorológico, porém, não é mais indicado fazer um RT-PCR, pois provavelmente a produção de anticorpos já foi iniciada mas a carga viral já pode ter diminuído.

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CONCLUINDO…

Se você teve contato com alguém que positivou… calma! Não adianta sair correndo para o pronto socorro ou para a farmácia pra fazer algum teste porque às vezes você só vai gastar dinheiro pra aliviar sua consciência e talvez vá ganhar apenas um resultado negativo que não significa nada. Assim, cada teste tem sua indicação correta para realização. Lembre-se sempre de procurar orientação de profissionais e se informar em meios de comunicação confiáveis.

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.


REFERÊNCIAS

https://portal.fiocruz.br/noticia/testes-para-covid-19-como-sao-e-quando-devem-ser-feitos Acesso em: 20/01/2020

https://www.medicina.ufmg.br/rt-pcr-ou-sorologico-entenda-as-diferencas-entre-os-testes-para-a-covid-19/ Acesso em: 20/01/2020https://vidasaudavel.einstein.br/coronavirus/saiba-como-funciona-o-pcr-exame-para-identificacao-do-novo-coronavirus/ Acesso em: 20/01/2020