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Transtorno da personalidade antissocial | Colunistas

Transtorno da personalidade antissocial | Colunistas

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Conceito

O transtorno da personalidade antissocial é um dos transtornos envolvidos nos transtornos  de personalidade que surge na infância ou no início da adolescência, e continua até o fim da vida do paciente. Os indivíduos que apresentam esse transtorno possuem um padrão difuso de indiferença  e violação dos direitos dos outros membros que convivem com ele. Antigamente, esse padrão era chamado de psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial, sendo mudado, provavelmente, devido ao caráter semântico que essas nomeações adquiriram pela sociedade.

Transtornos de Personalidade

É um grupo no qual os indivíduos possuem um conjunto amplo de comportamentos e experiências internas, reações afetivas e cognitivas que são muito desarmônicas, de padrão persistente difuso e inflexível, desviando-se muito das expectativas da cultura do indivíduo, causando, assim, prejuízo. 

Os transtorno de personalidade são divididos em 3 grupos, também chamados de cluster:

  • A: transtorno esquizóide, esquizotípico, paranóide. Neste grupo fazem parte os indivíduos que parecem esquisitos ou excêntricos.
  • B: transtorno narcisista, borderline, histriônico, e antissocial. Neste grupo fazem parte os indivíduos que possuem características dramáticas, impulsivas, emotivas ou erráticas.
  • C: transtorno da personalidade obsessiva-compulsiva, evitativo, e dependente. Neste grupo fazem parte indivíduos com características de ansiedade e medo. É importante notar que o transtorno de personalidade obsessiva-compulsiva é diferente do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Fisiopatologia

Não se conhece ainda um mecanismo exato do porquê os indivíduos acabam desenvolvendo o transtorno antissocial, porém, analisando os pacientes, foram vistas algumas alterações encefálicas. No transtorno antissocial pode-se ver a presença de lesões na área pré-frontal, especialmente nas porções ventromediais, sendo elas sugestivas do porquê esses pacientes têm um comportamento impulsivo, agressivo, de jocosidade e inadequação social.

Junto a isso, foi visto que os pacientes apresentam uma redução do volume da massa cinzenta pré-frontal, e que ,provavelmente, ela estaria relacionada com a redução da resposta autonômica a um evento estressor que o paciente vivenciasse. O volume da amígdala e do hipocampo posterior também estão diminuídos, além do corpo caloso apresentar anormalidades. Quanto à atividade metabólica encefálica, foi vista que está diminuída em várias estruturas subcorticais do sistema límbico, hipocampo, núcleo caudado e amígdala cerebelar. Além disso, uma das teorias mais aceitas é a da disfunção serotoninérgica, a qual diz que nos indivíduos com transtorno antissocial, há uma grande redução da função da serotonina, causando o comportamento agressivo e impulsivo.

Figura 1: Representação dos processos envolvidos na neurotransmissão serotoninérgica. Fonte: https://www.scielo.br/j/rpc/a/jJYXhCwb7MtTzrGvfHFwHJb/?lang=pt#

Quadro Clínico e Diagnóstico

Normalmente os sinais e sintomas do paciente com transtorno antissocial começam a melhorar com o tempo, e essa evolução tende a ser acelerada quando é feito o seguimento correto. Os grandes marcos desse transtorno são: desrespeito e violação do direito dos outros indivíduos da sociedade e ausência de remorso. 

O diagnóstico do transtorno antissocial é o único dos transtornos de personalidade que deve ser feito obrigatoriamente somente a partir dos 18 anos, e ele é feito de acordo com os critérios estabelecidos pelo DSM 5, são eles: 

  1. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes: 

1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção. 

2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal. 

3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. 

4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas. 

5. Descaso pela segurança de si ou de outros. 

6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras. 

7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas. 

B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. 

C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade. 

D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar.

Seguimento do paciente

O paciente deve ser encaminhado para a psicoterapia, normalmente eles vão para a terapia cognitivo-comportamental (TCC), entretanto, a decisão deve ser tomada de acordo com o caso do paciente, já que a TCC não foca muito no sujeito da terapia, e sim no transtorno, podendo, assim, ser encaminhado para profissionais de outras correntes, como a psicanálise. Aliado a isso, nunca de maneira isolada, pode-se usar estabilizadores de humor (como o lítio 300 mg a 600 mg, ou a Lamotrigina 200 mg/dia), antipsicóticos (como o aripiprazol 2,5 mg, risperidona 0,5 mg a 1 mg, quetiapina 25 mg a 150 mg) ou inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS).

Autor : Arthur de Morais e Silva

Instagram: @arthurdemorais_


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

https://www.scielo.br/j/rpc/a/jJYXhCwb7MtTzrGvfHFwHJb/?lang=pt#

https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/489/pdf/489/Transtornos%20de%20personalidade.pdf

https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-antissocial-tpas

http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf