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Transtorno de Déficit de Atenção em Adultos | Colunistas

Transtorno de Déficit de Atenção em Adultos | Colunistas

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Introdução

O Transtorno de Déficit de Atenção é uma situação prejudicada do neurodesenvolvimento o qual apresenta uma combinação de sintomas de desatenção, de hiperatividade e de impulsividade. Além disso, o TDAH é mais corriqueiro no sexo masculino, com uma proporção de 2:1 em crianças e de 1,6:1 nos adultos. Também é mais frequente que mulheres apresentem os sintomas de desatenção, enquanto os homens apresentem maior hiperatividade, tudo isso ocasiona prejuízos nas diferentes áreas da vida do indivíduo como a social, a acadêmica, a profissional e os relacionamentos interpessoais.

A depender da frequência dos sintomas do TDAH, ele pode se manifestar de diferentes formas: combinada; predominantemente desatenta; predominantemente hiperativa ou impulsiva. Na atual classificação do DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), ele ainda sugere uma classificação do transtorno como leve, moderado e grave, de acordo com a quantidade de sintomas presentes e o grau de comprometimento que os mesmos causam no funcionamento do indivíduo.

Durante muito tempo, acreditou-se que o TDAH era um tema restrito à psiquiatria da infância e do adolescente, entretanto devido a uma série de estudos e evidências atuais, sabe-se que existe um TDAH que pode começar na fase adulta ou pode surgir um TDAH que na infância os sintomas eram leves, porém ficam mais evidentes na vida adulta. Assim, existem muitos adultos que embora capacitados e inteligentes, sofrem com os sintomas da doença e são taxados como irresponsáveis, preguiçosos e desleixados, todavia eles apresentam esse quadro neurobiológico que não está sendo tratado. Logo, esse texto irá percorrer sobre o quadro clínico, comorbidades relacionadas com o transtorno e as consequências funcionais do TDAH em adultos.

Quadro Clínico

De maneira geral, o sintoma de desatenção é mais prevalente que o da hiperatividade nos adultos e embora a desatenção se manifeste em vários espectros da vida, alguns pacientes relatam que ela é diminuída quando estão em atividades estimulantes e prazerosas. A desatenção no TDAH demonstra que as funções executivas estão prejudicadas. Tais funções se relacionam ao cognitivo do planejamento, da execução e da iniciação de tarefas, como também das habilidades de organização, do planejamento temporal, e da persistência em executar atividades. Dessa forma, adultos que apresentam o transtorno, em que predomina a falta de atenção, não conseguem terminar atividades em tempo hábil e tomar decisões, e é comum que sempre estejam atrasados para compromissos e que esqueçam tarefas planejadas, frequentemente podem ser julgadas como pessoas preguiçosas, desinteressadas e desorganizadas.

No adulto, a hiperatividade se apresenta, comumente, por uma dificuldade em se manter tranquilo, excesso de atividades laborais. Além disso, pode haver alterações no sono pela dificuldade que essas pessoas encontram para manter um horário para dormir, não acordar em horários previstos e ter sonolência diurna. Já os traços de impulsividade no adulto podem ocorrer pela busca incessante por prazer imediato e pela frequente troca de projetos e objetivos. Não somente isso, como também esse sintoma pode demonstrar no indivíduo o gasto financeiro exacerbado, troca incessante de empregos, términos abruptos e corriqueiro de relacionamentos amorosos, também pode se apresentar na fala, como excessivamente falantes.  

Outras comorbidades

Transtornos de ansiedade e de depressão podem atingir uma minoria de pessoas com TDAH, porém a frequência é maior que na população em geral. O transtorno explosivo intermitente também ocorre em uma minoria de adultos com TDAH, entretanto as taxas são acima dos níveis da população. Os transtornos por abuso de substância são mais frequentes entre adultos com TDAH do que nos níveis populacionais, embora apresente em apenas uma minoria deles. Nos adultos, transtorno da personalidade antissocial, outros transtornos da personalidade, o transtorno obsessivo-compulsivo, os transtornos de tique e o transtorno do espectro autista podem ser comórbidos com TDAH. Ademais, 75% dos adultos com TDAH apresentam alguma comorbidade e os mais comuns são: alteração no humor, ansiedade, dislexia e vício em alguma substância química.

Consequências Funcionais do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade

 independente da faixa etária do indivíduo com TDAH, a pessoa com o transtorno será prejudicada em diferentes espectros do desenvolvimento: acadêmico, social, profissional ou interpessoal, causando, dessa forma, sofrimento à pessoa com o transtorno. De maneira geral, a pessoa com TDAH pode apresentar desempenho muito abaixo do esperado em relação às outras pessoas no que tange às atividades acadêmicas, falta de sucesso profissional, uma maior probabilidade ao desemprego, além de problemas interpessoais e também relacionamentos amorosos rápidos, além de buscarem práticas sexuais de risco, como ter relações sem proteção e trocando vários parceiros, também é frequente se envolverem em problemas relacionados ao trânsito, como acidentes ou imprudência.

Outrossim, geralmente adultos com TDAH têm um comprometimento em vários espectros de sua vida, eles tendem a apresentar uma baixa autoestima crônica e com bastante frequência podem desenvolver quadros depressivos, ansiedade e fobia social, buscando o isolamento. Também é relatado que essas pessoas façam abuso de álcool e drogas para aliviar a dor e a angústia gerados pelos sintomas. Esse uso abusivo de substâncias também está relacionado com a compulsão. Também pode existir uma maior probabilidade de obesidade, pois podem apresentar compulsão alimentar.

Além disso, as relações familiares podem se caracterizar por discórdia e interações negativas, as relações com os pais costumam ser conturbadas devido a rejeição, negligência ou provocações por parte daqueles, em relação ao indivíduo com TDAH. A forma mais grave do transtorno é marcadamente prejudicial, afetando a adaptação social, familiar, escolar e profissional. As dificuldades acadêmicas, problemas escolares e o descaso pelos colegas tendem a estar principalmente relacionados aos sintomas elevados de desatenção, ao passo que rejeição por colegas e, em menor grau, lesões acidentais são mais proeminentes com sintomas acentuados de hiperatividade ou impulsividade.

Conclusão

Infere-se, portanto, que o Transtorno de Deficiência de Atenção e Hiperatividade se baseia em três pilares: a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Cada indivíduo que for afetado pelo TDAH terá um desses problemas mais relevantes que outros, ou até mesmo possuir essas três características. Nota-se que os indivíduos com TDAH apresentam mais comorbidades psiquiátricas quando comparados aos sujeitos sem transtorno, o que demonstra que a qualidade de vida deles caem drasticamente em todas as áreas da vida. Por isso, é essencial que quando descoberto o transtorno, a pessoa busque ajuda para que seja analisado em qual grupo e subgrupo está classificado seu transtorno, o perfil das comorbidade, como também os prejuízos e prognósticos ou tratamentos. Nessa perspectiva, o tratamento para o TDAH deve ser feito assim que há uma desconfiança dos sintomas, a fim de iniciar tratamento eficaz para a problemática e evitar que o quadro se agrave e tragam prejuízos irreversíveis.

Autor: Suzana Patrícia Santos Rodrigues

 Instagram: @supamedjv  


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências Bibliográficas

  • Associação de Psiquiatria Americana. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Wanshington: APA; 2013
  • Transtorno de déficit de Atenção/hiperatividade: Teoria e Clínica. ANTONIO EGIDIO NARDI • JOÃO QUEVEDO ANTÔNIO GERALDO DA SILVA / / ORGANIZADORES; 2015
  • Carolina Xavier Lima Castro; Ricardo Franco de Lima, ARTIGO DE REVISÃO: Consequências do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na idade adulta; revista psicopedagogia, São Paulo 2018